Múltiplas crises estão a impedir desenvolvimento socioeconómico de África

PorJorge Montezinho,24 fev 2024 8:23

Cabo Verde cresce acima da média continental, mas há 24 economias com melhor desempenho. A dinâmica da recuperação económica de África abrandou, com o crescimento médio real do PIB a diminuir para cerca de 3,2% em 2023 (4,1% em 2022). Este declínio é o resultado de variados choques e de pressões inflacionistas elevadas que afectam as principais economias africanas.

Cabo Verde vai ter um crescimento médio do PIB de 4,5%, em 2024 e 2025 (inflação média de 2.7%), segundo o último Outlook do BAD. Os outros PALOP têm taxas que variam entre os –4,1% da Guiné Equatorial (3,1% de inflação), os 5,0% de Moçambique (6,1% de inflação) e da Guiné-Bissau (2,8% de inflação), os 3,4% de Angola (6,2% de inflação) e os 1,3% de São Tomé e Príncipe (11.6% de inflação).

A dinâmica da recuperação do crescimento em África abrandou num contexto de crescente incerteza sobre a saúde da economia global. Os choques que afectam as economias africanas desde 2020 prejudicaram o crescimento, com implicações a longo prazo. A fragmentação geoeconómica, evidente na resposta global aos efeitos da pandemia, foi agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e poderá ser aumentada pelo recente desenvolvimento do conflito no Médio Oriente.

O crescimento do produto interno bruto (PIB) real médio de África caiu para cerca de 3,2% em 2023, face a 4,1% em 2022, devido em grande parte a múltiplos choques. Apesar do declínio no crescimento médio em 2023, 15 países africanos — liderados pela Etiópia, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Maurícias e Ruanda — registaram crescimentos da produção superiores a 5%. O forte crescimento nestes países reflecte o impacto positivo de uma recuperação nas despesas de investimento, da recuperação sustentada do turismo, do forte desempenho do sector mineiro e dos benefícios da diversificação económica.

Inflação e dívida pública

A inflação em África tem aumentado desde o início da pandemia e permanece persistentemente elevada, ameaçando a estabilidade macroeconómica. A inflação média no continente foi estimada em 17,8% em 2023, 3,7 pontos percentuais acima de 2022 e quase o dobro da média pré-pandémica de cinco anos (2015–19) de 10,1%. A inflação em 2023 foi a mais elevada em mais de uma década e contribuiu para a desgaste dos ganhos macroeconómicos alcançados antes da pandemia.

A dívida pública está a diminuir, mas ainda é mais elevada do que antes da pandemia e as vulnerabilidades subjacentes permanecem altas. A consolidação orçamental em todo o continente ajudou a estabilizar a dívida pública, com o rácio dívida/PIB em cerca de 63,5%, em média, durante 2021–23 e com previsão para se fixar em cerca de 60% a partir de 2024. Apesar da descida prevista, subsistem grandes desafios e espera-se que as vulnerabilidades da dívida aumentem, alimentadas por custos mais elevados devido ao aumento das taxas de juro da dívida comercial e aos efeitos das depreciações cambiais.

Investimento e perspectivas

As condições financeiras globais mais restritivas também pesaram sobre os fluxos financeiros, revertendo os ganhos desde a pandemia. Estima-se que os fluxos financeiros totais para África — incluindo investimento directo estrangeiro (IDE), ajuda oficial ao desenvolvimento, investimento de carteira e remessas — tenham diminuído em 2022. Os fluxos financeiros caíram 16,6%, para 180,5 mil milhões dólares, contra 216,5 mil milhões de dólares em 2021.

Embora se espere que as perspectivas de crescimento de médio prazo melhorem, os riscos continuam, reflectindo a incerteza nas condições económicas globais e regionais. Prevê-se que o crescimento económico de África recupere se a economia global permanecer resiliente. No entanto, a inflação persistente no continente e os riscos relacionados com tensões e conflitos geopolíticos poderão afectar este prognóstico.

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Impulsionar a dinâmica de crescimento exigirá uma combinação de políticas a curto, médio e longo prazo:

  • Adopção de políticas monetárias adequadas poderia estabelecer um equilíbrio entre continuar a controlar a inflação elevada e criar incentivos ao crescimento.
  • Reformas estruturais para implementar políticas industriais estratégicas para acelerar a diversificação económica e fortalecer o sector exportador, bem como a consolidação fiscal quando o défice orçamental aumenta a pressão sobre a taxa de câmbio, devem ser implementadas simultaneamente com a política monetária para aumentar a resiliência aos choques.
  • Reformas de governação sustentadas para reforçar a capacidade de gestão da dívida.
  • Construção de instituições fiscais fortes poderia mobilizar eficientemente mais recursos internos, enquanto uma gestão sólida das despesas públicas garantiria que esses recursos fossem utilizados de forma prudente.
  • Aumento do investimento em infra-estruturas digitais por parte dos governos poderia desmaterializar a cobrança de receitas e reduzir as fugas.
  • Investir no capital humano para construir uma força de trabalho com as competências adequadas, prosseguir uma estratégia de industrialização e diversificação baseada em recursos para garantir que o continente aproveita a vantagem comparativa e reforçar a colaboração entre o governo e o sector privado pode estimular a transformação estrutural de África e fortalecer a resiliência a choques.
  • Reformas na arquitectura da ajuda financeira global poderia torná-la mais reactiva no fornecimento de recursos para satisfazer as necessidades de financiamento do desenvolvimento.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1160 de 21 de Fevereiro de 2024.  

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Autoria:Jorge Montezinho,24 fev 2024 8:23

Editado pormaria Fortes  em  27 abr 2024 23:28

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