A declaração foi feita hoje durante o balanço sobre o Estado da Nação que estará em debate na próxima semana.
Segundo o vice-presidente da direcção do grupo parlamentar do PAICV, António Fernandes, a educação em Cabo Verde enfrenta "momentos mais difíceis de sempre", com reflexos negativos evidentes.
"A degradação da qualidade de ensino está a ser sentida além-fronteiras. Por exemplo, em Portugal, a introdução do semestre de zero para estudantes cabo-verdianos demonstra a questão de qualidade que o sistema português percebe em relação ao nosso sistema educativo”, exemplificou.
Ainda neste sector, o deputado referiu às tensões laborais entre professores e o executivo, acusando o governo de retaliação ao levantar processos disciplinares contra cerca de 700 professores às suas reivindicações, que considera justas.
No que diz respeito à saúde, o PAICV também considera a situação crítica.
"Os profissionais de saúde enfrentam a falta de meios técnicos de diagnóstico e a ruptura permanente de medicamentos básicos no mercado. O aumento de pessoas na lista de espera e a saída massiva de pacientes para o exterior, especialmente para Dakar, evidenciam a incapacidade do governo em melhorar a capacidade de resposta”, disse.
O PAICV criticou ainda a ausência do prometido hospital de referência de Cabo Verde, que aliviaria a pressão sobre o sistema de evacuações médicas.
Economia e pobreza
António Fernandes argumentou que o crescimento económico reportado nas estatísticas não se reflecte na vida das famílias cabo-verdianas.
"Um crescimento da economia sem impacto no aumento do rendimento das famílias, sem criação líquida de postos de trabalho. Nota-se a saída desenfreada de pessoas, principalmente jovens, o que tem implicações nefastas no futuro”, prognosticou.
Conforme o PAICV, apesar das medidas para combater a pobreza extrema, a degradação do poder de compra da classe média tem levado ao aumento da pobreza geral.
Outra questão levantada pelo PAICV é a transparência na gestão pública, especificamente as recentes buscas judiciais em várias câmaras municipais por suspeitas de práticas ilícitas na gestão de fundos.
“Aquilo que se sente do ponto de vista das buscas judiciais em várias câmaras municipais do país tem a ver com suspeitas de práticas ilícitas na gestão de fundos que ocorreram ainda antes de 2020, 2017 a 2020, mas que, porque isso tivemos informações através dos relatórios, das inspecções geradas de finanças, o problema que deu, e a justiça está a investigar”.
“E vários dos actores implicados consideram que é um processo normal, mas na gestão do país há instrumentos de aferição, da transparência, a justiça quando entra é quando há indícios de atos ilegais ou criminais com consequências para o próprio país”, apontou.
António Fernandes criticou a perda de postos de trabalho desde 2016 e a falta de investimentos produtivos. Nesse sentido, afirmou que as pessoas não se sentem seguras e nem confiança no país.
“Chegando ao fim de mais um ano parlamentar, estamos a ver que a situação do país não é boa. Vendo pelas famílias, vendo pelas pessoas, vendo pela saída dos jovens, pelas convulsões sociais, nos transportes. Ora, isso tem a ver com um conjunto de opções, um conjunto de medidas que, ao longo dos anos, por não serem tomadas, acaba por convergir em resultados desastrosos”, concluiu.