Perpectivas para este mandato que agora começou?
O mandato, verdadeiramente, começou hoje [segunda-feira]. Antes da aprovação da aprovação da moção de confiança, como toda a gente sabe, o governo é um governo de gestão. Já a partir de hoje, com aprovação da moção de confiança, a governação torna-se efectiva e o primeiro-ministro e todo o seu elenco governamental já estão, portanto, investidos de poder para trabalhar na totalidade. O que é que vai ser esta governação? Em primeiro lugar, o governo tem de criar as condições para a retoma da nossa economia. Se não houver retoma da economia não haverá o bem-estar desejado das pessoas, não haverá aumento de emprego ou, se quisermos, não haverá a redução do desemprego que neste momento é grande por causa da pandemia. Daí que é fundamental a meta traçada pelo Governo da vacinação em massa. Esta é a primeira grande medida. Estamos satisfeitos que neste momento, segundo informações dadas pelo Primeiro-Ministro, estão vacinados cerca de 11 a 12% da população. Espera-se que no final de Agosto possam estar vacinadas 52% da população. Espera-se que nessa altura, em Julho ou Agosto, a população das ilhas de Boa Vista e Sal possam estar vacinadas na totalidade e que até final de Dezembro possam estar vacinadas 70% da população. Porquê Boa Vista e Sal? Razão simples, porque a nossa economia, como toda a gente sabe, está baseada no turismo e se a população dessas duas ilhas estiver vacinada quer dizer que o turismo pode regressar e regressando o turismo relançamos a nossa economia.
A pandemia veio mostrar que a dependência excessiva de apenas um sector é negativo.
Esta pandemia veio mostrar aquilo que infelizmente todos os cabo-verdianos já conheciam. E aqui é uma crítica a quem governa, porque também já foi feita aquando da governação do PAICV e agora é feita na governação do MpD. Temos que ser sérios e honestos ao encarar a situação. Cabo Verde é um país com parcos cursos. Quem vive em Cabo Verde, quem conhece Cabo Verde, sabe que nós não temos os recursos que gostaríamos de ter. Nós, praticamente ano sim, ano não temos secas severas. Quando nós somos fustigados por questões naturais que põem em causa a própria sobrevivência das pessoas, nós temos que trabalhar e olhar para aquilo que a natureza nos deu. Deu-nos sol, deu-nos praias e temos um clima bom, embora haja meses complicados. Mas no panorama geral, portanto, o nosso clima é o nosso petróleo que nos permite ter turismo. Mas temos, e o governo está a trabalhar nisso, de fazer de Cabo Verde um país resiliente e as medidas para isso vão ser tomadas. E aqui eu quero dizer que uma das grandes medidas que marca a diferença é o empréstimo que o governo conseguiu, em condições muito vantajosas, junto do governo húngaro, de 35 milhões de euros, que é para investir na dessalinização da água e no tratamento das águas residuais. Para não ficarmos eternamente dependentes das águas pluviais quando sabemos que nosso clima é tropical, e isso é grande ajuda, mas infelizmente para nós é tropical seco. E é claro se nós conseguimos vacinar as pessoas, se nós conseguirmos debelar a pandemia, obviamente, deverá vir a haver desenvolvimento e incremento da economia. E não vamos partir para essa retoma do zero graças ao trabalho que foi feito no mandato anterior que permitiu que, até 2019, a economia que antes crescia à volta de 1% passasse a crescer até 5,8%. A confiança que o Governo transmitiu aos investidores permitiu que muitos investimentos saíssem do papel e se tornassem realidade. Hoje, veja que há muito investimento em curso e é esse investimento que vai proporcionar que a retoma não se venha fazer a partir do zero. Se não estivéssemos estado a crescer até à volta dos 5,8 ou 6% no mandato anterior, os impactos da pandemia na vida social seriam muito mais intensos e hoje estaríamos numa situação muito mais complicada.
Falou-se, aqui na Assembleia, na possibilidade de se tomarem algumas medidas que permitiriam a criação de um grupo parlamentar da UCID. Isso implica alterações no Regimento da Assembleia Nacional, mas também alterações constitucionais. O MpD está disposto a avançar com uma revisão da Constituição que permita essa alteração?
O MpD está disposto a levar a cabo as reformas necessárias e a revisão da Constituição é uma reforma necessária como muitas outras que devem ser feitas. Nós queremos dialogar com todos, estamos disponíveis para dialogar com todos e fazemos disso a nossa bandeira. Precisamente porque sem o apoio dos nossos adversários políticos na Assembleia não é possível fazer grandes reformas, porque nós não temos a maioria necessária, a maioria qualificada. Temos maioria absoluta, que nos permite trabalhar, mas sem grandes reformas. Tudo estava a ir bem, mas, com toda a sinceridade, o encerramento do debate feito pelo deputado Rui Semedo, que agora é o presidente interino do PAICV, enfim, fez-me ficar alerta. Porque ele disse que tudo muda, o tempo muda, as pessoas mudam, mas o PAICV teimosamente mantém-se no mesmo registo. Esse registo, do encerramento do debate, é um registo que já todos nós conhecemos. Sabemos que não leva o PAICV a lado algum. Não creio que haja disponibilidade do PAICV para dialogar nem com o MpD nem com a UCID. Se não for possível, queremos que isto fique bem claro, o MpD está empenhado em criar as condições para a UCID poder fazer oposição com dignidade e respeito na diferença.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1020 de 16 de Junho de 2021.