Crescimento da economia sem reflexo no emprego

PorSara Almeida,7 abr 2019 9:23

​A economia está a crescer. As previsões do FMI vão nesse sentido e os dados mais recentes relativos às Contas Nacionais parecem confirmar e até ultrapassar essas estimativas (ver notícia ao lado). Contudo, esse crescimento não parece estar a ter reflexo no mercado do trabalho. A taxa de desemprego mantém-se nos 12,2% e o panorama piora quando se olha para o número de pessoas empregadas e pessoas inactivas. Enquanto a economia cresceu, o que é certo é que a população economicamente activa diminuiu.

Os indicadores do Mercado de Trabalho de 2018, apresentados pelo Instituto Nacional de Estatísticas esta segunda-feira, não são animadores. Não houve um aumento da taxa de desemprego, que se mantem, tal como no ano transacto, nos 12,2%. Mas a estatística vai muito além de um único item e o mesmo estudo mostra que há menos 8.775 pessoas empregadas. A taxa de emprego/ocupação diminuiu e hoje, menos de metade da população activa está ocupada/empregada. Em percentagem, esta taxa baixou dos 51,9%, em 2017, para 48,8%.

Quer isto dizer que há mais gente no desemprego? Como referido, os dados mostram que não. Pelo contrário, a população desempregada diminuiu quase 1.400 pessoas.

Vários indicadores têm de ser conjugados. Então: A população activa aumentou, há menos gente desempregada, mas também há mais gente sem emprego/ocupação. E há mais 17.403 pessoas que entram no indicador “população inactiva”. Quer isto dizer Cabo Verde tem agora 177.560 pessoas em idade dita activa que estão “inactivas”, o que se traduz num aumento da taxa de inactividade de 40,8% em 2017 para 44,4% em 2018.

Na verdade, em 2018 a população economicamente activa diminuiu em cerca de 10.170 pessoas, relativamente ao ano anterior. E há outros sinais importantes que os dados mostram.

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Sem escola, formação, ou trabalho

Três em cada 10 jovens (15-34 anos) não tinha trabalho e nem estavam a frequentar um estabelecimento de ensino ou formação, no ano de 2018. Este é um dos dados mais relevantes deste “Indicadores do Mercado de Trabalho” do INE, destacado, aliás, pelo próprio instituto.

Estamos a falar de 29.967 jovens com 15-24 anos e 32.163 com 25-34 anos, o que representa em ambos os casos 30% do total de cada uma dessas faixas etárias.

A proporção de jovens sem emprego e fora do sistema educativo e de formação é maior no meio rural (37,4%): 10,9 p.p. acima da proporção registada no meio urbano (26,5%). E a diferença entre os sexos é também mais acentuada no meio rural (42,4% entre as mulheres e 33,9% entre os homens), pormenoriza -se.

“Com um número médio de 9 anos de escolaridade, mais de três quartos [desses jovens] estão disponíveis para trabalhar, independentemente de terem procurado ou não trabalho, e cerca de um terço está à procura de emprego há mais de um ano”, adianta também o documento do INE, que refere ainda que a maioria é do sexo feminino (54,1%).

Entre os que não procuram trabalho, os motivos parecem prender-se fortemente com a idade. Assim, a frequência escolar surge como principal razão entre os jovens 15-24 anos (64,5%). Já na faixa 25-34 anos, o motivo apontado por 40,6% é o facto de considerarem que não há emprego.

Os estudantes constituem, refira-se, cerca de um quarto dos inactivos (24,9%).

Falando ainda da “juventude”. Pela positiva, no meio deste cenário, uma diminuição de 2.546 jovens (15-24 anos) desempregados e, consequentemente, da taxa de desemprego (que passou de 32,4% para 27,8%). Pela negativa, houve uma “um aumento do número de desempregados em 1.879 pessoas na faixa etária dos 25-34 anos, que passa de 9.848 em 2017 para 11.727 em 2018.”

Sector primário cai. Novamente.

Em mau ano agrícola e de fraco desempenho da agricultura na economia nacional, houve um aumento da taxa de desemprego no meio rural que passou de 8,8% em 2017, para 11,5%. Em sentido inverso, houve uma ligeira diminuição do desemprego no meio urbano (12,4% vs 13,4% em 2017.

Outros indicadores apontam direcções diferentes entre rural e urbano. A taxa de actividade, por exemplo, que, no geral, caiu 3,6 p.p. em 2018 (estabelecendo-se nos 55,6%), registou maior queda no urbano. O aumento da população inactiva foi aqui de 17,7% (+16.346 pessoas), enquanto no mundo rural aumentou 1,6% (1.058 pessoas). Também a diminuição de pessoas empregadas, que aconteceu em ambos os meios, teve maior queda no meio urbano, sendo que neste a taxa de emprego/ocupação fixou-se em 52,7%, registando-se uma diminuição de 4,0 p.p., enquanto no meio rural fixou-se em 40,4%, registando uma diminuição de 1,4 p.p.

Entretanto, os dados do INE em termos de sectores de actividade mostram, efectivamente, que o Sector Primário está em queda.

“O peso relativo dos empregos no sector primário tem vindo a diminuir principalmente no meio rural. Após a queda de 6,0 p.p de 2016 para 2017, regista-se uma nova diminuição na ordem dos 1,9 p.p, (14,4% em 2017 para 12,5% em 2018), que pode ser explicada com a diminuição de cerca de 4.798 empregos no ramo de actividade da agricultura, pesca e criação de gado”.

Já no top dos ramos de actividade que mais contribuíram para a geração de empregos encontramos o “comércio, reparação de automóveis e motociclos com 16,8% dos empregados, seguido do ramo da agricultura produção animal, caça, floresta e pesca com 11,8%, o de construção com 10,5%, e o ramo da Administração Pública e Defesa Segurança Social com 10,4%”.

Sobre a distribuição dos empregados, o sector empresarial privado continua a ser a situação profissional mais comum (40,4 em 2018; 40,3 em 2017) seguida dos trabalhos por conta própria sem pessoal ao serviço (26% vs 25,5). Em terceiro: um dado interessante: há mais gente a trabalhar no público. A Administração Pública (central ou municipal) regista também um aumento, passando de 16,3 em 2017, para 17,4% em 2018.

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Sal (também) em queda

Quanto à taxa de actividade, por concelho, “Boa Vista e Sal continuam a registrar as maiores taxas de actividade, 75,8% e 65,3%, pese embora tenham registado uma diminuição relativamente ao ano de 2017”.

Maior taxa de actividade, mas também maiores taxas de emprego/ocupação: Sal, 62,6%, e Boa Vista, 68,8%. Mais uma vez em queda, principalmente no Sal (onde era de 71,1%).

Falando ainda taxa de actividade, é no concelho de São Salvador do Mundo que se regista a menor taxa de actividade do país, 38,7%.

Apesar da diminuição generalizada da actividade em todo o país, houve, porém, concelhos que inverteram essa tendência global. Destaque para Mosteiros (+20,3%), Santa Catarina do Fogo (+15,6) e São Filipe (+11,6%).

No que diz respeito a pessoas empregadas, “São Filipe e Mosteiros apresentam os maiores aumentos de empregados em 2018, 1.367 e 1.217 pessoas, respectivamente. Por outro lado, Praia (4.389 pessoas), São Vicente (2.470 pessoas) e Santa Cruz (2.037) apresentam as maiores diminuições relativamente à população empregada”, diz o documento.

Olhando a taxa de desemprego, Santa Cruz e São Salvador do Mundo surgem novamente na lista negra registando “as maiores taxas de desemprego, 20% e 22% respectivamente, os maiores aumentos face a 2017 (9,7 p.p. e 15,8 p.p., respectivamente)”.

No sentido ascendente (positivo), as maiores diminuições da taxa de desemprego foram registadas nos concelhos de São Domingos e da Ribeira Grande de Santiago (6,4 p.p. e 6,2 p.p., respectivamente).

Santa Catarina do Fogo apresentou a mais baixa taxa de desemprego (3,2%) do país, mas…

Às costas do Sub-emprego

O INE realizou também a análise comparativa entre as taxas de desemprego e do subemprego e concluiu que, de uma maneira geral, “as duas taxas variam em sentido contrário”.

Ou seja, “os concelhos com menores taxas de desemprego tendem a apresentar as maiores taxas de subemprego”. E destaca o caso de Santa Catarina do Fogo que, apesar da pequena taxa de desemprego, apresenta uma taxa de subemprego de 41,3%.

Em termos nacionais, a taxa de subemprego estimada é de 14,7%, sendo maior no meio rural (22%) e entre as mulheres (16%). Comparado com 2017 (16%), regista-se aqui uma diminuição.

Entretanto, Sal e Boa Vista são os concelhos com as menores taxas de subemprego (2,8% e 6,2%, respectivamente).

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Homens e Mulheres

A população economicamente activa foi estimada em 222.028 pessoas, uma quebra de cerca de 10.170 pessoas como anteriormente referido. Essa população activa é constituída maioritariamente por homens (55,9%), sendo que a descida verificada em 2018 é mais acentuada no feminino. Diz o INE que houve menos 5.305 mulheres activas em 2018, e menos 4.865 homens.

Mais “inactivas” menos desempregadas. “Por sexo, o número de homens no desemprego aumentou em 468 pessoas em 2018, situando-se em 15.708 pessoas. Entre as mulheres, a diminuição de desempregados é mais acentuada, passando de 13.183 em 2017 para 11.320 mulheres desempregadas em 2018”, diz o documento. Quer isto dizer que “entre os homens a taxa de desemprego aumentou de 11,8% em 2017 para 12,7% em 2018 e entre as mulheres diminuiu de 12,8% em 2017 para 11,6% em 2018”.

Quanto ao indicador população empregada, ”constata-se que a população empregada diminuiu em 5.332 pessoas entre os homens e em 3.442 pessoas entre as mulheres, face ao ano de 2017”.

Estima-se, entretanto, que em 42,8% a população empregada inscrita no INPS (um aumento de 1,8 p.p.): 49,8% no meio urbano e 23,0% no meio rural. É de realçar que a subida se deve ao aumento das mulheres inscritas (eventualmente empregadas do­mésticas e trabalhadoras por con­­­ta própria), que passaram de 41,9% (2017) de inscritas, para 45,8% (2018). Nos homens, a percentagem manteve-se nos 40,3%.

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PIB terá crescido 5,5% em 2018. Estimativa supera previsão do FMI.

7% é quanto o governo quer que o PIB cresça por ano no fim da legislatura. Em 2017, o aumento real foi de 4%. Entre 4,8% a 5% é quanto o FMI prevê que cresça o PIB em 2019 e 4,7% é quanto essa organização estima que tenha crescido em 2018. Números positivos anteriormente divulgados, sendo que este último, relativo ao ano passado, terá sido superado, tendo em conta os dados das Contas Nacionais. Nos últimos três meses desse ano, o PIB cresceu 7,6% em termos homólogos, diz o INE. Juntando todos os trimestres, tudo aponta para um crescimento anual do PIB na ordem dos 5,5% em 2018, acrescenta-se.

“No 4º trimestre de 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, um aumento de 7,6%, em volume. Esta evolução resultou do maior contributo das despesas do consumo das famílias, do Investimento e das exportações. Do lado da oferta, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços de base, apresentou uma evolução homóloga positiva de 4,7% e os impostos líquidos de subsídios em 24,3%”. É este o resumo que o Instituto Nacional de Estatística faz dos dados aferidos nas últimas Contas Nacionais Trimestrais, relativas ao 4º e último trimestre de 2018, divulgadas na passada sexta-feira.

São dados que mostram uma taxa superior em 2,6 pontos percentuais (p.p.) relativamente à verificada no trimestre anterior. E também que a taxa de variação acumulada dos quatro trimestres de 2018 aponta para um crescimento anual do PIB de 5,5%, em volume.

O crescimento da economia teve como principal motor o Investimento que registou “uma variação homóloga positiva, de 15,1%, em volume, no 4º trimestre de 2018 (7,2% no trimestre anterior)”, mas também o aumento da exportação (+6,2%). Isto do lado das despesas.

No que toca à produção, e conforme explica as actividades que mais contribuíram para o crescimento foram os Impostos líquidos de subsídios sobre os produtos, a construção e a imobiliária, como referiu o director do departamento das Contas Nacionais, João Cardoso.

A Pesca é a actividade que mais se destaca neste crescimento (30,6%), enquanto a agricultura continua em queda (-23,2%).

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 905 de 03 de Abril de 2019.

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Autoria:Sara Almeida,7 abr 2019 9:23

Editado pormaria Fortes  em  5 jan 2020 23:21

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