Mensagem de ano novo do Presidente da República

PorExpresso das Ilhas,1 jan 2019 10:49

Palácio da Presidência
Palácio da Presidência

Mensagem completa de Jorge Carlos Fonseca ao país, por ocasião do novo ano.

Aqueles que se encontram em situações mais difíceis, tais como doença, carência de meios materiais básicos de subsistência, detidos ou presos ou em situações de perda de amigos ou familiares muito próximos, exprimo aqui os meus votos de solidariedade e o meu mais sincero desejo que encontrem, tão rapidamente quanto possível, o conforto material e moral de que necessitam. A vida é feita de esperanças e vale a pena viver todos os dias na convicção de que o futuro nos reserva coisas melhores.

Por isso, faz também todo o sentido nesta época festiva, mais uma vez fazer um apelo a todos os cabo-verdianos, ao sentido do seu dever social, ao seu dever para com o seu próximo, de partilha de tempo, afecto e bens materiais, pois também que isso é alimento da alma, e só isso nos confere o verdadeiro estatuto de ser humano e de cidadão.

Nós desumanizamos quando nos desinteressamos do destino dos outros, quando os problemas graves dos outros não encontram eco em nós, quando a miséria, a afronta e a humilhação que os outros experimentam em nós não causa sofrimento ou indignação alguma! Desumanizamo-nos também todos os dias quando passeamos a nossa indiferença pelas avenidas do sofrimento que nos rodeiam, sem perturbar ainda que levemente a nossa caminhada.
Um pouco mais de nós aos outros, mas com sentimento de solidariedade e de um dever moral e social, tem força suficiente para ajudar a resolver vários problemas graves que centenas ou mesmo milhares de pessoas ainda enfrentam, infelizmente, em Cabo Verde.
Todo o nosso apoio, porém, não isenta o Estado do seu dever imperioso de cuidar daqueles que mais necessitam, de investir mais nos jovens, criando um ambiente de oportunidades para a qualificação, o emprego e a criatividade, de promover medidas de crescimento económico e de redistribuição de rendimentos e também de prestar assistência às pessoas em situações especiais de vulnerabilidade.

Caros conterrâneos,
Em 2018 tivemos o segundo ano consecutivo de seca, com as consequências negativas que todos nós conhecemos perfeitamente. Como fiz no passado, mais uma vez incito as autoridades a prosseguir com medidas que mitiguem os impactos negativos desta realidade recorrente em Cabo Verde, e reforçar o seu apoio ao mundo rural, onde vive uma grande parta das nossas gentes. É preciso que não tenhamos ilusões, só a melhoria de condições de vida nas zonas rurais tem a capacidade de diminuir a enorme pressão sobre os grandes centros urbanos que se tem sentido nas últimas décadas em Cabo Verde. O mundo rural não pode ser perspectivado apenas numa dimensão económica e financeira, mas também social e cultural, e nos seus efeitos a longo prazo.

Faço votos para que o ano de 2019 seja um ano em que começaremos a sentir os efeitos tão desejados por todos de regularização da ligação entre as nossas ilhas. É uma questão com enorme impacto social, mas também económico, pois um mercado interno relativamente pequeno é mais reduzido ainda quando ele fragmentado. Vários empreendimentos nacionais só se viabilizam na lógica de uma circulação célere, previsível e regular dos bens e serviços entre as várias ilhas do nosso Cabo Verde. Fez bem o Governo em assumir essa matéria como essencial para essa legislatura e aguardamos ansiosamente pelos resultados já a curto prazo.
Também registamos, com agrado, a continuação da tendência de crescimento da economia em 2018. É importante intensificar ainda mais esse crescimento e diversificar as actividades económicas que lhe dão suporte e, especialmente, não perder nunca de vista que o crescimento só ganha sentido quando é acompanhado de medidas que assegurem vantagens globais para a sociedade e para todos os cidadãos.
Neste sentido, regozijamo-nos com os esforços de reconversão do bairro de Boa Esperança na Boavista e de áreas degradadas na ilha do Sal e incentivamos as autoridades centrais e municipais a desenvolver políticas de inclusão nessas áreas e a adoptar medidas preventivas de situações idênticas em novos investimentos turísticos.

Prezados cabo-verdianos,
Pela via do crescimento económico podemos enfrentar o grave problema do desemprego que continua a ser uma das grandes preocupações dos cabo-verdianos, especialmente dos mais jovens. Mas, igualmente, há que adoptar políticas activas de fomento do emprego, como as contempladas no Orçamento de Estado para 2019, que devem ser concretizadas com muita determinação e, se possível, ampliadas.
A segurança continua a ser, caros concidadãos, uma das preocupações maiores da nossa sociedade. Aplaudimos muito vivamente as medidas levadas a cabo e congratulámo-nos com os resultados alcançados. Hoje é menor o sentimento de insegurança, mas ainda o nível de insegurança, especialmente nos grandes centros urbanos, é bem elevado. Temos capacidade fazer mais e de conseguir mais ainda nessa área tão sensível e cara aos cabo-verdianos.
Porém, temos de ter a consciência de que o sucesso do combate à insegurança vai muito além das necessárias medidas repressivas ou dissuasivas, da responsabilidade do Estado. É, também, fundamental o envolvimento da sociedade, a educação na família, a participação dos parceiros sociais com interesse na matéria, a colaboração das escolas na formulação dos planos curriculares e na determinação do perfil dos educadores, o envolvimento dos órgãos de comunicação social.
Com muita preocupação também verificamos que a violência contra a mulher assume proporções inaceitáveis e que o abuso sexual de menores continua a manchar a nossa sociedade. Actos que repugnam a nossa consciência e apela-nos a uma séria e aturada reflexão sobre tais fenómenos, criando um ambiente institucional e normativo mais eficiente nesse combate. A complexidade dessas situações quase sempre relacionadas com o uso abusivo de substâncias psicoativas, com destaque para as bebidas alcoólicas, interpela-nos de forma muito incisiva.
Com vista a contribuir para o debate dessa inquietante situação e para uma participação activa da sociedade na resolução do problema da violência, promoverei, no ano que agora começa, uma grande jornada de reflexão sobre estas questões, com a participação de académicos, ONG, organismos estatais, entidades religiosas e às vítimas de tais práticas, para, em conjunto, buscarmos os caminhos para se fazer face a essa dura e terrível realidade.
Ao lado de grandes questões de interesse para a Juventude, esse tema será um dos assuntos a debater durante um Fórum da Juventude da CPLP e da CEDEAO que patrocinarei e terá lugar em Cabo Verde também no próximo ano.
Caros conterrâneos
Prezados amigos
O ano de 2018 foi muito importante para a nossa cultura. O escritor Germano Almeida foi galardoado com o mais prestigiado prémio literário da língua portuguesa-o Premio Camões- que pela segunda vez foi atribuído a um escritor cabo-verdiano, o que constitui motivo de grande orgulho para todos nós.
O poeta José Luiz Tavares também foi, recentemente, distinguido com o prémio Graça Moura, para gáudio dos amantes da cultura cabo-verdiana.
A candidatura da Morna, expressão profunda e autêntica da nossa Alma, a Património Imaterial da Humanidade, depois de importante trabalho de organização do respectivo processo, foi apresentada à Unesco que, esperamos, este ano, reconhecerá formalmente uma realidade que, cada vez mais, se impõe de modo universalmente.
Nas áreas da música, da dança, do teatro, da literatura e das artes plásticas, a actividade dos nossos criadores mantém-se profícua. Desejo que no 2019 os fazedores de cultura continuem a encontrar inspiração para que a qualidade seja cada vez mais a pedra de toque de todo o seu processo criativo.
O desporto paralímpico esteve em destaque em 2018.
Gracilino Barbosa conquistou medalhas de ouro, prata e bronze no Campeonato do Mundo para Atletas com Deficiência Intelectual. A equipa Nacional ganhou medalhas de ouro e de bronze no Grande Prémio de Tunes e o grupo Mon na Roda conquistou medalhas de prata e bronze no Campeonato Internacional de Dança Desportiva em cadeira de roda.
Igualmente atletas olímpicos de andebol feminino e Emilise Soares em karaté, conseguiram medalhas de prata nos jogos africanos da Juventude.

Caros Amigos
A constituição e apresentação da Seleção Nacional de futebol feminino, passo muito importante para a afirmação das mulheres na esfera desportiva, foi, sem dúvida, o grande destaque desportivo deste ano que acaba de terminar.
No próximo ano, Cabo Verde será palco de importantes eventos desportivos internacionais.
A ilha do Sal receberá, em Junho, os Primeiros Jogos Africanos de Praia organizados pelo Comité Olímpico Cabo-verdiano e que deverá reunir todos os Comités Olímpicos Africanos à frente de largas centenas de jovens do nosso continente.
Na cidade da Praia, terá lugar, no próximo mês de Abril, uma importante competição internacional de futebol sub-16, a Africa Youth Cup, que conta com a participação de importantes clubes da Europa, África e América Latina e com o Alto Patrocínio do Presidente da República.
A cidade da Praia, igualmente, sediará no próximo mês de Outubro a Liga Africana dos Clubes Campeões de Andebol, da qual participarão meio milhar de jovens e dirigentes.
Devemos empenhar-nos todos para que esses eventos constituam sucessos importantes para o desporto, para a confraternização entre jovens e para a imagem do nosso país.

Caros conterrâneos nas ilhas e na imensa diáspora
Como Chefe de Estado assumo o compromisso de fazer ainda mais por vós e para o meu país Cabo Verde no ano de 2019, sempre sob a mesma linha orientadora: estar perto das pessoas e atento aos seus problemas, dos jovens, das mulheres, dos trabalhadores, dos emigrantes, dos empresários, das pessoas com deficiência, dos cidadãos de mundo rural, dos comerciantes, dos rabidantes, dos desportistas, dos desempregados, dos idosos, enfim, de todos os cabo-verdianos. Atento para ajudar na construção de soluções, para fazer ouvir a minha voz e influenciar positivamente para que os cabo-verdianos tenham as condições que lhes permitam, cada um ao seu jeito, construir as veredas da felicidade.
Renovo a todos os votos de muita saúde e felicidades para todos os cabo-verdianos e respectivas famílias em Cabo Verde e no exterior, e também para os amigos que contribuem para que continuemos a ser uma sociedade livre, democrática, estável, coesa, em busca do desenvolvimento inclusivo.
FELIZ E PRÓSPERO 2019
VIVA A DEMOCRACIA E VIVA CABO VERDE

Jorge Carlos Fonseca

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Autoria:Expresso das Ilhas,1 jan 2019 10:49

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  22 set 2019 23:22

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