Agricultura, seca, transportes, especialmente a Cabo Verde Airlines e, acima de tudo, a pandemia de COVID-19 foram os temas que dominaram o último debate do Estado da Nação desta legislatura.
Do lado do governo, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, defendeu que se assistiu a uma "tentativa de desvalorização de tudo o que foi feito de 2016 até hoje e a uma tentativa de branqueamento ao que foi feito antes".
Apontando que a situação actual vivida a nível mundial é difícil nos países desenvolvidos "como será nos países menos desenvolvidos?"
"Nós não estamos aqui para pintar o país de cores. Temos que reconhecer e falar a verdade. Governamos num contexto de três anos de seca severa, mas nunca encaramos este facto como desculpa nem como algo inultrapassável", destacou o primeiro-ministro.
Os investimentos em políticas sociais, saúde, educação, transportes "são evidencias" e acusou o PAICV de não aceitar as privatizações e concessões feitas na área dos transportes aéreos e marítimos por "xenofobia económica. A vossa reacção mostra que não querem estrangeiros junto com o Estado", criticou Ulisses Correia e Silva.
"Temos desafios, sim. E são cada vezes maiores. Num contexto de incerteza, com tendência de redução do Investimento Directo Estrangeiro, é aí que Cabo Verde tem de se posicionar" para fazer face à crise.
"Num contexto difícil a tendência progressista é aumentar os impostos, cortar nos salários e diminuir o Estado Social", disse ainda Ulisses Correia e Silva acrescentando que "não foi isso que fizemos".
O apoio às políticas do governo veio da bancada do MpD, através de Joana Rosa, líder parlamentar do MpD, criticou o facto de Janira Hopffer Almada ter rasgado o programa de governo durante o seu discurso de abertura do debate.
Continuando a criticar o discurso de Janira Hopffer Almada, Joana Rosa defendeu que o governo do PAICV, até 2016, foi quem "mais aumentou as desigualdades sociais, que deixou uma dívida pública enorme e que agora todos nós temos de pagar".
O governo actual, defendeu Joana Rosa, "foi quem, até hoje, mais fez por quem mais precisa". "Demos o exemplo de que somos capazes de enfrentar" as dificuldades que foram surgindo ao longo dos quatro anos de governação suportado pelo MpD.
"Queremos dizer aos cabo-verdianos para verem como estava a dinâmica de Cabo Verde até ao aparecimento da pandemia de COVID-19, disse ainda a líder da bancada do MpD.
Visão diferente têm os partidos da oposição.
O PAICV reprovou as políticas do governo. Rui Semedo, líder parlamentar do maior partido da oposição, defendeu que a maioria "se esforçou muito em tentar condicionar a oposição". "A forma como a oposição é tratada no parlamento não é uma forma respeitosa", acrescentou.
Quanto ao Estado da Nação, Rui Semedo defende que "o programa de governo do MpD também pifou, porque os pontos essenciais ficaram por cumprir". "Se analisarmos o Estado da Nação com sinceridade temos de dizer aos cabo-verdianos que ele não é bom. É impossível ignorar as dificuldades em as pessoas vivem actualmente", acrescentou.
"Como estamos não podemos ficar, estamos num ano em que vimos de três secas consecutivas e agora surge esta doença [COVID-19] que obrigou pessoas a viver de cestas básicas e da ajuda de pessoas amigas", disse o deputado do PAICV defendendo que é responsabilidade do governo e também de todos os deputados dar uma resposta cabal à crise.
Rui Semedo defendeu ainda que "não podemos dizer que está tudo bem às pessoas que perderam o emprego, não podemos dizer a quem viu o seu salário reduzido que estamos melhor hoje do que antes".
"Os cabo-verdianos continuam a acreditar no país, que dias melhores virão e num novo governo. Um governo mais solidário e que se preocupa em dar respostas claras e que sirvam as necessidades da população".
A terminar, Rui Semedo abordou a questão da Cabo Verde Airlines acusou o governo de estar a pagar mais de 600 mil dólares por mês por cada Boeing que opera na companhia aérea quando, em 2015, o Estado pagava cerca de 200 mil dólares pelo aluguer de cada Boeing ao serviço da TACV.
Já António Monteiro, presidente da UCID, teminou o debate dizendo que "se deixou passar muita coisa" durante este debate "temos de pensar rapidamente na diversificação da economia, temos pensar nos jovens que estão a ter problemas para continuar a estudar depois de os seus pais terem perdido os empregos por causa da pandemia de COVID-19".