“Apelamos a todas as organizações sindicais, todos os professores mundialmente, em especial em Cabo Verde, para reflectirmos de facto a educação. Porque a educação não vai bem, não está a ser levada em consideração devido à desvalorização da classe docente”, afirmou Jorge Cardoso em declarações ao Expresso das Ilhas.
“Temos constatado uma degradação da educação a nível mundial com falta de docentes, o que é uma questão da própria valorização da classe em causa, e Cabo Verde não foge à regra”, explicou.
O presidente do SINDEP lembrou que esta situação não se limita aos países em desenvolvimento.
“Mesmo num país como o Japão existem problemas na educação, o que consideramos muito preocupante a nível internacional. Estivemos no Congresso Internacional da Educação, na Argentina, que foi realizado precisamente em solidariedade para com os professores devido à evasão, porque os governos, mundialmente, principalmente os da direita, sufocam a classe docente, sufocam os sindicatos”, criticou.
No cenário Nacional, Jorge Cardoso apontou como exemplo a situação dos professores na ilha da Boa Vista e no Sal, que estão há cinco meses sem receber salários.
“É gravíssimo, é lamentável e não há justificação plausível por parte do Governo. É inaceitável que os professores trabalhem e cheguem ao final do mês sem receber o salário. Além disso, estes professores ficam sem cobertura da previdência social, o que é uma violação dos seus direitos”, acusou.
A situação contratual dos professores também é alvo de críticas por parte do SINDEP.
“Os professores recém-contratados têm recebido contratos precários, incluindo contratos de prestação de serviços, o que é inadmissível. O Estado deve ser um modelo de boa gestão e respeito pelos direitos laborais”, sublinhou.
Tendo em conta que no período da tarde o parlamento vai votar a Proposta de Cargo, Funções e Remunerações (PCFR) da classe docente, Jorge Cardoso deixou claro que a proposta não satisfaz as expectativas da classe.
“Continuamos a defender que a classe docente deve manter o seu estatuto, indexado a uma tabela remuneratória digna, e não o PCFR como o Governo está a propor”, declarou.
O líder sindical também criticou a desvalorização salarial da classe que, conforme diz, está no nível 5 da tabela remuneratória, enquanto outras profissões com a mesma formação começam em níveis muito superiores.
No fim das suas declarações, Jorge Cardoso reiterou o apelo à reflexão no Dia Internacional da Educação.
“Aquilo que os governos têm feito é trabalhar nos gabinetes, com técnicos e dirigentes, implementando reformas que não têm impacto efetivo. A educação não vai bem e pior ainda em Cabo Verde. Precisamos de uma mudança urgente para valorizar a classe docente e garantir uma educação de qualidade”, concluiu.