Num debate sobre “os desafios da capacidade de captura da frota nacional”, Vander Gomes, do MpD, destaca os investimentos feitos pelo executivo, mas reconhece que é preciso dar melhores condições à armação nacional.
“Cabo Verde precisa, como pão para a boca, de um serviço de pesca industrial que tenha capacidade de ir mais longe, muito mais além das nossas águas arquipelágicas. Exorto o Governo, através do Ministério do Mar e do Ministério das Finanças, a desbloquear os empecilhos para que haja acesso ao financiamento. Acredito na vontade política do Governo, acredito que ultrapassados esses empecilhos, esses obstáculos, vamos dar esse avanço para uma industrialização do sector”, refere.
O PAICV não acredita na vontade política para se avançar para a industrialização. Adilson Jesus defende que o Governo tem de ter capacidade de proteger o sector para poder ter acesso a financiamentos.
“O setor da pesca industrial simplesmente deixou de existir em Cabo Verde, deixou de ser uma preocupação do governo. Preocupa-se muito com a pesca artesanal e não se preocupa com a pesca semi-industrial, para nem se falar da questão da pesca industrial em si. Por exemplo, todos os barcos de pesca semi-industrial têm sonda, não têm é sonar e não têm essa capacidade de refrigeração. Se não temos a capacidade de ter navios maiores, pelo menos que haja uma reconversão da frota existente. Não há política a ser redefinida porque não existe política”, entende.
A UCID entende que os resultados são irrisórios para aquilo que deveria ser a capacidade de captura da frota nacional. António Monteiro responsabiliza directamente os governos do PAICV e do MpD que, segundo diz, deixaram as pescas e os armadores entregues à sua sorte.
“Porque nós não tivemos a capacidade de definir uma política de pesca industrial, de tal sorte que fosse possível transformarmos esse setor primário da economia num setor fortíssimo para o crescimento da riqueza de Cabo Verde. Na questão industrial o governo tem que definir uma política mais acutilante na aquisição de navios que se adaptem à nossa realidade. Onde é que está uma linha de crédito para que os nossos armadores possam, de facto, ter condições para irem buscar este dinheiro ao banco com critérios muito bem definidos?”, questiona.
A reduzida capacidade de pesca nacional tem obrigado a indústria transformadora a importar parte da matéria-prima. Por exemplo, a armação nacional consegue fornecer apenas 20% do pescado que a Frescomar necessita.
A derrogação concedida pela União Europeia permite considerar as conservas produzidas nas fábricas, mesmo que com parte do pescado importado, como sendo originárias de Cabo Verde, dentro de limites de quantidades. O ministro do Mar disse, em meados deste mês, que a próxima derrogação, de dois anos, deverá estar pronta em Fevereiro.