Governo aponta crescimento económico e forte investimento social. Oposição discorda

PorSheilla Ribeiro,24 mai 2023 12:57

Numa comunicação ao país proferida esta segunda-feira, o Primeiro-ministro (PM) afirmou que em dois anos do VIII Governo Constitucional, apesar do contexto de crises, o país progrediu do ponto de vista económico, social e de posicionamento nos rankings regionais e internacionais. Em reacção, a UCID considerou que o Governo culpabiliza sempre o contexto da crise pela não apresentação de melhores resultados da governação e o PAICV classificou a comunicação de propaganda enganosa e venda de novas ilusões aos cabo-verdianos.

Durante a sua comunicação, Ulisses Correia e Silva referiu que os impactos da pandemia da COVID-19 provocaram uma contracção económica de 19,3% em 2020, mas que o executivo concebeu e implementou medidas de recuperação e retoma.

“A economia cresceu 7% em 2021 e 17,7% em 2022, o maior crescimento da história de Cabo Verde. Em dois anos, mais do que recuperámos a forte quebra provocada pela crise pandémica. O turismo sofreu uma forte quebra em 2020. Regressou em força em 2022, (recorde 853 mil turistas), ultrapassando o número de turistas registado em 2019”, mencionou.

Segundo o governante, em contexto de crises, o país progrediu do ponto de vista económico, social e de posicionamento nos rankings regionais e internacionais da democracia, da boa governança, da liberdade de imprensa, da liberdade económica e da igualdade e equidade de género.

“Não só a economia está a crescer, como há um forte investimento social reflectido no crescimento do Salário Médio, do Salário Mínimo Nacional, das Pensões e da cobertura da Protecção e Segurança Social. Depois de um aumento por causa da pandemia, o desemprego voltou a descer em 2022, situando-se em 12,1%”, apontou.

O Chefe do Governo considerou que, apesar das dificuldades existentes e um contexto mundial de incertezas, o país está a conhecer progresso e vai continuar a conhecer mais progressos. Como exemplo, precisou que a economia continuará a crescer em 2023 em 4,8% e o país poderá atingir mais de um milhão de turistas até 2026.

“Importantes investimentos privados e públicos estão em execução e previstos. Há procura por mais investimentos privados no turismo. Temos um Programa Operacional do Turismo de 200 milhões de euros em execução. Os seus impactos far-se-ão sentir na economia das ilhas”, prometeu.

Depois de uma inflação de 7,9% em 2022, o Chefe do Governo anunciou uma redução para 5,2% em 2023 e 2% em 2024.

Ulisses Correia e Silva prometeu, para o próximo ano, uma melhoria substancial nas ligações marítimas com a introdução de mais barcos e a implementação do Sistema de Obrigação de Serviço Público nos transportes aéreos que irá permitir aumentar a frequência de e para as ilhas com menores fluxos de passageiros internos como São Nicolau, Maio e Boavista.

Políticas, reformas e investimentos têm sido realizados, e o governante assegurou que estão em curso e previstos para atingir os objectivos de aumento da resiliência do país a transição energética; diversificação de fontes de irrigação para a agricultura; protecção e conservação da biodiversidade marinha e terreste; acção climática e ambiental.

UCID

Numa conferência realizada esta terça-feira, 23, o presidente da UCID, João Santos Luís considerou a comunicação do Primeiro-ministro “surreal” alegando questões como a falta de diálogo por parte do governo com os diversos actores políticos, posições unilaterais de “posso, quero e mando” e lesivas ao normal desenvolvimento do país, tomada de algumas medidas que colocam o país em choque com a sua carta Magna, a excessiva burocracia, a falta de resultados práticos da governação em sectores-chave.

“O PM diz que protegeu empregos, rendimentos e empresas, mas não diz que essas medidas foram tomadas à custa dos Recursos de uma instituição, o INPS, tida como caixa dois do Governo e que este, teima em não devolver ao INPS os seus recursos para que esta instituição possa fazer uma melhor gestão dos referidos recursos que pertencem aos cidadãos contribuintes do referido sistema”, declarou.

O presidente da UCID acusou o PM de não incluir o crescimento de 2020 que foi de -19,3% e de ter igualmente esquecido de dizer que o crescimento de 7% e 17,7% em 2021 e 2022 foi, respectivamente, obtida à custa da alta inflação.

“O Primeiro-ministro culpabiliza sempre o contexto da crise pela não apresentação de melhores resultados da governação, mas nunca teve e ainda não tem a coragem de reduzir a máquina governativa que é o mais longo da história de Cabo Verde em plena crise, justificando sistematicamente que o governo não pode ser avaliado pela extensão dos seus membros, mas sim pelos resultados da governação”, delatou.

Entre outros pontos, a UCID mencionou a promessa de regionalização das ilhas, alegando que o chefe do Governo tirou ganhos eleitorais em algumas partes do Território, nomeadamente em São Vicente, já que “fez uma tentativa, não teve sucesso e nunca mais falou sobre o assunto”.

PAICV

Já o presidente do PAICV, Rui Semedo, disse que a comunicação do PM apresentou um “país que apenas existe na sua cabeça, distante do povo e desfocado da realidade”.

“O primeiro-ministro deste país, o Dr. Ulisses Correia e Silva pensa que a propaganda apaga a triste e dura realidade, que vive, na pele, a maioria dos cabo-verdianos, vítimas de um aumento estonteante do custo dos produtos da primeira necessidade, da subida galopante do custo de vida, da desvalorização do dinheiro e da descida vertiginosa do poder de compra das famílias”, referiu.

Rui Semedo frisou que Ulisses Correia e Silva falou dos dois últimos anos, ignorando que já está no poder há sete anos e que tem uma conta por prestar por aquilo que prometeu e que até transformou em compromissos.

“Durante os primeiros cinco anos, para fugir das suas responsabilidades, dizia que muitos compromissos eram da década e hoje, para se libertar da década, faz balanço de apenas dois anos”, afirmou.

Para o PAICV, se por um lado tudo é justificado com a crise para se desresponsabilizar o Governo, já para as contas de crescimento médio, o PM “esquece-se totalmente do poço onde o país caiu com a crise”.

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“Sim, caímos num poço profundo com 19,3 % de decrescimento em 2020, o que todos consideramos que é uma situação de anormalidade, que não se conseguiu evitar, apesar da chamada crise bem gerida, e, não obstante os avultados recursos investidos pelos parceiros e pelos financiamentos do INPS, que, mais dia menos dia, vai precisar de medidas sérias para garantir a sustentabilidade das prestações a médio e longo prazos”, argumentou.

Quanto ao crescimento médio de 12%, o PAICV questionou o porquê de não ter sido aumentado o salário dos trabalhadores e o porquê de não ter sido melhorado a oferta de emprego.

Rui Semedo apontou que o Governo não fez, mas que deveria fazer, o balanço da destruição de mais de 32 mil postos de trabalho; sobre a crise com o poder local, balanço da transparência ou da falta dela, na gestão da coisa pública e da não prestação de contas desde as ajudas e apoios, passando pelos recursos disponibilizados para fazer face à pandemia.

O líder do partido disse ainda que não se falou no “desinvestimento na agricultura e do não investimento na pesca; regressão dos transportes marítimos e aéreos; falhas da concessão da gestão aeroportuária; aumento exagerado da dívida pública e da má qualidade das despesas públicas”.

“Enfim, o PM preferiu uma propaganda enganosa e a venda de novas ilusões do que falar verdade aos cabo-verdianos e o balanço dos sete anos, que estão a revelar-se longos anos de governação, ficou por fazer-se. Já é tempo de o senhor PM entender que a propaganda não leva a panela ao lume e não resolve os problemas das populações”, finalizou.

MpD

Também em conferência de imprensa, o MpD reafirmou o seu total alinhamento com o balanço dos dois anos de governação feito pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e considerou que “conseguiu-se implementar o maior estado social da história” do país.

“Os equilíbrios económicos foram restaurados, o défice está em redução, bem como o desemprego e a pobreza. Além disso, as nossas reservas externas estão aumentando e testemunhamos uma retomada expressiva do turismo”, disse o secretário-geral, Luís Carlos Silva.

Estes resultados, sublinhou, não só protegem o país da exposição à dívida, mas também proporcionaram ao arquipélago uma maior capacidade de intervenção social e investimentos públicos.

Nesta perpectiva, o secretário-geral do MpD defendeu que para se fazer face à crise, o país teve que aliviar na sua disciplina fiscal e aumentar o endividamento público para perto de 150 por cento (%), para poder mitigar os efeitos da crise e criar um programa de investimento social, “o maior alguma vez implementado em Cabo Verde”, para proteger os cabo-verdianos.

“Investiu-se 12% do Orçamento do Estado no estado social. Foi preciso um esforço adicional, foi preciso aumentar a dívida pública, mas agora estamos a recuperar e neste momento a dívida pública está a beirar os 120%, o desemprego está a diminuir, a pobreza a diminuir e temos uma economia a crescer a números excepcionais”, explicitou.

Ainda assim, admitiu este dirigente que, apesar de os resultados serem muito positivos, poderia conseguir ainda mais, ressaltando, entretanto, que o Governo se tem demonstrado consistente e determinado.

*com Inforpress

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1121 de 24 de Maio de 2023.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,24 mai 2023 12:57

Editado porClaudia Sofia Mota  em  18 fev 2024 23:28

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