No debate subordinado ao tema “Como pode Cabo Verde proteger a sua economia face à instabilidade do mercado externo e às novas barreiras comerciais globais?”, Nelson Faria, em representação do PAICV, apresentou estratégias para o curto e o longo prazo.
"Contrariamente ao que disse o primeiro-ministro num primeiro momento, estaremos sujeitos aos choques desta guerra tarifária. Temos de direccionar primeiramente as nossas políticas para que a inflação não seja sentida numa realidade onde a fragilidade económica das famílias é o nosso pão de cada dia. Outras estratégias passariam pela revisão das nossas parcerias externas e, creio que a curto prazo, Cabo Verde deve não apenas ficar ancorado aos Estados Unidos e à União Europeia como os grandes parceiros, mas também explorar a possibilidade de parcerias a nível do continente africano e dos BRICS, nomeadamente com o Brasil, que é um grande mercado e um país próximo pelas ligações históricas", defende.
O MpD afirma que o Governo dispõe de um ecossistema bem estruturado no que respeita ao incentivo empresarial e que o executivo tem demonstrado capacidade para enfrentar as diversas crises. Flávio Lima, representante do partido no poder, também sugere uma aposta em novos mercados.
"Nós importamos 80% daquilo que consumimos. É muito difícil trabalhar esse aspecto no curto prazo. Eu acho que Cabo Verde deve, sim, apostar muito forte nas nossas micro e pequenas empresas e em outros mercados, para que o nosso mercado não seja apenas o europeu. Há muitas iniciativas voltadas para o continente e essas iniciativas devem ser aprofundadas e trabalhadas. Temos o mercado da CEDEAO aqui perto. Devemos olhar para o continente com outros olhos e com uma nova visão, e acho que a nossa diplomacia está a fazer um bom trabalho nesse aspecto", afirma.
A dependência das importações é um dos desafios estruturais de Cabo Verde, especialmente num contexto global marcado por incertezas, como crises económicas, mudanças climáticas e flutuações nos preços internacionais. Nelson Faria sugere estratégias para reduzir essa dependência, no sentido de reforçar a resiliência económica do país.
"Passa por nós produzirmos mais em agricultura, mais nas pescas e na pecuária. Temos esse potencial. Não temos matéria-prima suficiente para industrializar para exportação, mas temos matéria-prima o suficiente para nos auto-sustentarmos ao nível da produção no sector primário. Temos um histórico de produção na indústria de calçado, de vestuário e na indústria de produção que exportamos, que é a volta do pescado", aponta.
Flávio Lima afirma que as políticas do Governo estão direccionadas para o aumento da produção no país, com o objectivo de reduzir a dependência.
"Reduzir a dependência é aumentando a produção. Há que haver políticas, incentivos e estímulos à produção, e isso passa também pela redução dos custos dos factores. Ou seja, é basicamente aquilo que o Governo está a fazer. Há um ecossistema trabalhado para as micro e pequenas empresas, há programas direccionados para a melhoria das micro e pequenas empresas, incentivos à importação de matérias-primas e de utensílios ligados à modernização da nossa agricultura. Há outro trabalho que está a ser feito, que é a questão da transição energética", refere.
O MpD considera que existem avanços na diversificação económica, nomeadamente nos sectores da agricultura, pescas e indústria.
A UCID faltou ao debate.