Governo promete fim das obras do Data Center de São Vicente para Abril. E depois?

PorNuno Andrade Ferreira*,28 jan 2024 9:09

Fim da construção do Data Center de São Vicente será apenas a conclusão da primeira etapa – e por ventura a mais fácil – do projecto do TechPark.CV no Mindelo. A plena rentabilização do investimento dependerá da capacidade de atrair empresas e tornar o equipamento um local de criatividade e inovação.

Abril é a nova meta para a conclusão das obras do Data Center de São Vicente. Na semana passada, de passagem pelo Mindelo, o vice-Primeiro-Ministro esteve no espaço e estabeleceu a meta. Olavo Correia, que além das Finanças, também tutela a Economia Digital, aponta 2025 como o ano da “abertura oficial”, mas espera, já em 2024, uma “abertura soft, mais no plano nacional”.

A primeira pedra foi lançada em Fevereiro de 2019 e, na altura, previa-se a conclusão dos trabalhos em nove meses, prazo que foi sendo sucessivamente adiado.

Além de armazenamento de dados, o Data Center de São Vicente terá áreas para acolher empresas de base tecnológica, com vocação especial para incubação de start-ups. As instalações também estarão preparadas para formações e eventos.

Carlos Monteiro, presidente do conselho de administração do TechPark.CV, estima que, a partir da entrega ‘da chave’, por parte da construtora, será possível começar a levar vida às instalações.

“Imediatamente, no mês de Abril, começaremos as actividades, entre as quais ter as empresas, começar os programas de incubação e inovação”, observa.

O PCA do parque tecnológico não duvida da capacidade de captar interessados para São Vicente, onde o trabalho se desenvolverá em sintonia com a Praia.

“Acredito que haverá empresas de São Vicente, ou mesmo da Praia, que possam querer instalar-se em São Vicente. Nós, enquanto TechPark, não transferimos empresas, nós recebemos empresas”, antecipa.

Testemunhos

O Data Center de São Vicente, edificado no espaço da antiga residência estudantil, em Chã de Marinha, tem capacidade para cerca de 20 empresas.

Oficialmente lançada em Março de 2023, a Vale.CV tem menos de um ano no mercado. O objectivo é proporcionar acesso facilitado a diferentes experiências, através de uma rede de parceiros. À frente de uma empresa de base tecnológica, Yannick Évora, fundador da Vale.CV não dúvida que o TechPark é “uma porta de oportunidades”.

Quando se fala de mercado, pensamos que o digital mora num mercado que não tem fronteiras, ou seja, não se trata somente do mercado cabo-verdiano, mas de um mercado internacional. Então, para alcançar toda esta globalização, são necessárias infra-estruturas tecnológicas e digitais, para podermos estar preparados”, analisa.

Yannick Évora antevê o Data Center de São Vicente como local para networking, mas também espaço de inovação e criatividade.

“Ter a possibilidade de estar num único espaço onde eu também tenho toda esta comunidade que trabalha em prol do desenvolvimento da economia digital, desse ecossistema, ou seja, conseguir adicionar mais valor”, perspectiva.

Com um percurso mais longo, já há quatro anos a operar na área das tecnologias de informação, a Chuva, fundada por Nilson Nascimento, confia no potencial do TechPark e, em concreto do Data Center, mas avisa que o investimento pode estar a acontecer “fora do seu tempo”.

“Ainda não conseguimos decifrar o que é realmente necessário para colocar este ecossistema a avançar. Ainda temos poucas start-ups. Alias, se formos ver cada start-up no país, e a quantidade de pessoas que emprega, não estamos a ter um impacto significativo. É, sim, um projecto de ambição grande, mas acho que temos outros aspectos mais importantes a resolver, por exemplo, conseguir financiamento, contratar pessoas”, sintetiza.

Nilson Nascimento quer que o país se habitue a “inovar, errar, levantar e construir sobre isso”. Fala de uma “evolução mental”, que ajude a desbloquear processos, eliminando barreiras.

“Se não, nunca vamos conseguir. Os processos arrastam-se numa indústria com uma velocidade extremamente elevada. Precisamos de dialogar e entender como é que se criam os sistemas de incentivos, a importação de materiais na alfandega, para facilitar, como é que o Estado pode assumir um pouco mais de risco, entendendo que é um investimento”, declara.

O director geral de Emprego, Danilson Borges, corrobora da necessidade de se investir na capacitação e qualificação da mão-de-obra.

“Se queremos desenvolver este sector, precisamos de uma massa crítica, para poder atender àquilo que é o desafio do mercado. Falamos de um mercado de tecnologias de informação que evolui rapidamente. Estamos a fazer um trabalho que é o plano de desenvolvimento de competências. Ou seja, identificar os perfis-chave que o país deve e pretende desenvolver”, comenta.

A tutela pretende identificar todos esses perfis-chave no horizonte 2026 e 2030, dando às escolas de formação e às universidades a possibilidade de formarem conforme as necessidades.

“Cabo Verde quer ser um hub, um training hub, um hub que possa capacitar e disponibilizar uma mão-de-obra qualificada. Nós já temos essa realidade, sobretudo na área das tecnologias. Temos vários jovens cabo-verdianos que se formaram aqui e que trabalham para empresas estrangeiras. Por outro lado, temos também empresas cabo-verdianas que prestam serviços a outros países”, realça.

O Data Center de São Vicente insere-se no projecto mais vasto do parque tecnológico – TechPark.CV - situado na Praia, num investimento de 53 milhões de dólares.

O TechPark tem dois polos, Praia e Mindelo, compostos por centro de dados, centro de incubação, centro de negócios, centro de treinamento e qualificação, centro de conferência, para além de zonas contíguas de imobiliária tecnológica, denominadas de Castelon Vale, na Praia, e Julion Vale, no Mindelo.

*com Lourdes Fortes (Rádio Morabeza)

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1156 de 24 de Janeiro de 2024.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira*,28 jan 2024 9:09

Editado porDulcina Mendes  em  27 abr 2024 23:28

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