A deputada cabo-verdiana defende, em entrevista à Rádio Morabeza, que é preciso identificar as causas e avaliar o que é que cada um pode fazer para evitar situações dramáticas que ocorrem na tentativa de atravessar as fronteiras. Filomena Gonçalves também faz parte da Comissão Especializada de Direitos Humanos que costuma visitar Agadèz, o ponto de partida no Níger, com casos “inimagináveis”.
“São coisas que uma pessoa nem consegue imaginar. Temos mulheres e crianças com relatos de tudo de mau que se pode imaginar que pode acontecer a uma pessoa. Perante uma situação dessas, clama-nos a todos os africanos, políticos, os estados a colocar na mesa a questão das migrações e a debater sobretudo nas causas. Temos que determinar as causas e trabalhar as razões que levam a que jovens de países ricos em termos de recursos naturais, como a Nigéria, Mali, Guiné-Conacri resolvam partir”, defende.
A CEDEAO é a região que regista a saída de um maior número de migrantes que tentam atravessar o continente. O relatório de 2018 aponta que perto de 2.272 jovens perderam a vida na tentativa de travessia, mas Filomena Gonçalves acredita que os números são muito superiores.
A deputada descreve uma situação com relatos dramáticos.
“Falando com estes jovens alguns nos dizem: ‘se eu ficar na minha terra eu e toda a minha família corremos o risco de morrer, se eu sair, o máximo que pode acontecer é eu morrer e minha família continuar viva. Mas se eu tiver a sorte de conseguir chegar à Europa vou poder ajudar a minha família. E se eu por acaso morrer, um outro irmão meu tentará fazer a mesma coisa, até que um membro da família consiga atravessar para se responsabilizar pelos restantes familiares que ficam na aldeia’”.
“São situações dramáticas quando nos dizem que os familiares, sobretudo as mães, contraem dívidas, normalmente junto das pessoas que fazem tráfico humano, são dívidas que nunca mais acabam, as pessoas acabam por ser chantageadas, é um ciclo vicioso”, lamenta.
Filomena Gonçalves eleita presidente da rede parlamentar da CEDEAO para a luta contra a emigração clandestina
A deputada do Movimento para a Democracia (MpD) Filomena Gonçalves foi eleita sexta-feira, em Abuja, Nigéria, para o cargo de presidente da rede dos parlamentares da CEDEAO para a luta contra a emigração clandestina.
A emigração faz-se na grande maioria internamente, dentro dos países africanos, sendo que apenas 5% dos migrantes têm como destino a Europa. Cabo Verde não foge à regra e o país precisa de aplicar os critérios de entrada dos imigrantes, conforme estabelece o princípio de livre circulação de pessoas e bens na CEDEAO.
“Se nós não aplicarmos o critério de entrada dos imigrantes, chega uma altura em que não vamos ter condições de garantir a dignidade da pessoa humana, nem de quem cá está nem de quem vem. Nesta questão, nós temos que respeitar os dois princípios, e a dignidade humana é o princípio soberano”, realça.
Entre as causas da emigração estão a instabilidade política, a insegurança e a grande criminalidade.
Além da intervenção junto dos Estados-membros, Filomena Gonçalves garante que os parlamentares da CEDEAO vão trabalhar com a União Europeia para colocar na agenda a discussão da possibilidade de a União Europeia estabelecer uma quota anual para cada país da comunidade, com regras claras e transparentes.
A CEDEAO é composta por Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo.
A entrevista à nova presidente da Rede pode ser acompanhada na íntegra no próximo programa Panorama 3.0 da Rádio Morabeza, que vai para o ar na sexta-feira, às 19 horas.