Quase sete em cada dez eleitores consideram que Jorge Carlos Fonseca é um Presidente independente (55%) ou muito independente (12%). Os dados constam de uma sondagem realizada pela Pitagórica sobre a herança do mandato presidencial, a poucos meses da eleição do próximo inquilino do Palácio do Plateau.
No extremo oposto, 25% dos inquiridos julgam que Fonseca é pouco independente e 8% nada independente.
É entre os eleitores com 55 a 64 anos (63%, incluindo os que acham que o PR é independente e os que consideram que é muito independente) e no eleitorado do Movimento para a Democracia (64%) que Fonseca recebe uma avaliação mais positiva quanto à independência com que exerce o seu mandato. O eleitorado do PAICV (36%) e da UCID (39%) é aquele que mais afirma que o Presidente da República actua com pouca ou nenhuma independência.
A tendência positiva mantém-se na avaliação de confiança, com 88% dos cabo-verdianos a confiarem alguma coisa no Presidente da República. Em detalhe, 50% confia um pouco, 27% confia muito e 11% confia totalmente no chefe de Estado. Apenas 7% dos inquiridos confia muito pouco e 5% não confia nada no actual titular do mais alto cargo da Nação.
Apesar do saldo positivo em todos os grupos, é entre os eleitores do MpD e junto daqueles que têm entre 45 e 54 anos que a confiança é maior.
A tríade de indicadores globais de desempenho fecha com a gestão de expectativas. Para a maioria, Jorge Carlos Fonseca não surpreendeu, mas também não defraudou. 65% dos cabo-verdianos consideram que o seu exercício presidencial tem correspondido ao esperado. Para 14%, as expectativas foram mesmo superadas. 9% da população sente-se defraudada e esperava melhor. 12% não sabe ou não quer avaliar. Feitas as contas, o saldo é positivo. São mais aqueles que foram surpreendidos pela positiva do que aqueles que estão desiludidos com o trabalho feito ao longo dos últimos anos.
“Do que conhece ou já ouviu falar dessa personalidade, qual a sua avaliação?”, perguntou-se aos inquiridos. Fonseca recebe nota positiva ou muito positiva da maioria dos cabo-verdianos (68%). Para 26% a avaliação é razoável. Apenas 7% têm opinião negativa ou muito negativa. 96% dos que votaram no PR, em 2016, não estão arrependidos da sua escolha.
A primeira-dama também é avaliada, recebendo nota positiva ou muito positiva de 74% dos inquiridos.
Fonseca e os antecessores
Na comparação com o seu antecessor, Pedro Pires, Fonseca tem uma melhor ou muito melhor actuação para quase metade dos cabo-verdianos (48%). Para um quarto da população (25%), o exercício de funções tem sido pior ou muito pior. 27% não encontram diferenças entre os anos de ‘Zona’ e os mandatos do comandante.
Em concreto, para 60% dos eleitores do MpD, o exercício do actual PR é melhor ou muito melhor que o de Pires. Entre os eleitores do PAICV, os números são diferentes: 44% consideram que o desempenho do actual Presidente é pior ou muito pior que o do anterior e só 21% avaliam o trabalho realizado como melhor ou muito melhor.
Num exercício mais global, Jorge Carlos Fonseca é comparado com os três ex-Presidentes da República e volta a ganhar. Questionados sobre “quem foi até hoje o melhor Presidente da República de Cabo Verde”, 37% assinalam Fonseca, 21% Pedro Pires, 16% Mascarenhas Monteiro e 10% Aristides Pereira. 17% não souberam ou não quiseram responder. Nos eleitores do PAICV, o actual chefe de Estado perde para Pedro Pires e nos da UCID, para Mascarenhas Monteiro.
O melhor, o pior e o que falta
O estudo da Pitagórica quis saber a opinião dos cabo-verdianos sobre algumas das áreas de actuação do Presidente da República. A área melhor avaliada é a luta contra o alcoolismo, com 66% dos eleitores a avaliarem de forma positiva ou muito positiva os esforços da Presidência nesta matéria.
Segundo os cabo-verdianos, para o que falta do mandato, as prioridades da agenda presidencial devem ser o apoio ao combate da pandemia (1ª prioridade para 34% dos inquiridos) e o apoio aos jovens (1ª prioridade para 20% dos inquiridos).
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Maioria concorda com limitação de mandatos
A limitação a dois mandatos consecutivos, para o desempenho de funções presidenciais, merece a concordância de 59% dos cabo-verdianos. Questionados pela Pitagórica, os inquiridos manifestam-se maioritariamente pela limitação. 35% gostava que fosse possível, ao Presidente da República, candidatar-se a um terceiro mandato. 7% não sabe ou não responde.
A tendência é transversal a todos os segmentos, populacionais, agrupados por idade, classe social, ilha ou partido político de preferência. Apenas no caso dos indivíduos com 65 ou mais anos, a percentagem dos que defendem a limitação de mandatos não é superior a 50% (48%). Nesta categoria etária, 33% são contra e 19% não têm opinião formada ou preferiram não responder.
Se a Constituição permitisse nova candidatura de Jorge Carlos Fonseca, 46% dos cabo-verdianos votariam nele “de certeza” e 31% “talvez” o fizesse. 16% não considerariam essa hipótese.
Presidenciais: eventual apoio explícito divide opiniões
Os inquiridos do estudo da Pitagórica foram questionados sobre um eventual apoio de Jorge Carlos Fonseca a um dos candidatos à sua sucessão. As opiniões dividem-se.
Para 36% dos cabo-verdianos, o Presidente deve manter-se fora da disputa presidencial, evitando apelos ao voto. Já para 27% é desejável que ‘Zona’ declare o seu apoio à candidatura de Carlos Veiga. Um possível apoio a José Maria Neves merece a aprovação de 25% dos cabo-verdianos. 12% não sabem ou não respondem.
Curiosamente, são os eleitores da UCID quem mais se manifesta a favor da declaração de apoio a Veiga (39%). 37% de quem vota MpD gostaria de ver o apoio de Fonseca à candidatura do primeiro chefe de Governo eleito. 44% dos votantes do PAICV querem um apoio do Presidente a José Maria Neves.
Quase todos conhecem a campanha “Menos Álcool Mais Vida”
Quase 10 em 10 cabo-verdianos já ouviu falar da campanha da “Menos Álcool Mais Vida”, promovida da Presidência. De acordo com a sondagem da Pitagórica, 97% dos inquiridos estão familiarizados com a iniciativa.
A campanha é consensual, com 99% dos participantes do estudo a concordarem com o projecto que visa a redução do consumo do álcool na sociedade cabo-verdiana.
Para os cabo-verdianos, entre outras vantagens, a campanha ajuda à consciencialização dos jovens para o problema do consumo abusivo de álcool (37%) e é uma forma de reduzir o uso de bebidas alcoólicas (22%).
A ideia de que a campanha deve prosseguir com o próximo Presidente da República é subscrita por 98% dos inquiridos.
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FICHA TÉCNICA
Foram inquiridos indivíduos recenseados em Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago Norte, Santiago Sul, Fogo e Brava.
Foi utilizada uma amostragem mista, estratificada por concelho de recenseamento e com quotas forçadas de sexo e idade. O entrevistado foi seleccionado de acordo com as quotas estipuladas. Foram realizadas entrevistas telefónicas, através do sistema CATI – Computer Assisted Telephone Interview, por entrevistadores seleccionados e supervisionados.
A amostra total obtida é de 800 indivíduos. Este valor traduz um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de +/- 3,53%. A recolha da informação foi da responsabilidade da Pitagórica. A amostra foi recolhida entre os dias 15 e 22 de Maio de 2021.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1020 de 16 de Junho de 2021.