Em conferência de imprensa realizada esta manhã, o presidente da Comissão Política Regional do PAICV, Adilson Graça Jesus, considerou que poderiam ter sido escolhidas outras datas nacionais para o arranque oficial das atividades, que tiveram início na semana passada, na ilha do Porto Grande.
“É preciso perceber que o 25 de Abril é uma data nossa. Mas nós temos datas nacionais, temos o 13 de Janeiro, temos o 20 de Janeiro. Como estavam a ser realizadas em São Vicente, tivemos o 22 de Janeiro, tivemos o 14 de Abril. Porquê o 25 de Abril? É isso é que tem que interpelar os cabo-verdianos. O 25 de Abril faz parte desse processo de independência, mas porquê dar esse arranque exactamente do dia maior do país que era o colonizador? Nós temos de saber ler nas entrelinhas. Há aqui marcas que não podemos deixar passar”, entende.
O líder político considera que não é normal que ao celebrar o 25 de Abril sob a capa das festividades da independência, se tenha esquecido que grande parte do mundo estivesse em luto, pela morte do Papa Francisco. Adilson Graça estranha que “nenhum dos protagonistas cabo-verdianos, ainda vivos, pessoas que lideraram a luta pela independência, tenha sido convidado para o acto oficial".
“Não podemos acreditar que se esqueceram de convidar o Comandante Pedro Pires, o Silvino da Luz, Luís Fonseca, Olívio Pires e todos os combatentes da liberdade da Pátria, através da Associação que os representa, para abertura oficial destas comemorações. Foi sim um acto deliberado e consciente. Foi sim uma vã tentativa de reescrever a história e de querer fazer esquecer os nomes dos protagonistas cabo-verdianos ligados a independência nacional. Deixar estes protagonistas vivos fora desta comemoração é uma afronta e uma vergonha nacional”, considera.
O responsável partidário vai mais longe e considera “escandaloso” a não referência a luta de libertação nacional e a Amílcar Cabral nos discursos do Primeiro-Ministro e do Presidente da Câmara Municipal de São Vicente.
“Consideramos que é no mínimo escandaloso, que nos discursos oficiais, produzidos pelo Primeiro-ministro e pelo Presidente da CMSV, duas altas figuras do Estado de Cabo Verde, não se tenha escutado qualquer referência a luta de libertação nacional e a Amílcar Cabral. Em toda a parte do mundo se celebra Cabral e nos por cá insistimos em querer mata-lo todas as vezes, que por imposição, força e grandeza dos seus feitos devêssemos celebrar e ovacionar esta figura central da história cabo-verdiana. Não fosse o Embaixador de Portugal a salvar o dia, este acto serviria apenas para celebrar o 25 de Abril”, afirma.
As celebrações dos 50 anos da independência de Cabo Verde foram oficialmente abertas a 25 de Abril, na cidade do Mindelo, num acto presidido pelo Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva.
Sob o lema “Cabo Verde, nôs orgulho, nôs futuro”, as comemorações irão decorrer até Dezembro.