São os dados do Relatório do Estado da Economia em 2024, publicado pelo Banco de Cabo Verde. O PIB, em volume, cresceu 7,2%, no ano passado, (4,8% em 2023) e a procura turística internacional, definida pelo número de dormidas, cresceu 9,7% (27,3% em 2023). O volume de negócios no sector de “Alojamento e restauração” aumentou 26,9% (25,5% em 2023). A movimentação de passageiros também cresceu nos aeroportos e aeródromos (16%), nos portos (8,3%) e nos autocarros (0,6%).
Numa conjuntura económica e financeira externa marcada por uma recuperação modesta nos principais países emissores, a actividade turística nacional registou, em 2024, um crescimento mais brando em relação ao ano anterior. A procura turística internacional foi de 1.116.950 turistas internacionais. No entanto, a performance do sector turístico nacional superou o desempenho mundial do sector.
De acordo com a World Tourism Organization (WTO – sigla em inglês para a Organização Mundial de Turismo), estima-se que a actividade turística global tenha recuperado dos níveis pré-pandemia, chegando, em 2024, aos 1.445 milhões de turistas, um aumento de 11%, mas menos expressivo que o registado em 2023, 33%.
Os resultados variam entre as regiões. O Médio Oriente permaneceu como a região com melhor desempenho, em comparação a 2019, com 95 milhões de chegadas internacionais, 32% acima dos níveis pré-pandemia e 1% face a 2023. África registou 74 milhões de chegadas, 7% acima dos níveis de 2019 e 12% face a 2023 (forte crescimento na Etiópia e em Marrocos).
A Europa, maior destino turístico global, contabilizou 747 milhões de chegadas, 1% acima de 2019 e 5% mais do que em 2023. As Américas tiveram 213 milhões de chegadas internacionais, perto dos níveis pré-pandemia (-3% face aos níveis de 2019) e crescendo 7% face a 2023, com especial destaque para a Caraíbas e a América Central. Já a região da Ásia e do Pacífico atingiram os 316 milhões de chegadas internacionais, crescendo 33% face a 2023, mas permanecendo ainda 13% abaixo dos valores pré-pandemia, devido à lentidão na redução das restrições. Em termos de países, os destinos mais procurados em 2024 foram a França, a Espanha, os EUA, a Turquia e a Itália.
Este ano, os principais desafios enfrentados pelo turismo internacional são os altos custos de transporte e de hospedagem e outros factores económicos, como a volatilidade dos preços do petróleo, os riscos geopolíticos (além dos conflitos em curso), eventos climáticos extremos e escassez de pessoal.
O turismo em Cabo Verde
Como já referido, o número de dormidas de turistas internacionais em Cabo Verde registou um abrandamento – cresceu 9,7% em 2024, mas tinha subido 27,3% em 2023 – principalmente, diz o relatório do BCV, por causa da redução da procura turística pela Alemanha (em 2,7%) e Países Baixos (1,6%) e da desaceleração registada na procura turística de todos os outros mercados emissores, com destaque, para o Reino Unido (13,1% em 2024, 18,4% em 2023), Itália (29,8% em 2024, 225,4% em 2023) e Portugal (6,4% em 2024, 25% em 2023).
No ano passado, o principal mercado emissor de turistas – medido pelo número de hóspedes que entraram nos estabelecimentos hoteleiros do país – continuou a ser o Reino Unido (cerca de 30% do total), seguido da Alemanha (11%), Bélgica e Holanda (10%), Portugal (9,9%) e França (9,2%).
Devido a esta evolução da procura turística, as receitas brutas da actividade turística cresceram menos que no ano anterior (19,1% em 2024, 31,6% em 2023), fixando-se nos 62.736,3 milhões de escudos (representando 22,6 por cento do PIB). No entanto, como as receitas brutas cresceram mais do que o número de dormidas, as receitas brutas por dormida aumentaram 8,6%, para os cerca de 11.390 escudos por dia.
As ilhas da Boa Vista e do Sal continuaram a ser o destino preferido dos turistas estrangeiros e nacionais, com as maiores taxas de ocupação-cama do país, (91% na Boa Vista e 62% no Sal). As duas ilhas receberam cerca de 83% do total das entradas de hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros do país.
Em relação à oferta turística nacional, o número de estabelecimentos hoteleiros no país aumentou de 332 para os 360 estabelecimentos, mais 28 em relação a 2023. A oferta de camas teve um acréscimo de 1.088 (para um total de 32.312 camas). A ilha de Santo Antão continuou a liderar a oferta de estabelecimentos hoteleiros (com 79 unidades, na maioria residenciais, representando 21,9% do total), no entanto, as ilhas do Sal, Boa Vista e Santiago continuam a liderar a oferta de quartos e camas.
A capacidade de alojamento, em termos de oferta de camas, aumentou em quase todas as ilhas, destacando-se as ilhas da Boa Vista (mais 607 camas), de Santiago (mais 323) e do Maio (mais 265) quando comparado com os números de 2023. As ilhas do Sal e da Boa Vista continuaram, em 2024, a deter a maioria da oferta de camas (59,3% no Sal e 21% na Boa Vista).
O mercado de trabalho
O mercado de trabalho nacional fica marcado, em 2024, diz o Banco Central, pelo aumento da população activa e redução da população desempregada, o que se refletiu na queda da taxa de desemprego, que passou de 10,3% em 2023 para 8% em 2024 (resultados do Inquérito Multiobjectivo Contínuo do INE).
A população empregada aumentou em 8.453 pessoas, para os 198.914 indivíduos, principalmente devido ao aumento do emprego nos ramos de “Educação” (em mais 2.317 indivíduos), “Construção” (em 1.629), “Alojamento e Restauração” (em 1.417), “Outras actividades e serviços” (em 1.035), “Actividades de Consultoria Científica e Técnica” (em 1.028) e “Comércio, Reparação de automóveis e motociclos” (em 1.014). Por outro lado, houve uma redução do emprego nos ramos de “Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca” (em menos 550 indivíduos), “Indústria Transformadora” (em 546), “Eletricidade, Gás, Vapor, Água quente e fria e Ar frio” (em 467), “Saúde Humana e Ação Social” (em 467) e “Famílias Empregadores de Domésticos” (em 330).
A população empregada aumentou, sobretudo, no sector empresarial privado (com mais 3.524 indivíduos), na administração pública (em 2.689) e por conta própria (em 1.649). O sector empresarial privado continua, aliás, a ser o maior empregador em Cabo Verde, absorvendo 47% do total de empregados, seguido de empregado por conta própria com 19,8% e administração pública com 18%.
A capacidade da economia para criar empregos, medido pela taxa de emprego, aumentou em 1,8 pontos percentuais (para os 53,6% em 2024). As ilhas do Sal e da Boa Vista mantiveram-se como as ilhas com as mais elevadas taxas de emprego (75,4% no Sal e 73,9% na Boa Vista), seguidas pelos concelhos da Praia (com 58,3%), de São Vicente (com 57,5%) e Maio (com 54,2%).
A população inactiva – a população de 15 anos ou mais que, no período de referência, não estava disponível para trabalhar, por motivos de estudo, invalidez, doença ou acidente, assunção de responsabilidades pessoais ou familiares incompatíveis com a ocupação laboral, percepção de não existência de empregos e reforma – diminuiu em 298 pessoas, totalizando 154.903 indivíduos. A taxa de inactividade caiu 0,5 pontos percentuais, fixando-se nos 41,7%.
A população desempregada reduziu em 4.480 pessoas, para um total de 17.373 indivíduos, números para os quais contribuiu a queda do número de desempregados nos concelhos da Praia (menos 3.108) e Santa Catarina (menos 1.224). O desemprego, no ano passado, afectou com maior severidade, os concelhos de São Domingos (taxa de desemprego de 16,3%), Santa Cruz (13,3%) e São Lourenço dos Órgãos (12,2%) e com menor severidade os concelhos da Ribeira Grande (taxa de desemprego de 3,2%), Sal (4,1%) e Boa Vista (4,2%). O desemprego afectou tanto homens como mulheres, sobretudo jovens na faixa etária entre os 15 e os 24 anos, habilitados com o ensino secundário, e com maior incidência no meio rural.
A população sub-empregada – empregados que trabalharam menos de 35 horas semanais e que declararam estar disponíveis para trabalhar mais horas em outra actividade – diminuiu em 4.020 pessoas, fixando-se nos 18.402 indivíduos, e a taxa de sub-emprego reduziu em 2,6 pontos percentuais para os 9,2% em 2024.
O emprego informal – que inclui os trabalhadores familiares sem remuneração, os empregadores no sector informal, os trabalhadores por conta própria no sector informal e os empregados por conta de outrem – aumentou em 1.766 pessoas, totalizando os 94.561 indivíduos em 2024. Este grupo representou, em 2024, 47,5% do total da população empregada com 15 anos ou mais.
A economia em 2024
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 7,2% foi sustentado pelo aumento dos rendimentos reais das famílias, devido à redução da inflação e ao aumento das prestações sociais e das outras transferências correntes líquidas, pelo reforço da procura externa turística, bem como pela melhoria da confiança dos consumidores.
A balança corrente registou um superavit de 10.565,8 milhões de escudos (3,8% do PIB), essencialmente por causa dos aumentos registados nas exportações de serviços de turismo, nas reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos nacionais e nas remessas dos emigrantes, bem como, pelo abrandamento das importações de bens e serviços.
A nível orçamental, a execução do OGE para 2024 teve uma situação orçamental menos favorável. O défice global público agravou-se, ficando em 1,1% do PIB (0,3% do PIB em 2023), devido ao aumento das despesas e à redução das receitas. O agravamento do défice público e o aumento das despesas com os juros da dívida, refletiu-se na redução do saldo global primário, que se fixou em 1,3% do PIB (2,0% do PIB em 2023).
A dívida pública continuou a diminuir em 2024, mas, avisa o BCV, encontra-se ainda em patamares elevados. A dívida pública, incluindo os Títulos de Rendimento de Mobilização de Capital (TRMC) fixou-se nos 114,9% do PIB. Incluindo também os passivos contingentes, ou seja, a dívida das empresas públicas e das autarquias locais, a dívida situou-se nos 130,2% do PIB.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1238 de 20 de Agosto de 2025.