Revolução no sector energético : O antes e o depois do SCADA

PorJorge Montezinho,1 mar 2020 10:11

Vai ser inaugurado em Março, mas já está em funcionamento. O SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition System) é um investimento público estratégico que, já disse o governo, aperfeiçoa a eficiência na distribuição e permite uma melhor articulação entre a produção e a distribuição da energia eléctrica.

“O SCADA é um projecto fundamental para o sector eléctrico”, diz ao Expresso das Ilhas Nuno Gomes, Coordenador da UGPE (Unidade de Gestão de Projectos Especiais), que implementou o projecto. “É a inteligência da rede”, explica, “estando o SCADA a funcionar vamos reduzir os blackouts, e mesmo havendo blackouts vamos reduzir o tempo de reposição, porque o objectivo do SCADA é exactamente esse, automatizar o seguimento e a avaliação da rede, em simultâneo, para, havendo problemas, dar alertas e resolver e também acelerar a reposição. Vamos ter ganhos enormes com o SCADA”.

O SCADA é um sistema de supervisão e aquisição de dados que utiliza um software com o objectivo de monitorizar e controlar variáveis e dispositivos de um processo, nomeadamente fornecimento de energia eléctrica. Entre outras funções, o sistema SCADA emite relatórios que mostram de forma mais clara as informações armazenadas nas bases de dados do sistema, nomeadamente os históricos de alarmes durante determinado período de tempo escolhido pelo operador. O sistema permitirá também melhorar o ambiente de negócios definido pelo Doing Business, nomeadamente a melhoria do índice da qualidade do fornecimento de energia e transparência das tarifas, através do controlo dos parâmetros:

- índice de duração média das interrupções do sistema e índice de frequência média das interrupções do sistema, para medir a duração e a frequência dos cortes no fornecimento de energia eléctrica;

- monitorizar de forma automatizada as interrupções no fornecimento;

- restabelecer o fornecimento de energia eléctrica de forma automatizada.

“Onde antigamente o operador tinha de andar de PT (Posto de Transformação) em PT à procura da avaria”, refere Nuno Gomes, “hoje em dia, com o sistema, consegue ir directamente à zona onde está a avaria”.

O projecto SCADA surgiu no seguimento do projecto 6 ilhas, [projecto de desenvolvimento dos sistemas de transporte e distribuição de electricidade em seis ilhas de Cabo Verde, através do Ministério do Turismo, Investimento e Desenvolvimento Empresarial (MTIDE), nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Sal, Maio, Santiago e Fogo], no fundo, é um subcomponente deste projecto. Enquanto o 6 ilhas foi financiado pelo governo japonês, pelo BAD e pelo governo, o SCADA é financiado apenas pelo governo japonês.

O projecto começou com uma pré-qualificação em 2014, depois foi lançado o concurso, em Abril de 2015, e o contrato foi assinado em Maio de 2016. O contrato inicial tinha uma previsão de 18 meses, mas foi inserida uma adenda de prorrogação de prazo e uma outra para incluir a produção. “Este desfasamento no tempo é normal”, sublinha Nuno Gomes, “porque a rede eléctrica sempre esteve a funcionar, ou seja, trabalhou-se sobre uma rede funcional, e há muita dificuldade para fazer a integração, evitando cortes. Teve que se trabalhar em sintonia com a Electra, para que as coisas corressem bem e se evitassem cortes. Daí o desfasamento do tempo”.

O contrato inicial foi de 8 milhões e 41 mil euros, mas como o projecto primeiro não incluía a integração da produção, houve essa necessidade de fazer uma adenda ao contracto para incluir a integração das centrais eléctricas das três ilhas, para já, cobertas pelo sistema (Santiago, São Vicente e Sal) e das energias renováveis, uma adenda de um milhão de euros, o que põe o custo total do projecto nos 9 milhões e 72 mil euros.

O consórcio francês Eiffage/GE montou todo o sistema, mas o financiamento serviu também para a construção de infra-estruturas, como o Centro Nacional de Despacho no Palmarejo, ou os novos postos de transformação, para a ligação entre as ilhas vai ser utilizado o cabo de fibra óptica operado pelas comunicações.

“O SCADA vai permitir aumentar a taxa de penetração das energias renováveis, é um sistema de despacho inteligente que permite gerir e integrar na rede toda a energia produzida, tanto pela Electra como por outros, em função da necessidade e do custo da produção. Obviamente vai melhorar muito o sector energético do país”, diz Nuno Gomes, para quem este é um investimento público estratégico. “Um país com um sistema eléctrico funcional e inteligente a controlar essa rede vai atrair indústria e outros negócios para o país”.

A pergunta que se impõe é, vai permitir uma alteração dos preços? Diminuindo-os? Nuno Gomes acredita que isso pode acontecer, de forma indirecta. “Os preços tem a ver com as perdas. O governo, junto com a Electra, está a trabalhar no sentido de reduzir as perdas comerciais. Não são perdas técnicas, falando claro, é o roubo de energia, que estão a tentar combater. Tudo isso vai contribuir na redução das perdas comerciais o que terá ligação aos preços”.

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E aqui também entra o sistema SCADA. “O sistema permite detectar avarias e muitas vezes as avarias resultam de roubos, por exemplo o sistema permite detectar uma sobrecarga num posto de transformação, logo, rapidamente se detecta que alguma coisa se passa lá”, explica o coordenador da UGPE.

O governo está também, nesta altura, a contactar os financiadores para expandir o sistema para as outras ilhas. A Central de Nacional de Despacho vai facilitar esta chegada do SCADA ao resto do arquipélago, mas primeiro é necessário investir na renovação da rede eléctrica das restantes ilhas e na construção de novos postos de transformação.

“Estamos a trabalhar para expandir o projecto SCADA às outras ilhas”, diz Nuno Gomes. “Ainda este ano poderá haver novidades no sentido de fechar acordos, só depois haverá o processo de concurso e desenvolvimento. Sei que o governo está a trabalhar afincadamente nisso”.

A Unidade de Gestão de Projetos Especiais (UGPE)

É o serviço especializado que se ocupa da gestão fiduciária de projectos com financiamento externo, designadamente a gestão financeira e a gestão de aprovisionamento de projectos estratégicos ou de significativo impacto na prossecução das atribuições prosseguidas pelo Ministério das Finanças.

Para além do projecto SCADA, a UGPE tem em carteira cinco projectos finan­ciados pelo Banco Mundial (Competitividade para o desenvolvimento turístico, Acesso a financiamento para micro pequenas e médias empresas, Gestão fiscal re­la­cio­nado às empresas par­ti­cipadas do Estado, Reforço de Educação e de desenvolvimento de competências, Inclusão social) e um projecto financiado pelo BAD (o parque tecnológico de Cabo Verde). Até Abril, deverá passar a gerir mais três projectos.

Actualmente, a carteira é de cerca de 100 milhões de dólares. “No fundo”, explica Nuno Gomes, “a UGPE faz a gestão de todos estes projectos. Pese embora serem empréstimos, cada financiador tem um procedimento de utilização do dinheiro que empresta, nós fazemos essa gestão: o lançamento de concursos tem procedimentos próprios, o seguimento da obra tem procedimentos próprios, no fundo, tudo o que é seguimento e implementação somos nós a fazer de acordo com os procedimentos do financiador. A nossa taxa de execução dos projectos é de 99,9%. Ou seja, raramente o dinheiro volta para trás, utilizamos sempre todo o financiamento e com resultados visíveis”.

“É um trabalho conjunto com o ministério das finanças e a Direcção Nacional do Planeamento. A UGPE participa desde o início, na montagem do projecto, no desenho, nas negociações com o financiador, até à implementação final, mas é um trabalho de equipa. Numa primeira fase quem intervém é o governo, através do ministro das finanças, e depois nós e a direcção, com os beneficiários”.

“Cada um dos projectos tem um beneficiário directo. No projecto SCADA será o sector energético; no projecto de educação e desenvolvimento de competências que é o sector de educação e o instituto de emprego e formação profissional; no projecto de inclusão social é ministério da família; e no projecto de turismo é a Direcção Geral do Turismo”, conclui o coordenador da Unidade de Gestão de Projectos Especiais. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 952 de 25 de Fevereiro de 2020. 

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Autoria:Jorge Montezinho,1 mar 2020 10:11

Editado porAntónio Monteiro  em  24 nov 2020 23:21

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