Jorge Carlos Fonseca no discurso oficial do Chefe de Estado no Parlamento, na sessão solene comemorativa do Dia da Liberdade e da Democracia, que assinala a realização, em 13 de Janeiro de 1991, das primeiras eleições multipartidárias em Cabo Verde chamou a atenção para os quase 7% de crescimento económico que Cabo Verde registou no terceiro trimestre de 2019 e à redução do desemprego, dados que, disse, “dão conta de uma evolução positiva da economia”, apesar dos três anos de seca.
Um desempenho que “deve ser objectiva e justamente assinalado e saudado”, mas considerou ser “cedo para nos regozijarmos”, enfatizando: “se estamos a andar bem, caminhos largos deverão ser ainda encetados”.
O Chefe de Estado afirmou que o nível de crescimento atingido “ainda é insuficiente” face às necessidades de Cabo Verde, apontando mesmo, citando dados internacionais, que são necessárias “duas ou três décadas de crescimento económico da ordem de dois dígitos”, de “10% ou mais”, para “quebrar definitivamente as amarras do subdesenvolvimento”.
“Ou seja, ainda que um crescimento de 7% ao ano seja uma performance apreciável e importante, é necessário que esse nível de crescimento seja sustentado durante uma série seguida de anos para que possamos acumular riqueza suficiente que nos permita desenvolver realmente o país”, advertiu.
Além disso, sublinhou o chefe de Estado cabo-verdiano, como segunda razão para justificar o alerta feito aos “pontos fracos” da economia do país “ainda não desapareceram e podem contribuir para a reversão dos bons resultados actuais”.
Desde logo porque o turismo, principal sector da economia do país – com um peso estimado de 25% de toda a riqueza nacional -, “ainda tem uma componente externa, em termos de investimento e de produto, demasiado elevada, e consequente escassa participação nacional”.
Jorge Carlos Fonseca apontou que a integração do mercado nacional no sector do turismo “continua insuficiente, o que limita os efeitos benéficos do crescimento global e tende a alargar-se o fosso entre as ilhas”.
No seu discurso, o Presidente da República insistiu no alerta para a “dependência tão acentuada” do turismo, que “pode não se mostrar salutar”, apesar do bom desempenho actual e em perspectiva, de um milhão de turistas anuais em 2021.
“Mas, a longo prazo, e temos a obrigação de equacionar o longo prazo para podermos tomar as decisões corretas aqui e agora, é todo o sector de serviços que tem que ser desenvolvido. E isso exige que nos coloquemos ao nível internacional no plano tecnológico. Parece uma afirmação excessiva, pensarão alguns. Mas a verdade é que temos que ganhar maior autonomia relativamente aos luxos externos para garantirmos a estabilidade do nosso desenvolvimento. E isso passa pela tecnologia e inovação”, alertou.
Jorge Carlos Fonseca sublinhou que a qualificação dos recursos humanos “está ainda bem longe do desejável” em Cabo Verde e que o país permanece “longe de atingir o nível de sofisticação tecnológica” que a economia “exige para ser competitiva no mercado internacional” e ultrapassar a dependência do turismo.
“A economia cabo-verdiana sempre foi, desde os tempos coloniais até ao presente, uma economia de serviços. E assim será no futuro. A questão está em saber, que tipo de economia de serviços desejamos para o nosso país”, destacou.
Para o Chefe de Estado, Cabo Verde deve estudar os bons exemplos internacionais na área da formação e contratar os melhores quadros nacionais no exterior para impulsionar a educação e formação no país.
Convidado a comentar este posicionamento do Presidente da República, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva explicou que estando Cabo Verde em processo de desenvolvimento o turismo é uma forma de assegurar a diversificação económica.
“É preciso saber que nós não estamos ainda no ponto de destino, estamos num processo de transformações que farão com que a economia seja mais forte, mais solidificada”, apontou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 946 de 15 de Janeiro de 2020.