A posição do Governante surge numa publicação feita hoje no Facebook, numa reacção à entrevista do ex-Primeiro-Ministro, José Maria Neves, à agência Lusa. Na entrevista, Neves mostra-se preocupado com o que considera de tendência de entrega de sectores estratégicos do país, como o transporte aéreo, a empresas estrangeiras, alertando para os riscos daquilo que classifica de "neoliberalismo desenfreado".
O antigo chefe do Governo diz que o caso da reestruturação da empresa pública de transportes aéreos (TACV) é paradigmático da falta "cautelas redobradas" na gestão do património público. Quanto aos transportes aéreos, considera "um erro estratégico de fundo" a entrega do mercado doméstico e regional à Binter CV.
Abraão Vicente entende que “é mais do que óbvio que o antigo Primeiro-Ministro nunca irá compreender a postura e a atitude de Ulisses Correia e Silva”.
“Só o facto de apontar dois dossiers que quase levaram o país à bancarrota é prova de que JMN ainda não tirou as devidas ilações dos seus 15 anos como chefe de governo”, lê-se na publicação.
“O programa Casa Para Todos praticamente faliu a empresa IFH e fez com que o Estado contraísse mais de 200 milhões de euros de dívidas. Os 15 anos da governação de JMN levaram à falência técnica e financeira dos TACV. Criticar a Binter é claramente não ter a capacidade de análise estratégica médio longo prazo (sic)".
"A postura do PAICV, que ainda é liderado na sombra por JMN, apenas comprova o facto deste partido ser uma organização imediatista e que busca ganhos fáceis directos por cada acção política sem pensar no futuro”, acrescenta.
Abraão Vicente reprova igualmente as declarações de Neves sobre a postura do actual líder de Governo.
“O que JMN ainda não percebeu é que Ulisses Correia e Silva, igual aos grandes líderes, está a criar uma nova geração de líderes dentro do partido e do governo. JMN nunca perceberá isso, nem mesmo entre os lamentos dos erros cometidos numa peça de teatro sem ensaio que foi a sua governação”, defende.
Na entrevista à Lusa, José Maria Neves vai mais longe e diz que se "percebe claramente um recuo" do Primeiro-Ministro,Ulisses Correia e Silva, perante "um avanço" do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e o protagonismo do Vice-Primeiro-Ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia.
“Jorge Carlos Fonseca tem cumprido com distinção o seu papel de árbitro e equilíbrio do sistema”, responde Abrãao Vicente.
“É lamentável que na ânsia de chegar à Presidência da República, o pré-candidato JMN dispare para todos os lados, inclusive para o lugar onde estrategicamente se está a preparar para candidatar, diga-se, com um discurso focado na sociedade civil imitando o próprio Jorge Carlos Fonseca”, diz.
“JMN castrou e eliminou durante quinze anos qualquer nova liderança interna, eliminou da cena politica qualquer militante do PAICV que pudesse colocar em causa a sua unanimidade. A consequência é que ao sair não teve outra solução que perder a liderança para a actual líder Janira Hopffer Almada. Janira, diga-se de passagem, a única que foi capaz de fugir aos tentáculos de “Cronos"”, complementa o ministro da Cultura.
“Contudo à Janira não parece ser reservado o destino de "Zeus", porque claramente nunca foi capaz de vencer o Rei Cronos JMN (sic)", finaliza.