O pedido do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) foi feito pelo secretário-geral, Julião Varela, à imprensa no final de uma visita que os deputados do PAICV eleitos pelo círculo eleitoral da Praia efectuaram ao município.
Instado a pronunciar-se sobre a questão do reajuste salarial do governador e administradores do BCV de cerca de 17 por cento (%), o deputado do maior partido da oposição salientou que neste momento a questão já não se coloca a nível do banco central, mas sim do Governo.
“Ouvimos o pronunciamento do senhor primeiro-ministro a validar esse aumento, estamos em processo de discussão do Orçamento Geral do Estado que o Governo tenha propostas para apresentar. Hoje haverá a reunião da concertação social e estamos atentos para ouvir qual é a percentagem do aumento salarial que vai haver para todos os funcionários do país”, declarou.
Julião Varela lembrou que neste momento há uma grande perda do poder de compra dos cabo-verdianos, fruto do aumento da taxa de inflação, dos preços dos bens de primeira necessidade e dos materiais de construção, sobretudo derivados causados devido ao aumento de imposto feito pelo Governo.
“Portanto estamos expectantes que com o Orçamento do Estado para 2024 cuja proposta ainda não conhecemos há uma significativa percentagem do ajustamento salarial para todos os funcionários públicos e todos os trabalhadores de Cabo Verde”, perspectivou.
“Normalmente a percentagem dos ajustamentos são feitos para repor o poder de compra, a taxa de inflação neste momento situa em termos de 8%, portanto o Governo terá que explicar que outro critério utilizou para chegar aos 17%”, concluiu.
Entretanto, a partir de Nova Iorque, onde se encontra em missão, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva considerou “normal” a “adequação feita” relativamente aos salários no BCV.
Refira-se que na manhã de sexta-feira, a Comissão Concelhia dos Movimento para a Democracia (MpD-poder) na Praia reagiu também aos referidos aumentos salariais, considerando ser “uma afronta para os cabo-verdianos”.
Numa publicação no Facebook, Alberto Mello, que é coordenador desta comissão, sustentou que o aumento salarial recente do governador e dos administradores do Banco de Cabo Verde “é altamente questionável e merece uma crítica dura”.
Segundo disse na sua publicação, enquanto a maioria dos cidadãos cabo-verdianos está enfrentando dificuldades económicas e lutando para sobreviver, “é inaceitável que aqueles que estão no poder recebam aumentos salariais tão substanciais”.
Lembrou que o Banco de Cabo Verde é uma instituição pública e deve agir em benefício do povo cabo-verdiano, salientando que os salários dos altos funcionários devem ser justos, razoáveis e reflectir a realidade económica do país.
“Em vez de aumentar os salários dos altos funcionários, deveria haver um enfoque na melhoria das condições econômicas gerais do país e na assistência aos mais necessitados. É responsabilidade dos líderes do Banco de Cabo Verde agir com integridade e em consonância com os interesses do povo”, declarou.
Ainda de acordo com o deputado do MpD, esse aumento salarial desproporcional mina a confiança do público na instituição e levanta questões sobre a prioridade e os valores dos seus líderes, defendendo que é necessário que haja uma prestação de contas transparente e uma revisão imediata desta decisão para corrigir esta disparidade salarial injusta.