Segundo o FMI a economia nacional deverá crescer 6% este ano e 5% em 2025 ao contrário dos 4,7% previstos inicialmente para os dois anos.
“A economia de Cabo Verde continua a crescer de maneira robusta, reflectindo a retoma da actividade do turismo, o forte desempenho das exportações, e o crescimento do consumo privado”, anunciou Justin Tyson , líder da missão do FMI que se deslocou ao país, para a revisão semestral dos dois programas de financiamento em curso – e que mereceram avaliação positiva.
“O investimento representa um obstáculo ao crescimento, em grande parte como consequência do baixo nível de execução do orçamento de capital. As autoridades foram bem-sucedidas na manutenção da estabilidade macrofinanceira, e continuam empenhadas em cumprir com os objectivos do programa”, afirmou acrescentando que em 2024, “espera-se que o desempenho macroeconómico seja robusto, com uma projecção de crescimento de 6%, baixo nível de inflação, um défice da conta corrente baixo, e um nível adequado de reservas internacionais para protecção da paridade. O rácio da dívida pública em relação ao PIB continua numa trajectória descendente, reflectindo a continuidade dos altos índices de crescimento e de um excedente orçamental primário”.
O líder da missão do FMI explicou que na base desta revisão em alta está o crescimento mais robusto do que o esperado do sector do Turismo.
“O turismo está a crescer muito, as importações foram menores do que o esperado e as exportações foram maiores, então, sim, é uma melhoria”, referiu o responsável.
Além disso, a “inflação deverá ficar abaixo de 2% em 2024, aproximando-se, no médio prazo, da inflação na zona euro” prevendo-se que o défice da balança corrente “diminua em 2024 e estabilize em cerca de 2,5% no médio prazo”.
Alertas
Apesar da revisão em alta das perspectivas de crescimento, Justin Tyson deixou alguns alertas.
Segundo o FMI as projecções macroeconómicas continuam favoráveis, “muito embora sujeitas a riscos a jusante, já que Cabo Verde é extremamente vulnerável a choques externos”.
Assim, alertou, “um abrupto arrefecimento ou recessão a nível global e perturbações na cadeia de fornecimento poderiam prejudicar o turismo, a inflação e o crescimento”.
Um outro aviso surgiu para o caso de insucesso das reformas do Sector Empresarial do Estado que se traduziria “num risco fiscal elevado. O alto nível de endividamento do país é uma fonte de vulnerabilidade, pelo que é importante continuar a enveredar pelo financiamento concessional para conter os custos com o serviço da dívida”.
A concluir, o líder da missão do FMI lembrou que os “riscos de estabilidade financeira advêm do alto grau de exposição soberana, do alto nível do crédito malparado, e dos riscos de crédito de alguns bancos (também associados ao Sector Empresarial do Estado), e do alto nível de concentração de crédito e depósitos na maioria dos bancos. Os efeitos das mudanças climáticas – seca, subida do nível do mar e catástrofes naturais – deverão afectar as projecções de longo prazo do país, em consequência dos danos à infraestrutura do litoral e ao turismo. Numa perspectiva optimista, um crescimento mais robusto do turismo poderia conduzir a um aumento da actividade económica em geral”.
Em linha com o BCV
Embora de forma mais modesta, as previsões do FMI estão assim em linha com as feitas pelo Banco de Cabo Verde no mais recente Relatório de Política Monetária.
Para 2025 e 2026, “o BCV projecta um crescimento mais moderado, em torno de 5,6% e 5,3%”, respectivamente, “mesmo assim, ligeiramente acima do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) potencial” – e acima da previsão de 5,4% para 2025, feita em Abril.
Entre as previsões do FMI e BCV ficam as previsões do Governo, aquando da elaboração do Orçamento de Estado para 2025, aprovado este mês no parlamento: o executivo espera que o PIB cresça até 5,3% em 2025 – ultrapassando o valor nominal equivalente a 2,5 mil milhões de euros – e que a inflação ronde 1,7% no próximo ano.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1200 de 27 de Novembro de 2024.