“Passados 50 anos da nossa independência, um pedido de desculpas por parte do Estado ao povo cabo-verdiano ainda se justifica”, afirmou.
Na sua intervenção, Celso Ribeiro considerou que esse reconhecimento deveria vir acompanhado de uma devida e adequada reparação a todas as vítimas do regime autoritário instituído pelo PAIGC/CV.
Embora tenha reconhecido os avanços alcançados pelo país, o líder da bancada do MpD sublinhou que a herança de 15 anos de regime de partido único representou uma travagem ao desenvolvimento nacional.
“Em termos globais, é inegável que os resultados são francamente positivos em diversos domínios da nossa vida coletiva. No entanto, é legítimo reconhecer que poderíamos ter feito muito melhor, ter ido bem mais longe, não fossem os quinze anos de ditadura de partido único, mais centrada e preocupada com questões político-ideológicas do que com os imperativos de desenvolvimento humano, social e económico”, apontou.
Celso Ribeiro recuperou ainda o ambiente político pós-25 de Abril de 1974, sublinhando que Cabo Verde viveu brevemente um período de liberdade e democracia antes da imposição do monopartidarismo. Referiu, como exemplos, a proibição de manifestações, o assalto à Rádio Barlavento e a detenção arbitrária de dezenas de cidadãos cabo-verdianos em Dezembro de 1974.
“O curso normal do processo político de 1974/1975 teria sido o de acompanhar a independência, desde a primeira hora, pela democracia”, afirmou.
Para o parlamentar, o país só começou a corrigir esse caminho em 1990, com a transição para o regime democrático.
“Foi o povo cabo-verdiano, nas eleições fundadoras da democracia, a 13 de janeiro de 1991, que confirmou que o caminho era o da liberdade”, referiu, destacando que o processo de transição política foi pacífico, exemplar e uniu a nação.
“Ao contrário do processo de independência, que dividiu os cabo-verdianos, a democracia aproximou-nos e permitiu avanços duradouros”.
No plano económico, Celso Ribeiro salientou conquistas recentes, como a classificação de Cabo Verde como país de rendimento médio-alto pelo Banco Mundial, o crescimento económico de 7,3% em 2024, a inflação controlada em 1,7% e a taxa de desemprego mais baixa desde a independência, fixada em 8%.
Alertou, no entanto, para a persistência de desafios, nomeadamente as desigualdades sociais e a pobreza, e apelou ao Governo para continuar a apostar na inclusão, na coesão social e no desenvolvimento sustentável.
O deputado reconheceu que o sistema democrático cabo-verdiano é funcional, mas imperfeito, apontando a falta de diálogo político como uma das fragilidades. Nesse sentido, propôs a celebração de um acordo político global com as forças da oposição, nomeadamente o PAICV, para desbloquear a eleição de órgãos externos da Assembleia Nacional e outras matérias que exigem maioria qualificada.
Celso Ribeiro repudiou as narrativas que associam a emigração jovem ao fracasso do país. “É falso, é perigoso e é injusto”, afirmou.
Considerou que a mobilidade dos jovens é uma consequência natural da globalização e representa uma oportunidade para Cabo Verde.
A concluir, o líder parlamentar reafirmou que celebrar os 50 anos da independência é também um momento para reconhecer os erros do passado, valorizar os que contribuíram para a construção do país e renovar o compromisso com uma Cabo Verde mais livre, mais justa e mais próspera.