Para António Baptista as contas nacionais trimestrais apresentadas pelo INE mostram “diversos indicadores que permitem inferir sobre o estado da economia nacional”.
“Os últimos resultados referentes ao terceiro trimestre de 2022, divulgados pelo INE, dão indicações positivas sobre a retoma do processo de crescimento económico do país, porém, indicam aspectos que devem alertar o governo sobre a perda do dinamismo dos sectores de grande multiplicador de emprego (ex: agricultura, pesca e construção civil) e essenciais para reduzir a desigualdade inter-regional em termos de crescimento económico e condições de vida”.
Com a taxa de crescimento do PIB a situar-se nos 17% este é, segundo António Baptista, “um valor que confirma a recuperação da economia, impulsionada pelo espectacular crescimento (394% de crescimento nos sectores de alojamento e restauração e de 43% nos transportes face ao período homólogo) das actividades associadas ao turismo”.
Mas este crescimento, defende este economista ouvido pelo Expresso das Ilhas, está associado também “à boa recuperação do comércio externo tanto na exportação como na importação, que dinamizaram o sector do comércio (com taxas de crescimento de 38% quando comparado ao período homólogo de 2021). A recuperação económica neste terceiro trimestre, embora sendo um indicador nitidamente positivo e satisfatório, deve ser interpretada com cautela tendo em consideração o efeito de base, isto é, a economia está a retomar a sua trajectória expectável em termos do potencial de crescimento e é normal apresentar taxas elevadas de crescimento. Basta ver o crescimento homólogo de 394% no sector do alojamento e restauração que, obviamente, não será possível manter este ritmo de crescimento a médio e longo prazo”.
Batista refere igualmente que esta recuperação económica “será um grande incentivo para os agentes económicos melhorarem suas expectativas que, por sua vez, vai contribuir para acelerar o investimento privado – que cresceu 16% quando comparado com o trimestre homólogo de 2021, embora não tenha ainda recuperado para valores do período pré-crise – e o consumo das famílias que cresceu 13% em relação ao período homólogo”.
“São resultados animadores num ambiente de incertezas devido à inflação, seca, persistência da pandemia e à guerra na Ucrânia. A pandemia aumentou a capacidade ociosa e o desemprego no país e constituiu a maior contracção da economia nacional (cerca de 14% no ano de 2020). A situação de incerteza vigente na economia tem reduzido as expectativas dos agentes económicos pelo que a retoma económica que se verificou no último trimestre vai ajudar a contornar este cenário pessimista e aumentar o consumo e o investimento na economia e contrabalançar a redução do gasto público que no mesmo período homólogo diminuiu em 18%”, termina.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1101 de 4 de Janeiro de 2023.