“Trabalhamos na ideia de termos um PAICV cada vez mais presente”

PorAndre Amaral,16 abr 2022 8:26

XVII Congresso do PAICV, que se realizou na Praia, no fim-de-semana passado, legitimou Rui Semedo como presidente do partido.

A questão que agora se coloca é como vai ser o PAICV liderado por Rui Semedo.

“Nós trabalhamos na ideia de termos um PAICV cada vez mais presente, mais activo. Um partido que inova e que se moderniza”, começa por dizer Rui Semedo nesta conversa com o Expresso das Ilhas.

A reinvenção do partido é outra das características que Rui Semedo quer transmitir ao PAICV sob a sua liderança, porque “os partidos vão actuando de acordo com as etapas de desenvolvimento do país. Acontecem mudanças muito rápidas, quer a nível interno quer a nível externo” e, por isso, “os partidos têm de ajustar os passos com as transformações e mudança e serem um elemento de transformação social, política e económica”.

Rui Semedo garante que, em conjunto com a sua equipa, procura soluções “para inovar” utilizando novas ferramentas tecnológicas para “estar mais perto dos militantes”.

Por outro lado, diz, “há um desafio grande que nós colocamos desde o início que é o desafio da formação para a acção. Os militantes precisam de actualizar o seu conhecimento político” e o próprio partido “precisa de ter instrumentos que permitam agir sobre a sociedade”.

O presidente do PAICV quer também um partido “unido e coeso” e que aproveite “todas as experiências e capacidades dos militantes para poder agir como um grupo mais coeso e dialogante tanto internamente como com outros actores políticos e com a sociedade”.

“Fizemos o Congresso num contexto difícil. Tivemos de adiar, porque era para ser em Janeiro, mas mesmo assim foi muito participado e houve muitas intervenções no sentido de contribuir para o enriquecimento das propostas e para as conclusões que saíram do Congresso e que vão ter impacto na vida interna do partido e nas propostas que vamos fazer para o país”.

Rui Semedo diz-se, por isso, “muito satisfeito”. Fizemos eleições muito participadas em que tivemos votos favoráveis de forma expressiva nos órgãos de direcção que apresentamos. Há votos discordantes, o que é normal em democracia e num partido como o PAICV. Temos de valorizar os militantes que vão ao Congresso e dizem sim, mas também temos de valorizar os que dizem não, porque este é um sinal para vermos qual a razão da insatisfação de uns ou de outros e, nesse aspecto, estou plenamente satisfeito”.

“Temos de ter a consciência que não há unanimidade em torno de ninguém e que temos de trabalhar para merecer o apoio dos militantes do partido”, reforça Rui Semedo.

Conselho Nacional

A marcar este XVII Congresso do PAICV esteve a eleição do Conselho Nacional.

Por proposta de Rui Semedo todos os presidentes de câmara do PAICV deveriam integrar aquele órgão do partido. No entanto, há dois nomes que acabaram por ficar de fora: Nelson Moreira, da Ribeira Grande de Santiago e Francisco Carvalho, da Praia.

Em relação ao primeiro Rui Semedo faz mea culpa: “O presidente da câmara da Ribeira Grande de Santiago não entrou por culpa nossa. Houve uma falha na verificação da lista, porque a decisão da entrada dos presidentes da câmara foi tomada por mim. Mas no momento da elaboração da lista houve uma falha, um erro meu. Quando tomei fé que ele não entrava já era tarde de mais”.

Quanto ao presidente da câmara da Praia, não entrou para o Conselho Nacional por vontade própria. “Foi proposto, mas não quis. Nas palavras dele tem muito trabalho na Praia, muitas tarefas e quer concentrar o seu foco na gestão dos problemas, das dificuldades e dos desafios da capital do país. Foi opção dele, não foi decisão minha. O meu entendimento é que todos deveriam estar”.

Recuperar as bases do partido

A recuperação das bases partidárias é outro dos trabalhos que Rui Semedo tem pela frente neste mandato de três anos. “Aí a estratégia é fundamentalmente direccionada para apresentar às bases os instrumentos de acção que demonstrem a utilidade do partido”, aponta. Além disso, acrescenta o presidente do maior partido da oposição, é necessário valorizar “a acção dos militantes na base do partido”.

“Um partido que tem organizações de base como o PAICV tem de ser um partido que consiga rentabilizar estas capacidades e competências e também rentabilizar esta implantação em todas as localidades e ilhas para que cada estrutura tenha voz em momentos próprios”, defende Rui Semedo.

Liderança incontestada?

Rui Semedo assumiu a liderança do partido depois da saída de Janira Hopffer Almada que se demitiu na sequência da derrota nas legislativas de 2021. Na altura Semedo assumiu-se como líder interino do partido até às eleições internas acabando por se candidatar sem que surgisse uma candidatura concorrente.

Liderança incontestada? Rui Semedo responde: “Eu não acredito que tenha havido receios [da parte de outros possíveis candidatos]. Valorizo muito a dimensão do diálogo com os militantes, com os dirigentes. Eu acho que a minha candidatura ter sido única tem que ver grandemente com o diálogo que estabeleci com os militantes, com o sinal que eles deram em relação à minha forma de agir, de actuar. Mas também tem a ver, acredito, com o meu espírito de entrega às causas do partido ao longo dos anos da minha vivência enquanto militante. Os militantes entenderam que precisamos, nesta fase, de estarmos mais unidos, mais coesos e de procurar entendimentos amplos internamente para podermos estar melhor preparados para enfrentar os desafios do contexto do país que é fortemente influenciado pelo contexto internacional”.

O PAICV, lamenta Rui Semedo, “muitas vezes tem, infelizmente, consumido de forma demasiadamente forte e intensa as suas energias no desempenho interno e às vezes com impacto negativo no desempenho externo”.

Homem de diálogo, como se descreve, Rui Semedo defende que “as energias que dispersamos com questões internas” devem ser canalizadas “para o desempenho externo, nas propostas que faz aos eleitores e no seu papel agora que estamos na oposição”.

Para Rui Semedo o PAICV “tem de desenvolver de forma intensa e forte a democracia interna” e isso, explica, consegue-se criando “espaços de expressão da liberdade dos militantes para que essa expressão da diferença seja um instrumento que enriqueça o partido”. “As diferenças existem, os posicionamentos diferentes também existem, os militantes vêm de origens diferentes, de escolas e culturas familiares diferentes e isto não pode ser encarado como uma dificuldade, mas como uma riqueza”, acrescenta.

Ciclos de derrotas e vitórias

O PAICV, enfrentou, nos últimos anos uma série de derrotas eleitorais. No entanto, em 2021 conseguiu recuperar a Câmara Municipal da Praia e apoiou a candidatura vencedora das presidenciais.

Para o presidente do PAICV “os ciclos de derrotas e vitórias são normais em democracia” e o partido “quando perdeu as eleições [Legislativas 2016] vinha de um ciclo de vitórias sucessivas” que conduziram a outros tantos mandatos no governo. “Era bem provável que se visse na sociedade um movimento para a alternativa, para dar corpo à democracia”.

O resultado nas autárquicas é “incontestavelmente positivo. Passamos de duas câmaras para oito, um resultado bom que poderia ser muito bom se fossemos maioria nas autárquicas. Não chegamos lá, mas foi um ganho fundamental tendo em conta as câmaras que nós ganhamos” recuperando São Filipe, e Mosteiros, no Fogo, ganhando a câmara da Praia “que é muito importante por ser a principal câmara em termos de dimensão, em termos de recursos”, São Domingos, Tarrafal, “para além da manutenção de Santa Cruz que é uma câmara de importância particular” e a Boa Vista.

“Ganhamos autarquias que estavam há vários anos nas mãos do MpD. Câmaras que nunca tínhamos ganho ou que já não ganhávamos há muito tempo como é o caso da Boa Vista”, recorda.

“No início não acreditei muito, tenho de ser sincero, mas no início da segunda semana já tinha a percepção mais clara que poderíamos ganhar a Câmara da Praia”, diz Rui Semedo quando questionado sobre a vitória do seu partido na autarquia da capital.

Nas legislativas o PAICV viu o MpD renovar a maioria absoluta. “Não conseguimos os objectivos preconizados”.

Rui Semedo diz que “poderão haver factores internos e há factores externos” que explicam a derrota do PAICV. “Mas na altura denunciamos que houve alguma gestão dos processos que poderiam quase significar a instrumentalização eleitoral com a distribuição de cabazes, de dinheiro, a coincidência com o Cadastro Social e a distribuição de recursos num contexto de dificuldade”, aponta Rui Semedo.

“Mas com isso não nos estamos a desculpar. É normal que tenhamos perdido, eventualmente teríamos perdido por menos e os resultados poderiam ter sido diferentes”, aponta Rui Semedo.

Já nas presidenciais, Rui Semedo considera que “dão indicações importantes”, porque “tivemos uma estabilidade interna no PAICV, houve uma candidatura que uniu as bases do partido, mobilizou os seus eleitores, mas também teve a capacidade de mobilizar para além deles. Mas quando se apoia um candidato que ganha, quem apoia também ganha, designadamente os partidos. Aliás se tivéssemos perdido os outros estariam a dizer que perdemos mais uma eleição. Como disseram no passado”.

Papel essencial tiveram, defende Rui Semedo, os eleitores do PAICV, porque “voltaram e deram uma contribuição para a vitória do Presidente da República. Quer queiramos quer não também é uma vitória do PAICV não obstante a figura do Presidente ser de eleição individual e de base social”.

O PAICV sai assim “revigorado” e os seus militantes motivados das presidenciais “e isso cria condições para trabalharmos e termos um partido mais forte, mais presente e mais actuante”.

Francisco Carvalho

A presidência de Francisco Carvalho na Câmara Municipal da Praia tem estado envolta em episódios polémicos desde o início.

Rui Semedo, enquanto presidente do PAICV, reconhece que “há um desentendimento no seio da maioria da Câmara Municipal que prejudica o melhor desempenho do partido, porque deveríamos aproveitar a maioria que temos para apresentar à sociedade, de forma coesa e unida, as nossas propostas e as nossas soluções”.

Para Rui Semedo o que poderá ter falhado foi “um diálogo profundo e uma negociação mais inteligente entre todas as partes. Não responsabilizo uma ou outra parte. Isso seguramente não é favorável ao exercício do mandato dos eleitos locais. Lamentamos que a situação tenha chegado a esse ponto”.

Por outro lado, diz Rui Semedo, “há acções que a autarquia vem desenvolvendo que poderão ser avaliadas como positivas e que vão ao encontro das expectativas dos eleitores e dos munícipes”. 

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Conheça os órgãos nacionais do PAICV 

O XVII Congresso Nacional do PAICV elegeu este domingo o seu novo Conselho Nacional, composto por 64 militantes, dos quais 54 efectivos e 10 suplentes, numa lista encabeçada por João Baptista Pereira, o líder do grupo parlamentar deste partido. João Baptista Pereira é secundado de nomes como Nuías Silva e Rosa Rocha. A Comissão Política Nacional é liderada por Rui Semedo.Nuias Silva, Rosa Rocha e João Baptista Pereira são os vice-presidentes enquanto Julião Varela se mantém como Secretário-geral do partido. Destaque ainda para a entrada de Cristina Fontes Lima e Jorge Lopes para o Secretariado Geral e de Sara Lopes e Felisberto Vieira para Conselho Nacional.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1063 de 13 de Abril de 2022. 

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Autoria:Andre Amaral,16 abr 2022 8:26

Editado porDulcina Mendes  em  29 dez 2022 23:28

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