BCV prevê que IDE continue a diminuir

PorAndré Amaral,18 mai 2025 8:32

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em Cabo Verde deverá manter a tendência de diminuição iniciada em 2024. As projecções para 2025 e 2026 são negativas, segundo o Relatório de Política Monetária divulgado esta segunda-feira pelo Banco de Cabo Verde (BCV).

Em 2024, o IDE sofreu uma contracção de 34,9% face ao ano anterior, totalizando 10.510 milhões de escudos — o equivalente a 3,7% do PIB. Essa retracção reflectiu um ambiente externo desfavorável, com condições de financiamento restritivas, um diferencial de taxas de juro negativo face à Zona Euro e o impacto de uma crescente incerteza geopolítica global.

O relatório revela que essa tendência de desaceleração deverá persistir em 2025 e 2026, com novas quebras esperadas nos influxos de investimento estrangeiro.

“Projecta-se que o IDE se reduza, em média, em 2025 e 2026, em torno dos 11 por cento”, destaca o documento do BCV.

Mesmo com o desempenho positivo da balança corrente, a balança financeira deverá continuar fragilizada pela queda do IDE e pelo crescimento mais moderado dos activos externos líquidos dos bancos comerciais, refere o documento divulgado esta segunda-feira pelo banco central.

O capital estrangeiro que ainda chegou ao país em 2024 teve como destinos principais os sectores do turismo e da imobiliária turística, com forte presença nas ilhas de Santiago, São Vicente e Boa Vista. A origem predominante dos investimentos foi Portugal, além de contributos significativos da diáspora cabo-verdiana.

Apesar da queda no IDE, Cabo Verde conseguiu manter a acumulação de reservas externas, que atingiram 736,2 milhões de euros, garantindo 6,5 meses de cobertura de importações no final de 2024. Para 2025 e 2026, as estimativas apontam para coberturas de 6,3 e 6 meses, respectivamente.

O BCV alerta que o contexto de elevada incerteza internacional continua a representar um risco considerável para o desempenho económico, e sublinha a necessidade de políticas públicas que estimulem a atractividade do país junto dos investidores internacionais.

Crescimento económico moderado em 2025

Por outro lado, o documento destaca o forte dinamismo da economia nacional em 2024, que cresceu 7,3%, impulsionada pelo consumo privado e pelas exportações de serviços, especialmente do turismo.

O relatório, apresentado pelo Governador Óscar Santos, sublinha que a taxa média de inflação caiu para 1% em 2024, reflectindo a queda dos preços dos produtos energéticos e alimentares nos mercados internacionais. Nas contas externas, o país registou um superavit de 3,7% do PIB, graças ao bom desempenho do turismo, das reexportações e das remessas, o que permitiu o aumento das reservas externas líquidas para cobrir 6,5 meses de importações.

No entanto, as previsões para 2025 e 2026 indicam uma moderação no crescimento.

O PIB deverá crescer 5,5% em 2025 e 5,0% em 2026, impactado pela desaceleração da economia global, aumento das importações e abrandamento das exportações de serviços. A inflação média deverá subir para 1,8% em 2025 e 1,4% em 2026.

O saldo da balança corrente deverá recuar para 2,9% do PIB em 2025 e 2,6% em 2026, reflectindo a moderação nas receitas do turismo e nas remessas. Apesar disso, as reservas devem manter-se em níveis confortáveis, assegurando cobertura para cerca de 6 meses de importações.

Em resposta ao cenário internacional incerto, e para reforçar a estabilidade monetária, o BCV anunciou a manutenção das principais taxas de juro, com excepção da taxa da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez (FPA), que foi aumentada em 30 pontos base, de 1,95% para 2,25%. A medida visa reduzir a atractividade dos depósitos externos e dinamizar o mercado monetário interno, sem impacto directo sobre os juros para famílias e empresas.

Depósitos podiam render mais

Questionado pelos jornalistas sobre os juros pagos pelos bancos aos seus clientes nos depósitos a prazo, Óscar Santos defendeu que os bancos comerciais têm mostrado resultados que dão condições para remunerar melhor os depósitos.

“O banco central não pode obrigar os bancos comerciais a aumentar as taxas, embora eu ache que eles têm condições, pelos resultados, para o fazer. É só ver que quase todos os bancos tiveram resultados históricos em 2024. Pelas condições, querendo, podem aumentar as taxas dos depósitos dos clientes”, referiu Óscar Santos, em conferência de imprensa.

Mais moedas a circular

O Governador do BCV anunciou, durante a conferência de imprensa de apresentação do Relatório de Política Monetária, que o banco central se prepara para pôr a circular 5 milhões de moedas para fazer face à escassez existente.

“O Banco Central, tendo constatado a ausência de moedas, mandou produzir mais cinco milhões de unidades, que vão ser colocadas faseadamente em circulação ainda este ano”, anunciou Óscar Santos, que sublinhou a importância de garantir que o investimento na produção de novas moedas corresponda à sua circulação efectiva na economia.

“Não faz sentido o Banco produzir cinco milhões de moedas para, daqui a alguns meses, as pessoas começarem a sentir falta de moedas.”

Quanto ao relatório que está a ser realizado sobre a escassez de moedas a circular no mercado nacional, o Governador do Banco de Cabo Verde explicou que este deve “estar concluído até ao final de Junho” e deverá ter um carácter essencialmente pedagógico, permitindo compreender os comportamentos da população relativamente ao uso e eventual retenção das moedas, com o objectivo de sensibilizar os cidadãos para a sua correcta utilização, sobretudo nos pequenos negócios.

Além deste inquérito, acrescentou Óscar Santos, está a decorrer uma investigação por parte da Polícia Judiciária devido a suspeitas de uso indevido das moedas, que poderão estar a ser desviadas da sua função como meio de pagamento.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1224 de 14 de Maio de 2025.

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Autoria:André Amaral,18 mai 2025 8:32

Editado porDulcina Mendes  em  18 mai 2025 12:21

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