“Nós cumprimos dentro das contingências do país. A situação que o país viveu foi extraordinária, excepcional. Nunca tinha acontecido. Nenhum governo atravessou períodos de crise tão graves como o nosso. Nós herdamos uma crise económica e social em 2016, tivemos três anos de seca – as piores dos últimos 37 anos –, e depois um ano de pandemia”. Foi este o resumo que o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, fez, em linhas gerais, da governação ao longo dos últimos cinco anos.
Apesar destes factores negativos o primeiro-ministro declarou que, por outro lado, “a economia cresceu, criamos 26 mil empregos nos sectores não agrários. É evidente que a agricultura fez perder 15 mil empregos. Para conseguirmos chegar à meta que nos comprometemos de 45 mil empregos era preciso que não houvesse a grave crise no sector agrário. Se não fosse isso teríamos atingido esse valor”.
Depois, reforçou, a economia nacional “estava a crescer bem” atingindo os 5,7% em 2019 e os 5,9% “no primeiro trimestre de 2020”. Valores de crescimento que a pandemia veio destruir.
Como ganhos da governação, durante esta IX Legislatura, Ulisses Correia e Silva destacou “os fortes investimentos na inclusão social, o rendimento dos cabo-verdianos aumentou, investimos nas transferências às famílias, desde o rendimento social de inclusão, o ensino gratuito, a taxa moderadora de saúde, programas de inclusão produtiva que tiveram efeito na vida das pessoas”.
“A saúde melhorou”, continuou o primeiro-ministro destacando também “a melhoria significativa na segurança. Comparar 2015 com hoje é completamente diferente em termos de tranquilidade e segurança dos cidadãos”. Quanto à educação, “houve um forte investimento na educação inclusiva e de qualidade”.
“Não atingimos 100%, não era possível”, reconheceu Ulisses Correia e Silva. “Não era possível cumprirmos todas as nossas promessas num quadro de pandemia e num quadro de secas severas”.
Ainda assim, garante Ulisses Correia e Silva “fizemos tudo o que estava ao nosso alcance”.
Dependência do turismo
A pandemia, defendeu, veio mostrar que a dependência da economia nacional sobre um único sector, como é o caso do turismo, um cenário que tem de ser mudado. Ulisses Correia e Silva reconhece o problema mas não deixa de lembrar que “todos os países do mundo, mesmo os mais desenvolvidos, tiveram as suas economias atingidas. Este não é só um problema de diversificação. É do impacto forte da pandemia sobre economias comos os EUA, o Japão ou os países europeus”.
No caso de Cabo Verde “é claro que as nossas vulnerabilidades são muitas e sendo o turismo fortemente atingido pela pandemia isso afectou todo o resto da economia”.
É, por isso, «necessário diversificar mais», apontou Ulisses Correia e Silva. «Mesmo o turismo deve diversificar mais em termos de produtos, de destinos» sendo também necessários «fortes investimentos na economia azul, na economia digital, termos uma agricultura muito mais produtiva e resiliente. Áreas em que estamos a trabalhar e que queremos reforçar no próximo mandato», concluiu.
Debate na Assembleia
As declarações do primeiro-ministro foram como que uma antevisão para o debate que hoje acontece na Assembleia Nacional.
E se do lado do governo a avaliação é positiva, o PAICV tem outra visão.
Esta terça-feira, em conferência de imprensa sobre as jornadas parlamentares, Rui Semedo criticou a gestão feita pelo governo ao longo de 2016 até agora.
“Se quisermos fazer um balanço desta legislatura podemos dizer que foram minadas as bases da confiança, foram postos em causa os fundamentos da credibilidade e governou-se com propostas diferentes das que foram feitas na campanha eleitoral. Portanto, foi posta em causa também a verdade eleitoral. As propostas mais emblemáticas foram falhadas”, apontou Rui Semedo em conferência de imprensa de balanço das jornadas parlamentares do PAICV.
Como exemplo, o líder parlamentar do PAICV citou a proposta do crescimento a 7% por ano; a proposta de garantir os 45 mil postos de trabalho; a proposta de controlar o défice, de diminuir a dívida pública e de se resolver os problemas de transporte, como aquelas que não foram cumpridas.
Já do lado do MpD, Joana Rosa reconheceu os desafios da governação ao longo dos últimos cinco anos mas não deixou de fazer uma avaliação positiva.
“A governação 2026/2021 teve muitos desafios, mas esses desafios serviram para que o MpD enquanto governo pudesse mostrar aos cabo-verdianos a sua garra, a sua determinação em trabalhar dia e noite para o desenvolvimento do país. Tivemos três anos de seca, chuvas torrenciais em Santo Antão e agora a pandemia. Temos que dividir o balanço em como encontramos o país em 2016, um país com alta taxa de desemprego, a mais alta na história deste país; um crescimento minguado de 1 % e em 2019 já tínhamos um crescimento aproximadamente 6%, crescemos em quatro anos seis vezes mais”, disse Joana Rosa.
*Com Sheilla Ribeiro
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1008 de 24 de Março de 2021.