Disputa a dois. Futuro da UCID decide-se entre a ruptura e a continuidade

PorNuno Andrade Ferreira,16 jan 2022 9:01

São para já dois os candidatos ao lugar deixado vago por António Monteiro. De um lado, um militante recente, que quer reposicionar o partido. Do outro, o braço-direito do actual presidente, que conta com o apoio das principais figuras do aparelho.

O próximo capítulo da história da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID) inaugura-se no congresso de Março, mas o prólogo dessa reunião magna escreve-se por estes dias, particularmente agitados.

Primeiro a entrar na corrida à liderança da UCID, Edson Ribeiro viu ser posta em causa a sua condição de militante. O candidato garante reunir “todas as condições” para se apresentar a votos.

A dúvida sobre a inscrição de Edson Ribeiro no partido foi levantada pelo presidente dos democratas-cristãos, António Monteiro, quando, a 4 de Janeiro, anunciou a não recandidatura e consequente saída de cena. “Não é militante”, disse.

Em resposta, Ribeiro considera estar-se perante um caso de “distracção ou total falta de bom senso”.

Contactado pelo Expresso das Ilhas e Rádio Morabeza, o presidente do Conselho de Jurisdição da UCID, Lino Salomão, esclarece que “o que consta é que Edson Ribeiro é militante”. Salomão lembra que este “até já representou o partido”.

Para lá do debate sobre a elegibilidade, o candidato, com residência na Praia, e que assegura ter consigo “um grupo de apoio muito forte”, quer “reposicionar” e “renovar” a força política.

“A UCID é muito forte em São Vicente, mas não queremos ser fortes apenas em São Vicente. Queremos um partido muitíssimo forte [também] nas outras ilhas e na diáspora”, resume.

Num plano local, o objectivo passa por eleger representantes autárquicos em, pelo menos, sete ilhas. A nível nacional, a meta é formar um grupo parlamentar com nove a dez deputados.

Falando para dentro, Edson Ribeiro quer acabar com divisões internas.

“Depois de vencermos o congresso, temos que, primeiro, unir o partido. É essencial que tenhamos um partido unido, porque, neste momento, não temos o nível de coesão desejado”, entende.

O militante de Santiago Sul conta com o apoio do histórico Lídio Silva. O ex-deputado está desde há muito em rota de colisão com a actual direcção e defende a urgência de uma renovação.

“Classificam-nos como um partido regional, mas por culpa da direcção do António Monteiro, que não faz nada para que, pelo menos em Santiago, Santo Antão, Fogo e Sal, tenhamos uma participação activa nas campanhas”, ilustra.

Quando declarou que Ribeiro não é militante, Monteiro acrescentou que este não tem cartão que comprove essa condição. Lídio Silva rebate o argumento: “[António Monteiro] só assina os cartões das pessoas que não lhe fazem sombra. As pessoas que têm possibilidade de avançar, de ajudar o partido a crescer, ele tenta barrá-las”.

“Sei por onde começar”

Não era propriamente segredo, apenas um anúncio à espera de ser feito. Na sexta-feira, 7, João Luís confirmou aquilo que já se sabia: também é candidato à sucessão de Monteiro, de quem é vice-presidente.

Na comunicação aos jornalistas, num dos hotéis da cidade do Mindelo, garantiu conhecer “muito bem” as fraquezas e virtudes da UCID e expressou a vontade de colocar o partido no arco da governação, “um elemento incontornável nas decisões de governação”.

“Sei perfeitamente por onde começar e quando começar para fortalecer ainda mais os pontos fortes e robustecer os pontos fracos, dando assim condições à UCID de, nos próximos embates eleitorais, aumentar consideravelmente o seu score”, declarou perante uma plateia onde estavam alguns notáveis.

A lógica de uma candidatura de continuidade não foi escondida por João Santos Luís, ao revelar que “mais de 50 por cento dos elementos da direcção cessante estão interessados em integrar a nova equipa”.

Dora Pires, também vice-presidente em funções, já declarou o seu apoio a João Luís. “Creio que é a pessoa indicada para continuar a caminhada e que poderá trazer ganhos enormes. Esperamos que a nova liderança trabalhe no reforço do partido em todas as ilhas”, acredita.

A antiga líder da bancada da UCID na Assembleia Municipal de São Vicente, Isidora Rodrigues Santos, segue na mesma linha, convencida de que João Luís será capaz de conduzir o terceiro maior partido cabo-verdiano a um “porto seguro”.

“Embora já tenha trabalhado com Monteiro, cada candidatura é uma candidatura e, por isso, acho que irá fazer muitas coisas, que irá implementar a sua marca própria”, espera.

O XVIII congresso ordinário da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática deverá acontecer nos dias 25, 26 e 27 de Março, em São Vicente.

Ao decidir não se recandidatar à presidência, António Monteiro termina um longo período de liderança, ininterrupto desde 2009, depois de uma primeira eleição para o cargo, em 1997.

com Lourdes Fortes

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1050 de 12 de Janeiro de 2022. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,16 jan 2022 9:01

Editado porDulcina Mendes  em  10 out 2022 23:29

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