Eleição e reeleição
Nas autárquicas de 2020, realizadas a 25 de outubro, o MpD venceu em 14 Câmaras Municipais, enquanto o PAICV conquistou oito. Este ano, 18 dos candidatos eleitos em 2020 tentam a reeleição.
Os oito autarcas do PAICV, ou seja, todos os que venceram as eleições passadas com apoio deste partido, concorrem a um novo mandato.
No MpD, as escolhas do partido não foram tão lineares: em 14 municípios, mantém-se nove rostos, e mudam-se cinco.
Tarrafal de São Nicolau é um caso que merece destaque, neste quesito. O MpD optou por apoiar Neivo Araújo e não José Freitas de Brito, que lidera o município há 12 anos. Este último, decidiu avançar com a candidatura independente “Mi ê Tarrafal de São Nicolau”.
É um dos cinco “independentes” na corrida. A estes somam-se a UCID e o PTS, que não têm, actualmente, nenhuma Câmara.
Os discursos
Entre os que esperam ser eleitos e os que pretendem ser reeleitos (ou manter a Câmara sob o mesmo partido) os discursos apresentam algumas semelhanças, mas também diferenças notáveis, próprias destas lides eleitorais.
Enquanto os primeiros se centram no que não está bem nos seus municípios, e apelam à mudança, os segundos pedem votos para continuar os projectos.
Assim, os candidatos à reeleição, por todo Cabo Verde, têm vindo a destacar as realizações feitas durante o mandato (ou mandatos) anteriores, usando-as como prova da sua capacidade de governar. Todos referem que irão dar continuidade e consolidar os projectos que acreditam ter sido bem sucedidos, capitalizando o seu histórico. A mensagem defende que a interrupção de um projecto em curso pode prejudicar o progresso do município.
Já os “novos” candidatos, sem surpresa, colocam a tónica na necessidade de mudança, apresentando-se como agentes para a mesma, num discurso sempre acompanhado de críticas à gestão camarária actual. Assim, a ideia é mostrar que para resolver os problemas, é fundamental uma nova liderança.
Quanto aos pequenos partidos e candidaturas independentes, o argumento da urgência de mudança vai mais além, apontando também a necessidade de sair do bipartidarismo do país, equilibrando forças.
Em comum, todos os candidatos têm feito do bem-estar e melhoria da qualidade de vida da população um tema chapéu dos seus discursos, sempre muito voltados para “as pessoas” e de procura de proximidade. Nisto, tenta-se criar identificação com o eleitorado, intuito de que o porta-a-porta é a actividade mais recorrente.
Nessa linha de “foco nas pessoas”, principalmente as mais vulneráveis, entre as áreas prioritárias para o desenvolvimento dos municípios, destacam-se, basicamente em todos os concelhos e candidaturas, a preocupação com a inclusão social e combate à pobreza, bem como a problemática da habitação condigna.
A economia, em particular o apoio ao empreendedorismo e capacitação dos recursos humanos, é também um tema central, a par da valorização do potencial específico de cada município, e, cada vez mais, da questão ambiental e uso sustentável dos recursos naturais.
A cultura é outro ponto importante, e há pelo menos duas candidaturas que já mostraram o ambicioso plano de elevar as principais cidades dos seus municípios a Património Mundial da Unesco. Esse é, por exemplo, um objectivo de Nuías Silva (PAICV, candidato à reeleição) para São Filipe e de Nelson Lopes (Soncent katem parada) para São Vicente.
Todos, entretanto, parecem também reconhecer a importância do desporto, inclusive como meio de prevenção de actividades criminosas e incivilidades. E todos, embora com diferentes abordagens, estipulam o desenvolvimento sustentável do município como prioridade.
Na cidade da Praia, a insegurança, bem como a gestão do lixo, têm sido também temas recorrentes.
Os discursos, porém, são apenas uma parte da campanha, que tem enchido as ruas de música, t-shirts com slogans e bandeirolas, cartazes e outros materais. E comícios festa também.
Pelo meio, há insultos e críticas exacerbadas, principalmente por meio das redes sociais, mas ainda nenhum relato de situações graves.
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Voto antecipado
Já se começou a votar em Cabo Verde. Desde segunda-feira, 18 (e até quarta-feira), reclusos e doentes hospitalizados que assim o solicitaram estão a exercer o seu direito ao voto antecipado. Entre os dias 24 e 26, podem votar as demais categorias previstas no código eleitoral, essencialmente compostas por trabalhadores que, no exercício da sua profissão, não podem ir às urnas no dia das eleições.
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Nota da redacção
O Expresso das Ilhas errou. Na edição da semana passada (n.º 1198, de 13 de Novembro de 2024), referimos que a UCID concorria a 12 Câmaras Municipais e Assembleias Nacionais, mas o partido apresenta candidaturas em 11 municípios. Assim, o número total de candidaturas às Câmaras Municipais é de 62 e não 63, e às Assembleias Municipais é de 65 e não 66. Pedimos desculpa pelo lapso.
Adicionalmente, é necessário corrigir os números de eleitores apresentados no “jornal de campanha” da semana passada. Utilizámos os dados disponibilizados pela CNE no seu site, mas estes não correspondem aos números oficiais publicados pelo DGAPE, na quarta-feira, 13, no Boletim Oficial. De acordo com os números oficiais, o texto correcto seria:
“No total, são chamados às urnas 351.963 eleitores, espalhados por 22 municípios. A Praia é o município com mais eleitores (91.947), seguida de São Vicente (55.377) e Santa Catarina de Santiago (26.773).
Do lado oposto, e de acordo com dados da Direcção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral, Tarrafal de São Nicolau (é o município com menos eleitores, 4.245. Também Santa Catarina do Fogo (4.275) e a Brava (4.618) têm menos de 5.000 votantes.”
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1199 de 20 de Novembro de 2024.