Moratórias fundamentais para diminuir impacto da crise

PorJorge Montezinho,18 set 2021 8:32

Os riscos à estabilidade financeira foram contidos, em 2020, diz o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Cabo Verde, mas há ainda perigos à espreita, até porque as moratórias estão para acabar e os créditos suspensos terão de recomeçar a ser pagos. E há ainda o contexto actual, que vai das certezas sobre o aumento do desemprego e a redução dos rendimentos disponíveis, até às dúvidas sobre o crescimento projectado para este ano: 5,8 por cento se houver procura externa à economia nacional, principalmente turismo, ou à volta dos 3 por cento num cenário mais adverso.

As instituições financeiras atravessaram relativamente incólumes a crise provocada pela pandemia, diz o Banco Central no relatório sobre a estabilidade financeira em Cabo Verde, no ano passado. “Globalmente”, diz o documento, “os riscos à estabilidade financeira relacionados com a situação financeira e prudencial do sector financeiro, em 2020, permaneceram contidos”.

Segundo o BCV, a implementação atempada de medidas internas de resposta de apoio às empresas, trabalhadores e famílias, permitiu amenizar os efeitos da crise sanitária na situação financeira destas entidades e na qualidade do balanço das instituições financeiras.

No entanto, este não é um relatório optimista, até porque, revela, os indicadores de rendibilidade do sector bancário sofreram com os efeitos da pandemia e a tendência de crescimento que vinham registando nos últimos anos inverteu-se, em consequência da diminuição dos resultados líquidos. Além disso, as incertezas quanto à extensão e a persistência da crise poderão potenciar a materialização do risco de crédito.

Por outro lado, o ritmo de endividamento dos particulares diminuiu em 2020 e as moratórias foram um alívio nas pressões sobre a liquidez dos particulares. A variação absoluta do stock de crédito bancário destinado a particulares caiu para o nível mais baixo desde 2014. No final de Dezembro de 2020, 7,1 por cento dos empréstimos a particulares encontravam-se sob moratória (4.144 milhões de escudos). Apesar do menor recurso às moratórias, comparativamente às empresas, o rácio de crédito malparado aumentou apenas 0,1 pontos percentuais, para nove por cento, sugerindo que a exposição dos bancos ao risco de crédito a particulares foi mitigada em 2020 e que, no período pós moratória, é potencialmente menor relativamente aos particulares em comparação com as empresas.

Já a situação financeira das empresas é pior que a dos particulares. O BCV recomenda que os recursos disponíveis devem ser canalizados para a recuperação de empresas viáveis com impacto estrutural na economia. As estimativas recentes de evolução da atividade económica sugerem que a situação financeira dos sectores de alojamento e restauração, dos transportes e dos serviços prestados às empresas continuou a ser fortemente constrangida pela crise pandémica no primeiro trimestre de 2021.

No global, e de acordo com dados preliminares, em finais de 2020, cerca de 21,5 por cento do stock de crédito concedido pelo sector bancário estavam em moratória, totalizando 26.985 milhões de escudos (16,4 por cento do PIB). A maioria das exposições de crédito em moratória beneficiava de uma suspensão total do serviço da dívida (89,5 por cento). As exposições de crédito mais expressivas concentraram-se no segmento das sociedades não financeiras (com destaque para os sectores de transporte e armazenagem, alojamento e restauração e de atividades imobiliárias), embora o maior número de contratos em moratória tenha centrado nos particulares (63,2 por cento).

O que esperar ainda para 2021

De acordo com o “Cabo Verde Economic Update 2020”, relatório deste mês do Banco Mundial, citado pela Lusa, a crise económica desencadeada pela pandemia de covid-19 “reverteu os progressos na redução da pobreza alcançados desde 2015” e colocou “cerca de 100.000 pessoas em situação de pobreza temporária”.

Segundo o documento, a economia cabo-verdiana deverá “recuperar gradualmente” este ano, apoiada na retoma do turismo no último trimestre, “e atingir uma taxa média de crescimento de 5,1% entre 2021 e 2023”.

“No entanto, as perspetivas são altamente incertas, com riscos negativos substanciais. As incertezas quanto à duração da pandemia e a velocidade da recuperação global, particularmente na Europa, ensombram as perspetivas a médio prazo”, sublinha o relatório.

O Banco Mundial refere ainda que a atividade económica em Cabo Verde diminuiu 14,8% em 2020, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior, traduzindo-se na “maior [recessão] de sempre e a segunda maior na África Subsaariana”.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1033 de 15 de Setembro de 2021.

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Autoria:Jorge Montezinho,18 set 2021 8:32

Editado porJorge Montezinho  em  24 jun 2022 23:28

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