A Cabeólica vai construir, no parque eólico de Santiago, na Praia, três novas turbinas eólicas com 150 metros de diâmetro e 105 metros de altura que vão aumentar a capacidade de produção de 25 para 40 megawatts. Além disso, o projecto prevê que seja instalado um grupo de baterias que vai permitir guardar um total de 30 megawatts de energia eléctrica.
Com a assinatura deste acordo, foi também revisto o contrato que estava em vigor entre a Cabeólica e o governo.
Bruno Lucas, CEO da Cabeólica, lembra, em entrevista ao Expresso das Ilhas que a empresa, que é uma Parceria Público-Privada, “vem operando há cerca de 12 anos com base em contratos que regulam um investimento de cerca de 60 milhões de euros em regime de project finance em 4 parques eólicos num total de produção de electricidade anual de cerca de 75 GWh e representando, em média, aproximadamente 20% de toda a electricidade produzida no país e mais de 80% de toda a energia renovável do país”.
Além disso, refere Bruno Lucas, o novo acordo vem regular “um investimento adicional acima de 40 milhões euros que inclui a expansão do parque eólico de Santiago (que passa de uma capacidade de 9 MW para 23 MW) com aerogeradores maiores e com capacidade 5 vezes superiores aos actuais, a instalação de sistemas de armazenamento em baterias nas ilhas de Santiago e Sal num total de cerca de 16 MW/10MWh e um período de extensão adicional de 12 anos para os 4 parques existentes”.
Uma das tarifas mais caras do mundo
Num país onde as tarifas de electricidade são apontadas como das mais caras do mundo, um projecto deste género deverá ter impacto na redução do valor pago mensalmente pelos consumidores.
No entanto, a Electra não respondeu à questão colocada pelo Expresso das Ilhas sobre qual o impacto que a aposta nas energias renováveis vai ter na redução do preço da energia eléctrica junto do consumidor final.
Também o governo recusou responder às questões do Expresso das Ilhas.
Do lado da empresa, Bruno Lucas esclareceu que o projecto de expansão da Cabeólica, na sua totalidade, que deverá começar a funcionar já em 2025, permitirá à empresa duplicar a sua produção de electricidade com base na energia eólica, para além de contribuir de forma determinante para a estabilização da rede e aumento de penetração de renováveis de outras fontes que não apenas eólica. “Com este projecto, em 2025 o país garante de forma inequívoca a ambicionada meta dos 30% de penetração renovável na matriz energética”.
Quanto à tarifa da electricidade, o CEO da Cabeólica reconhece que Cabo Verde possui uma das tarifas mais caras do mundo, “acima de tudo por ser um pequeno país insular e arquipelágico”. Mas, defende, uma “comparação mais razoável e objectiva com países semelhantes e cujos preços não sejam artificialmente reduzidos devido a subsídios, leva-nos a concluir que Cabo Verde possui um custo de electricidade dentro da média dos pequenos países insulares e arquipelágicos a nível mundial. Múltiplos relatórios disponíveis do Banco Mundial e das Nações Unidas provam esse facto”.
Bruno Lucas defende, ainda assim, que “não nos deveremos acomodar porque a tarifa é efectivamente elevada e um peso enorme para as famílias e a competitividade nacional, pelo que para além do absolutamente necessário o combate às perdas e outras medidas estruturantes, a transição energética e a aposta nas renováveis em particular certamente também contribuirá de forma relevante para a redução das tarifas de electricidade no país”. E acrescenta, “quer a energia eólica do novo projecto de expansão, quer qualquer outro projecto que seja aprovado ou venha a ser aprovado pelo Governo e pela ARME neste momento, possuem preços de electricidade que respeitam o tecto fixado pela agência reguladora e são sempre inferiores a 1/3 do custo de combustível para produzir electricidade pelas vias convencionais”.
Cláusula take or pay
Outro dos pontos polémicos do contrato entre o governo e a Cabeólica é a cláusula de take or pay que consiste na obrigação do comprador, neste caso o Estado, em pagar, independentemente de haver ou não a entrega do bem ou serviço por parte do vendedor.
Um cenário que vai mudar em breve, explica Bruno Lucas.
“A cláusula de take or pay continuará a ser aplicada para os parques actuais e durante o período original. Para o projecto de expansão e para o período de extensão dos parques actuais, existem outros mecanismos, previstos na lei em vigor e aplicável a todos os novos projectos de energia renovável, solar ou eólico”.
Redução no consumo de combustíveis fósseis
A transição energética tem como objectivo de fundo diminuir a dependência de Cabo Verde relativamente aos combustíveis fósseis.
O CEO da Cabeólica explica que, com a implementação deste projecto de expansão da Cabeólica a nível económico, “basta referir que se considerarmos a quantidade adicional de cerca de 75GWh que deverá será produzida e um preço inferior a 1/3 do custo do combustível fósseis para produzir a mesma electricidade, podemos estimar uma poupança para o país superior a 1 milhão de contos por ano”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1167 de 10 de Abril de 2024.