A ajudar a estes resultados está uma oposição que “ainda não conseguiu descolar”, com baixos índices de confiança e a percepção negativa da performance financeira do anterior governo. Quanto às preocupações, a questão do emprego continua a tirar o sono a três em cada quatro cabo-verdianos. Estes e outros dados foram aferidos em sondagem da Pitagórica, realizada entre os dias 11 de Junho e 2 de Julho de 2018, para “Avaliação da actuação do Governo e da oposição bem como intenção de voto nas legislativas”.
No hipotético cenário de Cabo Verde ser hoje chamado às urnas, o MpD de Ulisses Correia e Silva voltaria a ser escolhido para liderar os destinos do país. Apesar de algum descontentamento, este governo tem conseguido convencer o eleitorado. Quanto ao PAICV de Janira Hopffer Almada, manteria na prática a votação que teve nesse período.
Recorde-se que nas legislativas de 2016, os resultados definitivos, publicados no BO, deram vitória ao MpD com 53,58% dos votos, seguido do PAICV com 37,53% e da UCID 6,75%.
De acordo com as intenções de voto agora aferidas (ver tabela), o MpD contaria com 40,8% dos votos directos podendo ir até os 46,7% com a distribuição do voto dos indecisos. Já o PAICV fica-se pelos 38% e a UCID, 5,7%. Mais de um em cada 10 cabo-verdianos (12,7%) diz estar indeciso sobre em quem votar. A margem de erro é de 1,42%, sendo que o Universo da sondagem são os Eleitores recenseados em Cabo Verde, e a amostra de 4940 inquéritos.
Santiago Sul (com 44,9% dos votos directos), Boa Vista (44,2%) e Fogo (42,1%) são os círculos onde MpD teria melhores resultados. Do outro lado, estão Brava (26,6%), São Vicente (28,3%), e Sal (33,3%), onde MpD soma menos intenções de voto. Mesmo assim, é de salientar que o MpD venceria em todos os círculos, excepto no Maio, onde os seus 40,8% seriam ultrapassados pelo PAICV (42,3%). É também no Maio, ilha onde o MpD costumava ganhar, que agora o PAICV recolhe maiores intenções de voto, seguido do Fogo (37,2%) e Santiago Sul (36,2%).
Governo com avaliação positiva
As intenções de voto deverão ser consequência da avaliação que os cabo-verdianos fazem do governo, e que é positiva. Nesta avaliação, entretanto, surgem algumas peculiaridades. Como se lê no sumário executivo, “curiosamente o país parece dividido a meio com as ilhas de Sotavento a avaliarem muito melhor o Governo que as ilhas do Barlavento. A ilha do Fogo é talvez a expressão máxima dessa surpresa, uma ilha tradicionalmente associada ao PAICV surge como uma das regiões que melhor avalia o Governo. Em sentido contrário Boa Vista, Santo Antão e São Vicente tradicionalmente associadas ao MpD surgem com as ilhas como pior avaliação do Governo”.
Olhando os números, mais de 60% considera a actuação do governo muito boa (4%) ou boa (59%). O Fogo é, como referido, uma surpresa. Nessa ilha, 73% dos inquiridos avaliam positivamente o governo, sendo seguidos da Brava (71%), Santiago Sul (70%) e Maio (69%) – embora como anteriormente apontado, nesta ilha o MpD perderia eleições, se fossem hoje realizadas. A avaliação mais negativa é feita na Boa Vista (40% de aprovação), São Vicente (51%) e Santo Antão (53%).
Um outro dado interessante é que são as classes sociais mais baixas quem melhor avalia o governo, e também onde este somaria mais percentagem de votos.
Entretanto, “Cabo Verde mantém-se um país optimista. Apenas 1 em cada 10 Cabo-Verdianos pensam que o próximo ano vai ser pior que o actual”, diz a sondagem.
O inquérito estendeu-se também a uma avaliação sobre o desempenho do anterior governo. Assim, 43% avaliam negativamente a situação financeira deixada pelo executivo de José Maria Neves. Para 45% a situação era razoável e apenas 12% a consideram boa (11%) ou muito boa.
“Todos os círculos consideram que a situação financeira deixada pelo governo anterior é má”, de acordo com a sondagem, mas o consenso geral apresenta uma excepção quando é tida em conta a vertente partidária: “entre os eleitores do PAICV uma pequena maioria pensa que a situação deixada foi boa” (23% contra 16%, que dizem que foi má).
O caso da TACV foi também objecto de inquérito. “Maioria considera que o anterior governo deixou a TACV em má posição financeira”, é a conclusão. 63% dos inquiridos aponta que o anterior governo deixou a situação financeira da TACV em mau (39%) ou muito mau estado (24%).
Primeiro Ministro passa “à rasca”
A sondagem avaliou também o Primeiro-ministro, realçando que “mais de metade confiam no Primeiro Ministro”. Mas a diferença é pouca (51% contra 49% que não confiam, ou confiam pouco). De acordo com os dados, 51% diz então: confiar totalmente (2%), ter muita confiança (15%) ou ter alguma confiança (34%).
“Homens, mais velhos e classe social média são os que mais confiam no PM”, conclui ainda o relatório da sondagem, acrescentando que “os eleitores de Fogo (60%) e Brava (74%) são os que têm mais confiança no Primeiro Ministro”.
Oposição não “descola”
Por seu turno, a Oposição, conforme refere o sumário da sondagem, ainda não conseguiu beneficiar do desgaste dos dois primeiros anos de governo. Em grande parte, isso poderá dever-se à percepção, já apontada, de que o “anterior governo deixou a situação financeira do país num estado negativo bem como a transportadora aérea falida”.
Os líderes dos partidos da oposição, Janira Hopffer Almada (PAICV) e António Monteiro (UCID), também não parecem recolher um grau de confiança suficiente junto dos cabo-verdianos para poderem ser eleitos Primeiro-ministro. É que segundo os dados, a maioria do eleitorado não confia em nenhum dos dois (61% diz não confiar em JHA e 68% em António Monteiro).
Janira Hopffer Almada, enquanto líder da oposição, está, de acordo com o inquérito, a corresponder às expectativas de 1 em cada 3 eleitores. Não obstante essa fraca avaliação, os resultados da sondagem mostram que JHA continua a manter uma larga base de apoio junto do seu eleitorado: “apenas 12% dos eleitores do PAICV defendem a sua saída”.
A presidente dos tambarinas continua a ser a escolha para a liderança do partido (62%), sendo que o nome de Aristides Lima surge como outra opção viável, “ainda que com larga distância (cerca de 20 pp)”. Já o eleitorado do MpD preferiria ter como líder da oposição Aristides Lima.
Apesar de tudo, há a referir ainda que mais de metade (55%) dos entrevistados estão razoavelmente satisfeitos com a oposição, mesmo tendo em conta, como se pode ver no gráfico, que as avaliações negativas superam em 5pp as positivas.
Autarquias
A sondagem avaliou também as performances dos presidentes das câmaras de 18 dos 22 concelhos do país, sendo que no geral a avaliação é positiva. Sem avançar quais os quatro municípios que ficaram de fora, destacam-se pela positiva as performances em São Domingos e Praia. Negativamente avaliados estão os municípios de Tarrafal, Boa Vista, S. Vicente e Ribeira Grande de Santiago.
Desemprego, desemprego…
Em termos sociais, o emprego continua a ser a principal preocupação dos cabo-verdianos. Outros problemas que surgem destacados, e referidos de forma espontânea, são a segurança e a saúde.
Respondendo à questão “pensando agora na sua vida atual, quais são os 3 problemas que mais o preocupam?”, 3 em cada 4 inquiridos, no país, aponta o desemprego. É seguido, então, pela insegurança (32%), a Saúde (22%), a Droga (18%), a Violência (11%) e, por fim, a falta de água canalizada (10%).
Um olhar mais localizado mostra que o problema do desemprego é motivo de maior preocupação em Santiago Norte (87% dos inquiridos designam-o), sendo que no Sal é apontado por menos de metade dos inquiridos (49%).
As ilhas apresentam, pois, valores bastante diferentes, nomeadamente, Santo Antão que elege como segundo problema a Droga (42%), sendo este o valor mais alto no país. O Ambiente de Insegurança no Sal (51%) também está em destaque, seguido por Santiago, Boa Vista e Fogo.
Em São Vicente, por exemplo, destaca-se a “falta de dinheiro” (17%), e não aparece sequer a “falta de água canalizada”.
A Saúde é referido na Brava, Sal e São Nicolau por cerca do dobro do resto do país, 50, 43 e 40%, respectivamente.
FICHA TÉCNICA: Foram inquiridos indivíduos recenseados em Santo Antão, S. Vicente, Sal, Boa Vista, Maio, Santiago Norte, Santiago Sul, Fogo e Brava. Foi utilizada uma amostragem mista, estratificada por concelho de recenseamento e com quotas forçadas de sexo e idade. O entrevistado foi seleccionado de acordo com as quotas estipuladas. Na avaliação global dos resultados, foi utilizado um ponderador para recalibrar a amostra de acordo com os pesos dos universos. Foram realizadas entrevistas F2F – face to face, por entrevistadores seleccionados e supervisionados. A amostra total obtida é de 4940 indivíduos. Este valor traduz um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ± 1,42%. A recolha da informação foi da responsabilidade da Pitagórica. A amostra foi recolhida entre os dias 11 de Junho a 2 de Julho de 2018.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 868 de 18 de Julho de 2018.