Rui Figueiredo Soares esclareceu que “quanto à resolução em causa, convém esclarecer que a abstenção de Cabo Verde traduz o facto de que o nosso país, juntamente com mais de 44 países não se terem considerado satisfeitos com a versão que foi a votação, por ser demasiado parcial, não fazendo uma única referência, uma única palavra aos ataques perpetrados pelo Hamas no dia 7 de Outubro”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros reforçou a ideia afirmando que “uma importante emenda apresentada pelo Canadá, que mencionava a clara responsabilidade daqueles que atacaram Israel no dia 7 de Outubro, indicando a causa próxima da guerra em curso e da escalada de violência a que se assiste foi recusada pelos autores da proposta inicial e vários outros também que consideraram não dever fazer qualquer referência aos ataques no 7 de Outubro e ao Hamas em especial”.
“Para Cabo Verde trata-se de uma questão de coerência com a posição de condenação inequívoca dos ataques do dia 7 de Outubro. Este posicionamento é também coerente com a posição de princípio de sempre, considerando que todo e qualquer acto terrorista deve ser condenado. Foi este o contexto e a razão da decisão de apoiar inequivocamente a emenda apresentada pelo Canadá que, infelizmente, não foi aprovada”.
O ministro lembrou igualmente que este processo de votação “foi fracturante para várias regiões e blocos de países, mesmo para aqueles que dispõem de instrumentos definidores de política externa comum, como a União Europeia. Isto devia convidar os actores políticos cabo-verdianos a dar prova de moderação acrescida, análise mais serena, ao invés de utilizar este voto como arma de arremesso. O interesse nacional obriga a isso”.
“Consideramos que neste contexto de ânimos acirrados, o equilíbrio e a moderação aconselham-nos a sermos ponderados na tomada de posição”, disse ainda Rui Figueiredo Soares.
Rui Figueiredo Soares garantiu que o governo não confunde “de forma alguma o povo palestiniano com o Hamas, mas também não podemos aceitar leituras enviesadas, parciais do conflito, propostas por uma das partes. Aliás, basta ver, a este propósito, as reacções extremas havidas na sequência da votação. Aplausos generalizados dos autores e condenação inequívoca de Israel, que condenou e acusou a comunidade internacional de apoiar o terrorismo”.
Sobre os comentários feitos pelo Presidente da República, o ministro dos Negócios Estrangeiros frisou que “o governo não comenta as afirmações que o senhor Presidente da República faz. Nós informamos o senhor Presidente da República das razões de fundo que levaram Cabo Verde a abster-se e foi, como sempre, uma conversa franca, aberta, de muito diálogo, explicitando as posições do governo nesta matéria”.