Enquanto operador turístico em Santo Antão, José Pedro Oliveira, viu na conferência realizada no Sal “uma oportunidade para todo o país” e o primeiro destaque que faz é a abertura das rotas africanas que vão ser operadas pela Cabo Verde Airlines “que vão concretizar o hub aéreo do Sal».
Na opinião deste empresário a operacionalização do Sal “vai mexer muito com o destino turístico” que é Cabo Verde. “Parecendo que não, temos um destino que é mais dominado pelos operadores, o que cria sazonalidade, e nós com um clima bom durante todo o ano em África”, temos o mercado «para nos dar algum fluxo turístico durante todo o ano para termos um turismo muito mais rentável e mais produtivo».
A operacionalização do hub do Sal, defende Oliveira, pode ser benéfica mesmo para os operadores que não estão localizados naquela ilha. “Vai beneficiar o turismo no seu todo, no nosso caso, de Santo Antão, já é uma questão que temos de resolver com os transportes internos”.
A construção de um aeroporto em Santo Antão “é essencial” e a proximidade com São Vicente não prejudica, na sua opinião, qualquer das infraestruturas. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. De Santo Antão para São Vicente nunca se irá utilizar transporte aéreo. Agora, Santo Antão tem de estar ligado com as outras ilhas e com o mundo se não, não faz parte e não conseguimos que Santo Antão venha enriquecer o PIB nacional”.
“As pessoas vêm fazer bronze no Sal ou na Boa Vista, mas grande parte tem a curiosidade de saber quem é o cabo-verdiano, de onde vem, quais são as suas marcas culturais. E isso encontra-se nas ilhas de cultura mais profundamente marcada como é Santiago e Santo Antão”, defendeu José Pedro Oliveira.
Taxas aeroportuárias competitivas
“Temos de aproveitar o potencial turístico que temos e a ASA tem de se posicionar criando as condições, assumindo um papel aglutinador de vontade e parcerias, pondo todos os interessados a trabalhar por um objectivo comum que é o que Cabo Verde tem para dar no Atlântico Médio e ao continente africano”, disse o Presidente do Conselho de Administração da ASA, Jorge Benchimol, à margem da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo.
Quanto aos aeroportos nacionais e como torná-los competitivos no quadro global, o PCA da ASA, explicou que não é possível acabar com as taxas que as companhias aéreas pagam, mas garantiu que estas são competitivas quando comparadas com as zonas em que se inserem.
“As taxas nacionais são competitivas, temos estudos que o mostram, estamos muito bem na sub-região, estamos muito bem no continente, no Atlântico e nos destinos que concorrem com Cabo Verde. Neste aspecto estamos muito bem, mas claro que há sempre assimetrias, há sempre alguma coisa que tem de ser ajustada, e estamos empenhados em fazer com que esses ajustamentos sejam introduzidos e os resultados sejam positivos para a economia nacional”, apontou Jorge Benchimol.
Livre circulação em África
Na sexta-feira, último dia da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo, o ministro dos Transportes e Turismo disse que a isenção de vistos entre os países de África é um tema a trabalhar.
“Não faz sentido que entre os países que pertencem às diferentes comunidades que existem em África tenham livre circulação”, como é o caso da CEDEAO, “mas que depois essa livre circulação não exista entre países que pertencem a comunidades diferentes”, explicou José Gonçalves na conferência de imprensa que marcou o final da Conferência Ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo.
Quanto à evolução do transporte aéreo no continente, José Gonçalves não hesitou em classificá-lo como o “meio ideal para ligar os diferentes países” do continente. “Não é por estradas, vias férreas ou por via marítima, a melhor forma de viajar em África é por via aérea”.
A finalizar, o ministro cabo-verdiano mostrou-se esperançado em que a Conferência, que decorreu entre as passadas quarta e sexta-feira no Sal, tenha sido o pontapé de saída para a efectivação da Declaração de Yamoussoukro, assinada pelos países africanos em 1999, e que prevê a liberalização do espaço aéreo entre os países do continente.
Para Boubacar Djalo, Director do Gabinete de Transporte Aéreo da ICAO, o sector do transporte aéreo e o do turismo têm imenso potencial de crescimento em África. No entanto, para que esse potencial se efective, é necessário investir em infraestruturas e equipamentos.
Como exemplo, Boubacar Djalo, apontou o caso de Cabo Verde. “Cabo Verde foi pioneiro na aviação e tem dado o exemplo aos países africanos. Antes de conhecer o Sal já sabia onde era por causa da sua FIR e da sua zona de controlo aéreo”.
A Declaração do Sal
Segundo a declaração, os Estados que a aprovaram comprometem-se a garantir a que os sectores do turismo e do transporte estejam envolvidos “no planeamento do desenvolvimento económico dos Estados, de modo a que o turismo e a aviação possam ser usados como um impulsionador eficaz do desenvolvimento económico”.
O documento apela igualmente a que seja criada uma “forte ‘Marca de África’ num mercado cada vez mais competitivo” que potencie o turismo africano e que gere “demanda suficiente de tráfego aéreo”.
Outro dos pontos de destaque no documento aprovado no Sal é o apelo a que se “liberalizem ainda mais” os serviços de transportes aéreos “intra-africanos e intercontinentais, especialmente através da implementação da decisão de Yamoussoukro e da MUTAA (Mercado Único de Transportes Aéreos em África).
“Não temos de ir a reuniões dizer sempre a mesma coisa”
Annette Ferguson, ministra das Infraestruturas da Guiana, na intervenção que fez antes da declaração do Sal ser aprovada apelou a que sejam encontradas “formas de melhorar as ligações e de diminuir os custos. No meu caso, a viagem da Guiana até Cabo Verde demorou quase dois dias e custou uma fortuna. Isso precisa ser mudado”.
A realização de eventos como este, como defendeu Annette Ferguson, é útil, mas “não basta pagarmos fortunas para vir a uma sala conversar. É preciso pôr as decisões que aqui tomamos em prática. Espero que hoje não seja um dia só para conversar. Que seja um dia de decisões práticas para resolvermos os problemas das ligações aéreas entre os países”, concluiu.
Gilberto Barros, secretário de Estado das Finanças apoiou as declarações feitas pela ministra da Guiana. “Não temos apenas de tratar das ligações mas também de garantir que os custos das ligações aéreas diminuem. Não temos de ir a reuniões dizer sempre a mesma coisa. Temos de tomar decisões. Espero que daqui por um ano falemos que realmente aumentamos as ligações entre os países”.
Recordando que a convenção de Yamoussoukro, que liberaliza o acesso aos mercados de transporte aéreo em África foi assinada em 1999, o governante apelou a que esta seja posta finalmente em prática vinte anos após a sua assinatura.
Cabo Verde assina acordos com Congo, Angola e Portugal
O ministro dos Transportes e Turismo, José Gonçalves assinou durante a Conferência ministerial sobre Transporte Aéreo e Turismo um acordo aéreo com o seu homólogo congolês e acordos turísticos com Angola e Portugal.
Com a assinatura do primeiro acordo fica estabelecida a possibilidade de ligações aéreas entre os dois países assim como a possibilidade de assistência técnica no solo às companhias aéreas dos dois países.
Como explicou Fidèle Dimou, ministro dos Transportes congolês, “abre-se assim a possibilidade de aproximar os dois países e de abrir o nosso espaço aéreo”.
“Há dias, na Assembleia, perguntaram-me qual a utilidade de assinar estes acordos. Respondi que precisamos de diversificar a nossa economia para além do petróleo. Cabo Verde tem no turismo o seu petróleo”, apontou o ministro congolês.
José Gonçalves, por seu lado, assinalou que com este acordo abre-se uma janela de oportunidade para que comecem a “realizar-se ligações aéreas entre os dois países. Porque o que esperamos é que daqui por alguns anos a Cabo Verde Airlines expanda as suas operações em África.”
Com Angola e Portugal o governante cabo-verdiano assinou acordos na área do turismo. Destaque, no acordo com Portugal, para o Programa Reviver, peça central do acordo entre os dois países, e que consiste num programa de recuperação de património histórico edificado por Portugal nos países lusófonos. “O objectivo é recuperar esse património e gerar mais turismo que, por consequência, vai criar mais emprego e também mais rendimentos”, explicou a Secretária de Estado do Turismo de Portugal, Ana Mendes Godinho.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 905 de 03 de Abril de 2019.