Segundo o Chefe de Estado, não obstante “os desafios a vencer”, o indicador mais fiável da robustez da democracia Cabo-verdiana é o facto de os processos eleitorais se terem transformado “num costume”.
“É necessário celebrar, festejar esta importantíssima conquista. Ela mudou, de forma muito significativa, a realidade política, social e cultural de Cabo Verde, libertou energias, ampliou e desbravou horizontes, favoreceu a criação de um poder local autónomo, a luta contra as discriminações de género, permitiu colocar a um nível mais elevado os processos de realização pessoal e colectiva e potenciou as condições para que pudéssemos criar uma Nação moderna, uma economia competitiva e um Cabo Verde moderno”, afirma.
O Presidente chama a atenção para os desafios que se apresentam em tempos de crise e que podem criar as condições para a propagação de extremismos populistas e de discursos incendiários, com ideias antidemocráticas
“Nestes tempos importa que os responsáveis políticos e sociais saibam distinguir o trigo do joio, se imponham limites, verdadeiras linhas vermelhas, pois o país está e deve estar acima de tudo. Não vale tudo, os fins não justificam os meios, pois se é certo que os fins geralmente são considerados mais importantes do que os meios, porém, estou convencido que as nossas estruturas e estatura morais se definem mais pelos meios que empregamos do que pelos fins que prosseguimos, sublinhou.
“De um modo geral, os períodos de crise social e as inevitáveis limitações ao normal funcionamento dos sistemas democráticos são aproveitados para a difusão de ideias contrárias aos princípios e valores democráticos”, acrescenta.
Segundo Jorge Carlos Fonseca, “os democratas devem estar muito atentos e combater tais propostas e tentações, através da pedagogia paciente dos valores da liberdade e da democracia, de modo a retirar argumentos aos mentores do ideário e das receitas anti-democráticos”.
No seu discurso, o Presidente da República recordou que 2021 será um ano de eleições legislativas e presidenciais, marcadas para os meses de Abril e de Outubro, e lembrou que a “diabolização” dos adversários feita por responsáveis políticos tem grandes custos sociais e políticos.
“Obviamente que o combate político impõe clareza e nele ninguém de bom senso espera ver simplesmente espelhadas a amizade e a camaradagem. Isso representaria singela ingenuidade. Mas entre o discurso forte que mostra a insensatez ou mediocridade das medidas ou propostas políticas do adversário e o discurso político que transforma o oponente em inimigo de Cabo Verde a abater, vai um grande passo e torna mais difícil a convivência democrática na normalidade da nossa vida pós-eleições, especialmente quando se mostra necessária a busca de soluções consensuais para melhorar a vida concreta dos cabo-verdianos”, alerta.
Jorge Carlos Fonseca defende que a incerteza quanto ao futuro, devido à ocorrência de fenómenos imprevisíveis, “não nos deve desviar do fundamental que é a construção de uma sociedade livre e democrático, justo, moderno e competitivo”.