Os efeitos da crise são mais persistentes que o esperado e as projecções do FMI foram revistas em baixa desde as estimativas de Julho, principalmente por causa de um recuo nas previsões para as economias avançadas – em parte devido a rupturas no abastecimento – e para os países em desenvolvimento de rendimento baixo – em grande medida devido ao agravamento da dinâmica da pandemia.
Apesar da recuperação económica global continuar, a desigualdade na recuperação prevista dos diversos grupos de economias aumentou. Com a flexibilização das restrições, a procura acelerou, mas a oferta tem reagido de forma mais lenta. Este é o momento da economia mundial e isso mesmo aparece reflectido nos indicadores económicos e financeiros publicados este mês pelo Banco de Cabo Verde.
O que nos mostra o documento? Que o enquadramento externo da economia nacional evoluiu menos favoravelmente no terceiro trimestre de 2021, com os desequilíbrios de oferta e procura relacionados com a pandemia e a reabertura da economia.
As economias da Área do Euro, dos EUA e do Reino Unido cresceram, no terceiro trimestre, a um ritmo inferior ao trimestre anterior. As interrupções nas cadeias de abastecimento e as restrições na oferta que condicionam a produção e o consumo, o aumento dos casos de covid-19 nos EUA, bem como o aumento dos preços no consumidor explicam a desaceleração no desempenho económico dos principais parceiros de Cabo Verde.
Devido a esta evolução económica mais recente, a confiança, tanto dos empresários como dos consumidores, dá sinais de alguma deterioração no terceiro trimestre, associada às preocupações com a escassez de produtos, com o aumento da inflação e queda da confiança nas políticas económicas dos governos, com as expectativas de aumentos nas taxas de juro com impacto no custo dos empréstimos e com o aumento das infecções por covid-19.
Os preços no consumidor e no produtor dos principais fornecedores do país continuaram a aumentar e as taxas de inflação homólogas subiram, em Outubro, na Área do Euro, EUA e Reino Unido. O preço médio do barril de brent, que serve de referência para o mercado cabo-verdiano, aumentou 97,6 por cento, em termos homólogos, em Outubro, fixando-se em cerca de 84 dólares (42 dólares de Outubro do ano passado), o valor mais alto desde Novembro de 2014.
O food price index da FAO aumentou 28,8 por cento desde o início do ano até finais de Outubro. A evolução recente dos preços dos alimentos é o resultado das pressões da procura global e de uma redução da produção devido a escassez de mão-de-obra e a questões sazonais.
Economia nacional
Em Cabo Verde, os indicadores disponíveis apontam para uma evolução menos favorável da economia nacional no terceiro trimestre. Se no segundo trimestre, de acordo com o INE, o PIB em volume cresceu 30,8 por cento, em termos homólogos, para o terceiro trimestre, os indicadores quantitativos acompanhados pelo Banco de Cabo Verde sugerem uma moderação no ritmo de crescimento da procura interna face ao segundo trimestre, relacionada sobretudo com a evolução menos favorável da formação bruta de capital fixo, conforme sugere a redução das importações de materiais de construção e equipamentos. O indicador de confiança no consumidor calculado pelo INE registou, no terceiro trimestre, uma inversão na sua trajectória ascendente dos últimos três trimestres, reflectindo a apreciação negativa da situação económica do lar e do país nos últimos 12 meses, bem como, das perspectivas para os próximos 12 meses, o que poderá impactar de alguma forma o consumo.
O indicador de clima económico, diz o BCV, aponta para uma contínua melhoria da confiança dos agentes económicos, devido ao aumento da confiança dos operadores do comércio, transportes, indústria transformadora e turismo, que contrasta, no entanto, com algum sentimento negativo por parte dos operadores da construção. Os empresários do sector da construção apontam a falta de materiais e as dificuldades na obtenção de crédito como os principais constrangimentos.
As pressões inflaccionistas no país aumentaram em Outubro, com as taxas de inflação homóloga e média anual a prosseguirem com as suas trajectórias crescentes, fixando-se em, respectivamente, 3,8 e 1,0 por cento, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas. Em Junho, estas taxas eram de 1,5 e 0,2 por cento, respectivamente.
O aumento dos preços, sobretudo, das classes de “Transportes”, “Habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis”, “Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas”, “Vestuário e calçado e “Acessórios para o lar, equipamento doméstico e manutenção corrente da habitação”, explicam o perfil crescente dos preços no consumidor.
Estas pressões inflaccionistas devem-se, em grande medida, à transmissão dos preços internacionais das matérias-primas energéticas aos preços internos, com a actualização em alta dos preços administrados de combustíveis (petróleo, gasóleo, gasolina e gás) que de Abril a Outubro já aumentaram, em média, 25,9 por cento em termos homólogos, bem como, dos preços da electricidade (por escalões) que subiram em Outubro, em média, 30,7 por cento. O aumento da inflação importada, bem como, da procura interna aliado a algum condicionamento na oferta de alguns produtos estarão igualmente, a explicar a evolução dos preços no consumidor.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1047 de 22 de Dezembro de 2021.