“Na política, a coerência é importante”, afirmou a presidente do PAICV para explicar que tem batido na tecla da reforma do Estado desde a discussão da lei da regionalização. “O PAICV defendeu o que defende agora. Apesar de sermos a favor da regionalização administrativa, esta não pode avançar sem a reforma do Estado, até por uma questão de bom senso, não posso transferir os serviços de educação ou desporto para a região, mantendo a actual estrutura central porque ou vai ou fica, não pode ir e ficar ao mesmo tempo”.
Janira Hopffer Almada disse ainda que é preciso rever o peso da máquina do Estado tendo em consideração os desafios que Cabo Verde terá de enfrentar. “Temos de fazer opções, porque governar é fazer opções, escolher prioridades. O que a pandemia nos mostrou é que podemos fazer muito mais com recurso às TIC. Temos de tornar esse momento também numa oportunidade para melhorarmos enquanto país. Defendi a redução do número de deputados, porque acho que é possível, como defendi a redução dos cargos governamentais. Quantas estruturas do estado foram criadas no último ano? Cada uma representa um custo e quem suporta esses custos? Entretanto, não temos recursos para coisas básicas. Porque não dizemos isso com frontalidade? Para termos mais recursos, temos de os ir buscar a algum lado. Onde? Às despesas supérfluas”.
Durante a apresentação da plataforma eleitoral, que tem como slogan “Um Cabo Verde para todos”, Janira Hopffer Almada pôs de parte a possibilidade de haver uma espécie de compromisso de Estado entre os partidos, que permitisse traçar um rumo para o país, “o meu momento é este e estou a fazer a minha proposta”, disse, e também assegurou que, apesar de defender uma construção do partido a partir da base – com reformas e ruturas em vários domínios – isso não significa deitar fora a herança do PAICV que liderou Cabo Verde entre 2001 e 2016.
“A governação do PAICV teve ganhos em vários domínios, transportes, infra-estruturas, saúde, educação, habitação, mas penso que temos de analisar os programas à luz do momento”, explicou a presidente do partido. “A governação do PAICV conseguiu muito, mas é evidente que nenhum governo faz tudo e nenhum governo faz tudo bem. O saldo da governação do PAICV é bom, mas também penso que desenvolver a minha visão enquanto líder para Cabo Verde não é renegar herança nenhuma, é, neste momento, apresentar a minha visão para o país. Pretendo melhorar tudo o que foi feito de bom na governação anterior, mas também pretendo corrigir o que não foi feito bem, e digo isso de forma muito frontal. O que foi bom, vamos trabalhar para melhorar, o que não foi bom, vamos trabalhar para corrigir”.
Ao abordar as polémicas à volta das listas de candidatos a deputados, principalmente no norte, Janira Hopffer Almada garantiu que as listas representam a ampla auscultação feita pelo PAICV. “Quisemos construir listas nas quais a sociedade se revisse, listas com quadros, com gente do povo, com pessoas do partido, mas também da sociedade civil. O que é importante, do meu ponto de vista, é o projecto. O que nos levou a fazer essas escolhas? Ouvimos o povo. Não há vitorias antecipadas nem derrotas pré-anunciadas. E eu acho que na política, sobretudo, devemos ter causas. Para mim, alguns ditos problemas, não são problemas”.
A presidente do PAICV admitiu também, durante a conversa com os jornalistas, que hoje é uma líder diferente da que era há cinco anos. “Não posso mudar os outros, mas posso melhorar a Janira”, disse. “Estes cinco anos foram muito importantes. Estar na oposição e estar na situação é diferente. Senti que as pessoas acompanharam muito o que aconteceu no Parlamento, as lutas de uns e outros, o trabalho de terreno, as dificuldades e as adversidades que uns e outros tiveram de enfrentar. Acho que hoje as pessoas olham para mim de outra forma, porque eu acho que muita gente também não me conhecia e o sentimento que tenho é que as pessoas passaram a ver uma outra Janira. E não são só as mulheres. Dentro do partido, fora do partido, porque foi uma oportunidade também para eu melhorar como ser humano. Assumi, na noite eleitoral, o resultado das eleições porque temos de estar com ética na política e não aceitar os resultados apenas quando ganhamos. E tentei ver o que posso melhorar, quais foram as minhas falhas. O exercício mais fácil é sempre culpar o outro, o mais difícil e mais certeiro é ver onde nós erramos, porque onde nós erramos podemos corrigir mais facilmente. E também procurei conhecer ainda melhor, muito mais a fundo, o Cabo Verde real. Quando se vai como ministro, as pessoas muitas vezes deixam-nos ver aquilo que é bonito, com alguma maquilhagem, alguma pintura, quando vamos como oposição, ninguém se preocupa e vemos o que é verdade”.
Já sobre os objectivos para a eleição de 18 de Abril, Janira Hopffer Almada sublinhou que a meta do PAICV é “aumentar o número de votos, o número de mandatos e governar Cabo Verde”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1010 de 7 de Abril de 2021.