Este foi um discurso com significado especial para Jorge Carlos Fonseca. Pela última vez subiu ao púlpito para discursar, enquanto Presidente da República, numa sessão solene do Dia da Independência.
Neste derradeiro discurso Jorge Carlos Fonseca lançou um alerta para as ameaças que pairam sobre as democracias e às quais a democracia cabo-verdiana não é alheia, lembrando que uma democracia é um regime com constante necessidade de aperfeiçoamento. “A este aspecto deve-se conceder uma importância muito particular, pois parece ser a expressão da consciência da natureza inacabada do processo democrático, num contexto em que ameaças muito concretas pairam sobre a democracia em diversas partes do mundo”, apontou.
“Muito provavelmente a actual onda de populismo, que, como tenho referido, cada vez mais procura insinuar-se entre nós, nomeadamente através da sedução de jovens com responsabilidades políticas, alimenta-se não apenas das naturais limitações dos sistemas democráticos, mas, também há que reconhecê-lo, do seu mau uso”, disse aida no seu discurso perante os membros do parlamento e da sociedade civil.
Para o Presidente da República não “são aceitáveis situações de omissão ou hesitação no seu exercício, as quais podem estimular ou favorecer condutas que, no limite, visam combater os alicerces e os valores do Estado de Direito Democrático. A democracia não é nem pode ser sinónimo de falta de autoridade ou de ausência de responsabilização”.
Sobre o sector da Justiça, que tem estado debaixo de atenção nos últimos dias, o Presidente da República destacou que a insatisfação que se tem feito sentir nos últimos tempos é um sentimento justificado havendo, no entanto, a necessidade de as fazer através dos meios e canais próprios que existem num regime democrático.
Outro dos problemas identificados por Jorge Carlos Fonseca é o que o Presidente da República entende serem os problemas de comunicação existentes entre os mais diversos actores políticos e a população em geral.
“É fundamental que se atente para estes aspectos. É essencial que em toda a circunstância prevaleça a verdade, pois a adopção de posicionamentos ditados apenas por interesses imediatos, a prazo, revelam-se prejudiciais”, concluiu.