Cabo Verde terá tido, no ano passado, o pior desempenho económico enquanto país soberano, diz o último relatório de política monetária do Banco Central. O produto interno bruto caiu 14,8 por cento, o défice da balança corrente aumentou de 0,4 para 16,5 por cento do PIB, o stock de reservas internacionais líquidas do país reduziu em cerca de 80 milhões de euros e o défice e a dívida pública inverteram a tendência de queda e fixaram-se, respetivamente, em nove e 156 por cento do PIB em finais de 2020.
Por outro lado, a redução das pressões inflacionistas, o aumento das remessas dos emigrantes e a implementação de medidas excepcionais de apoio ao emprego, à tesouraria das empresas, bem como o apoio social às famílias mais vulneráveis terão contribuído para atenuar, em alguma medida, os efeitos do choque externo.
As perspetivas actualizadas para 2021 apontam para um crescimento da economia à volta de 6 por cento, isto se for garantido o controlo da pandemia, em particular nas economias parceiras de Cabo Verde, bem como no país.
Porém, as incertezas que rodeiam o processo da vacinação da população mundial e, em consequência, a recuperação da actividade económica continuam elevadas. Se houver um atraso no controlo da pandemia a nível externo e interno, ou algum constrangimento na execução do Orçamento de Estado e a retirada inadequada de determinadas medidas de apoio às empresas e famílias, o crescimento poderá rondar os 3 por cento em 2021.
Evolução da economia
A queda da procura agregada, reflexo da caída das exportações e do consumo privado, respetivamente, em 58 e 11 por cento, determinou a pior performance da economia nacional desde a década de 80 do século passado. Do lado da oferta, a característica singular do choque externo refletiu-se, principalmente, na evolução fortemente negativa das actividades de alojamento e restauração (-71 por cento), transportes (-33 por cento), e comércio (-21 por cento).
Ainda do lado da oferta, a administração pública, a construção e os serviços financeiros foram os únicos ramos que registaram um aumento do seu valor acrescentado bruto em 2020. Do lado da procura, os investimentos contribuíram positiva e significativamente para o desempenho da economia. Os desempenhos dos investimentos e da construção estarão associados à execução de grandes projetos de investimentos externos em fase conclusão, bem como do programa público de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade, entre outros.
Projecção dos Principais Indicadores Económicos e Financeiros
Os desenvolvimentos macroeconómicos recentes apontam para um crescimento da actividade económica em 5,8 por cento em 2021. Este crescimento económico resultará de alguma recuperação das exportações e do consumo privado, em particular no segundo semestre do ano.
Prevê-se ainda uma recuperação modesta das actividades de transporte aéreo e de alojamento e restauração, a par das perspetivas globais de recuperação lenta das viagens internacionais.
As contas externas deverão começar a recuperar no segundo semestre do ano, com aumento de voos da Cabo Verde Airlines e alguma dinâmica da procura turística no quarto trimestre. O aumento, ainda que em abrandamento, das remessas dos emigrantes e o alívio no serviço da dívida pública externa (juros) deverão continuar a apoiar a balança corrente.
O investimento directo estrangeiro deverá crescer marginalmente com a execução de projetos turísticos em fase avançada e a realização de importantes investimentos em aquacultura.
Os riscos à concretização das actuais projeções são fundamentalmente negativos. Conforme prevê o FMI, a não imunização, como esperado, da população dos principais parceiros do país e um agravamento da sua situação sanitária, aliados a um agravamento da situação sanitária internam, poderão inviabilizar a antecipada recuperação da procura turística.
O desempenho muito desfavorável da economia nacional foi, sobretudo, explicado pelos efeitos:
- do confinamento geral que vigorou de finais de Março a meados de Maio;
- das restrições de viagens (aéreas e marítimas) internacionais não humanitárias e de abastecimento essencial ao país até Outubro;
- da proibição das atividades desportivas e recreativas, até Outubro, em boa parte do país;
- da perda de rendimentos da população activa em layoff e desempregada, bem como dos promotores de eventos culturais e outros trabalhadores independentes de diversos ramos de atividade;
- do repatriamento de grande maioria de estrangeiros residentes no país afectos aos serviços consulares, grandes empresas e escolas internacionais; e
- da reorganização de serviços ao público, o que implicou menos atendimentos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1012 de 21 de Abril de 2021.