Ministro da Educação diz que formação de professores de língua cabo-verdiana nunca levará menos de 10 anos

PorAndré Amaral*,2 mar 2025 8:50

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Em entrevista à agência Lusa, o ministro da Edução defendeu que é “necessário criar as bases para a oficialização plena da língua cabo-verdiana”, mas também destacou que a formação dos primeiros professores de língua cabo-verdiana nunca demorará “menos de 10 anos”.

O ministro da Educação destacou que ainda há “um caminho a fazer” nos domínios técnico, científico e da formação de professores para que se estabeleçam as bases da oficialização da língua cabo-verdiana.

Aliás, na mesma entrevista, sublinhou que a formação de professores de língua cabo-verdiana nunca levará menos de 10 anos, período necessário para a preparação do sistema e para que um primeiro grupo passe por três anos de formação no ensino secundário, seguidos de mais quatro a cinco anos no ensino universitário.

15 anos sem medidas concretas

Na entrevista, o ministro da Educação lembra que, “tirando proclamações e discursos” feitos ao longo de 15 anos, “não houve nenhuma medida concreta” que levasse à oficialização do crioulo, além da decisão do governo de criar a disciplina opcional, a partir do 10.º ano de escolaridade, em todas as 44 escolas secundárias do país.

“Uma coisa é sermos idealistas, nacionalistas – e sou acérrimo defensor da identidade nacional, a disciplina no 10.º ano está nessa linha – mas é preciso sermos pragmáticos” e “dar tempo ao tempo” para a gramática e outras ferramentas estarem prontas e para que haja professores preparados, referiu Amadeu Cruz.

Esta “experiência”, como classifica, tem servido para “testar soluções científicas relativamente a gramáticas e alfabeto”, assim como outras questões que permitirão a criação de “uma base sólida” e a definição de metodologias de ensino adequadas.

Valorização das línguas

Amadeu Cruz defendeu igualmente que a língua portuguesa e a língua cabo-verdiana devem devem ser colocadas em pé de igualdade.

“Valorizamos a língua cabo-verdiana, mas devemos valorizar igualmente a língua portuguesa. Não estamos a subalternizar nenhuma delas”, frisou o governante que classificou o português como um idioma igualmente identitário, língua materna de alguns cabo-verdianos e a primeira língua para “contacto com o mundo” – além de ser disciplina obrigatória do 1.º ao 12.º ano de escolaridade.

“Vamos chegar ao terceiro ano de implementação [da disciplina experimental da língua cabo-verdiana no 10.º ano] e estaremos em condições de fazer uma avaliação para decidir” se, em vez de ser uma disciplina opcional, esta passará a ter “carácter obrigatório no ensino secundário”.

Entretanto, o Dia da Língua Materna é assinalado com a disponibilização do primeiro manual de Língua e Cultura Cabo-verdiana do 10.º ano de escolaridade na plataforma digital de livros escolares do ensino público do país.

Independentemente de ser oficial ou não, a língua cabo-verdiana é usada em diversos contextos, mesmo no atendimento na administração pública, apontou Amadeu Cruz, além de ser a língua franca, que ecoa pelas ruas do país.

“Faz parte da nossa identidade, do nosso percurso histórico, talvez seja o elemento mais estruturante da nossa cultura. Valorizamos o uso da língua cabo-verdiana nos diversos contextos”, assinalou.

Apelos à oficialização

“Este é um Governo com coragem: os outros falam muito, até fazem discursos, mas, na prática, desde 1999, a medida mais robusta foi a introdução da disciplina de língua cabo-verdiana no ensino secundário”, reiterou, quando confrontado com os apelos para oficialização do idioma por parte do Presidente da República, José Maria Neves.

A língua materna tem variantes nas diferentes ilhas e nos últimos anos surgiram novas iniciativas da sociedade civil a apelar à oficialização.

Um grupo de quase 200 personalidades cabo-verdianas lançou, em 2022, uma petição nesse sentido e pediu apoio do chefe de Estado para a promoção da língua.

No mesmo ano, vários activistas criaram a Associação da Língua Materna Cabo-verdiana para impulsionar uma “voz cada vez mais activa” e uma “mudança” de política linguística no país.

O Dia Internacional da Língua Materna, 21 de Fevereiro, foi aprovado em 2002 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que pediu aos países membros que promovessem a preservação de todas as línguas no mundo, destacando a importância das línguas para o desenvolvimento, a diversidade cultural e o diálogo intercultural.

A data também visa sensibilizar para a perda de línguas em risco de desaparecer devido à globalização e mudanças sociais, e a importância da educação multilíngue, especialmente para línguas minoritárias e indígenas.

O dia foi assinalado, em Paris, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) com uma iniciativa que visou sublinhar a urgência de acelerar o progresso na diversidade linguística para construir um mundo mais inclusivo e sustentável até 2030.

*com Lusa

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1213 de 26 de Fevereiro de 2025.

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Autoria:André Amaral*,2 mar 2025 8:50

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  2 mar 2025 23:29

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