De todas as ilhas, apenas Santiago continua sujeito a regras excepcionais de confinamento e distanciamento social para dar combate à pandemia de COVID-19.
E, convém dizer, as regras dentro de Santiago, são aplicadas de forma diferente entre Santiago Norte e Sul.
A liberdade de culto, por exemplo, anunciada pelo Presidente da República quando renovou o Estado de Emergência, e que tanta polémica e comentários originou durante a semana que passou, é aplicada de forma diferente na Praia e no resto de Santiago. Em Santiago Norte, por exemplo, os cultos religiosos podem regressar mas com os espaços dedicados a esse tipo de eventos a estarem reduzidos a um terço da capacidade. Na Praia, e em Santiago Sul, a proibição mantém-se.
Mas – há sempre um mas nestas coisas – logo que a medida foi anunciada, Santiago Norte registou o seu primeiro caso positivo de COVID-19.
Santa Cruz registou o seu primeiro caso positivo e, na segunda-feira, na conferência de imprensa diária, Artur Correia dizia que havia mais cinco casos suspeitos naquela localidade.
Entretanto, esta terça-feira, no boletim epidemiológico diário eram anunciados mais oito casos novos de infecção na capital e que uma das cinco amostras analisadas que tinham chegado de Santa Cruz tinha tido resultado negativo.
Praia, ah Praia
Na capital a COVID-19 não dá descanso.
Depois de três dias em manutenção, a máquina de testes do Laboratório de Virologia voltou ao activo e, como já foi dito, encontrou mais oito casos positivos dentro das amostras que analisou referentes ao dia 16 de Maio.
A capital concentra agora a quase totalidade dos casos registados a nível nacional. Activos estão registados 237 casos a que se juntam dois óbitos e 30 casos recuperados.
Vila Nova seguida da Ponta d’Água, Eugénio Lima, Achada Grande Frente, Achada Santo António e Cobom de Tira Chapéu são os bairros da Praia onde, até agora, se registaram mais casos de infecção.
Artur Correia, na conferência de imprensa de segunda-feira anunciou que nos bairros referenciados, as autoridades sanitárias pretendem reforçar a ofensiva com uma acção multissectorial, envolvendo o Ministério da Saúde, Protecção Civil, Militares, Cruz Vermelha, ONG e líderes locais, para reforçar a comunicação para a educação e a informação.
No dia em que este texto é escrito comemora-se o Dia da Cidade Praia. E da Presidência da República surge mais um apelo a todos quantos vivem na capital do país.
Numa mensagem alusiva ao dia do município da Praia o Chefe do Estado diz que, apesar de o município enfrentar um dos seus maiores desafios, a cidade não está enferma nem está moribunda. Aos praienses pede um pouco mais de esforço e paciência neste quarto período de estado de emergência.
“Apesar das interrogações e dúvidas que subsistem, da exposição das debilidades que ainda nos apoquentam e que afectam as camadas mais desprotegidas do nosso meio, temos motivos para estarmos satisfeitos”, lê-se na mensagem.
Contudo, continuou, é necessário convencer uma pequena parcela dos munícipes que ainda resiste a adoptar os procedimentos correctos, a mudar de conduta e a mudança de atitude “tem de ser imediata”.
Turismo
O regresso à normalidade vai ser feito de forma lenta e faseada, anunciou já por mais do que uma vez o governo.
O turismo, sector crucial para o PIB cabo-verdiano, vai ser alvo de um processo de certificação.
Isto é, diz o governo que hotéis e restaurantes, a nível nacional, vão ser obrigados a passar por processos de certificação das normas de prevenção da propagação da COVID-19, para competir pelos turistas que querem viajar “em segurança”.
O anúncio foi feito na passada quinta-feira. “De forma a garantir que aquele que nos visita nos próximos tempos tenha a coragem de vir e sinta-se confiante em visitar Cabo Verde. Por isso, já foi lançado um programa de segurança sanitária que passará, inevitavelmente, pela certificação de hotéis, de aeroportos, de restaurantes”, anunciou, no parlamento, o ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos.
De recordar que o turismo nacional tem acumulado perdas significativas por causa da pandemia da COVID-19. O país está fechado a ligações aéreas internacionais desde o passado dia 19 de Março.
Com 819 mil turistas em 2019, Cabo Verde tem o seu Produto Interno Bruto (PIB) dependente em 25% do turismo, mas o Governo já estimou que o país deverá receber menos 500 mil turistas em 2020, devido à pandemia, enfrentando uma recessão sem precedentes.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 964 de 20 de Maio de 2020.