Em Cabo Verde, as secas severas comprometeram a segurança alimentar e condicionaram o rendimento dos que labutam no setor primário. Outrossim, a pandemia inverteu a tendência crescente da economia provocando uma erosão na ordem de 15% da riqueza nacional.
Ao mesmo tempo que a humanidade atinge uma população de 8 mil milhões, as crises tornaram o mundo mais desigual e agravada pelo aumento das necessidades nos mais diversos domínios da vida humana.
Cabo Verde, porque está inserido na economia global não foge à regra! Os acontecimentos atuais obrigam, todos nós, a fazer o exercício de adaptação.
ADAPTAR-SE ao novo mundo criado pelas crises foi o maior desafio de 2022.
No momento em que Cabo Verde e o mundo se preparavam para avançar com o processo de retoma, se irrompeu a guerra na Europa, agravando as crises em curso e fez aparecer um quadro novo suportado pelas perturbações nas cadeias de abastecimento alimentar, energético e fatores de produção agroalimentar traduzindo, este novo contexto, numa vaga inflacionária que penalizou, sobremaneira, os países em desenvolvimento.
Perante todas essas crises, ao Governo é reservado a obrigação de gerir o País.
Diversas medidas foram tomadas pelo Executivo seja para mitigação das secas, gestão da pandemia, proteção de rendimento e emprego, bem como, estabilização dos preços. Esta última, que tem que ver com redução do IVA sobre a eletricidade de 15% para 8%, adicionada às outras medidas geraram alguma confiança na construção de um futuro melhor para o País. Como resultado de curto prazo temos a registar ganhos substanciais com o PIB a aproximar dos dois dígitos, confirmando desta forma a assertividade das diversas medidas implementadas pelo executivo.
Assim sendo, se a isenção da análise prevalecer, se reconhece algum mérito do Governo de Cabo Verde no seu esforço para amortecer os efeitos da Guerra na Europa.
Contudo, as crises ainda não têm fim à vista, a incerteza domina todas as projeções e decisões, pois, estaremos a entrar o ano de 2023 com previsão de uma forte recessão das principais economias mundiais, as taxas de juros dos bancos centrais a subir e ainda com uma gigantesca inflação para gerir.
Cabo Verde tem ainda muitos desafios para o ano de 2023 e seguintes, desde redução da pobreza, insegurança e criminalidade com particular incidência na Cidade da Praia, a redução da dívida pública em percentagem do PIB e, ainda, as reformas, merecendo o setor público estatal uma atenção especial.
Quanto a medidas de política prioritárias, recomenda-se repensar e ou reajustar o modelo atual de crescimento económico, a reforma institucional, acelerar a transição energética e digital porque são medidas que nos conduzem a novos caminhos do sucesso que se desejam progressivos e inclusivos.
A par destes desafios nunca será demais chamar atenção pela necessidade de se preservar os principais ativos do País, como a democracia, a paz, a estabilidade e credibilidade. A preservação e consolidação desses ativos constituem responsabilidade de todos e, particularmente, dos atores políticos que devem procurar propor um País onde todos participam e se constrói um clima de diálogo e de consensos a favor de um bem maior que é, certamente, a construção de uma sociedade mais harmoniosa, mais justa e mais próspera.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1100 de 28 de Dezembro de 2022.