Começamos pelo inevitável: eleições autárquicas. A 1 de Dezembro, chamados às urnas, os eleitores escolheram e decidiram deixar quase tudo na mesma. Para a Câmara Municipal, o MpD foi o vencedor das eleições em São Vicente, com 41,4 % dos votos (11.390 votos), elegendo quatro vereadores. O PAICV recuperou o título de segunda força política, com 26,3%, resultantes de 7.232 votos, que lhe valeram três mandatos. A UCID foi relegada para a terceira posição, com dois vereadores, originados em 6.728 votos (24,5%). O grupo independente Soncent Katem Parada e o Movimento Autónomo São-Vicentino obtiveram 2% (542 votos) e 1,9% (511 votos), respectivamente.
Na Assembleia Municipal, a UCID (26,9%) fez melhor que o PAICV (25,3%), mas ambos o partidos elegeram o mesmo número de deputados (6). O MpD venceu, com 9 mandatos (40,3%). Foi precisamente neste órgão que, a 27 de Dezembro, se encerrou o ano político local, ao mesmo tempo que se iniciou um novo mandato autárquico.
Depois do recado dos eleitores – “entendam-se” – novas e velhas caras tomaram posse. Haverá adultos na sala? Pode ser que sim. Nos bastidores, MpD e PAICV chegaram a um consenso e elegeram à primeira os membros da mesa – o que parece ter surpreendido a UCID – dividindo as três cadeiras disponíveis. Pode querer dizer alguma coisa, mas também pode não querer dizer nada.
“Deixemos de lado as diferenças políticas e ideológicas, para nos unirmos em torno da urgente necessidade de melhorar as condições de vida da nossa gente. O nosso alvo maior é gerar emprego e renda”, declarou o reeleito e reempossado presidente da Câmara, Augusto Neves. É cedo para balanços, daqui até 2028 há muito caminho para andar.
Dois homicídios e uma operação em larga escala
Em Abril, Hélder Gomes foi morto a tiro ao sair do carro onde seguia com a família. 109 dias antes, ‘Cabeça’, como era conhecido, já havia sido alvo de um outro atentado, também a tiro, que resultou na morte de Ismael Gomes. Nessa altura, assistido no Hospital Baptista de Sousa, sobreviveu aos ferimentos (onde também foi assistida a sua esposa, igualmente baleada). A investigação da Polícia Judiciária (PJ) levou à detenção de três suspeitos.
Mas a principal acção policial na ilha aconteceu em Junho. Nessa altura, PJ, Polícia Nacional e Forças Armadas levaram a cabo a chamada “Operação Epicentro”, que na noite e madrugada de dia 8 cercou o bairro de Campim e se estendeu às zonas de Chã de Tiliza e encosta de João d’Évora, parando um dos “mais relevantes” (palavras das autoridades) circuitos de introdução de drogas em São Vicente. Foram então detidas seis pessoas.
A operação prosseguiu nos meses seguintes e já resultou no arresto de viaturas e imóveis, além de outras detenções.
Uma nova esquadra
Foi no quarto mês do ano que a Polícia Nacional passou a ter casa nova, com a inauguração das instalações no bairro de Monte Sossego, o mais populoso do Mindelo. Um projecto que decorreu ao longo dos últimos anos e um edifício construído de raiz que, além da esquadra local, passou a albergar a esquadra de Piquete, Direcção de Estrangeiros e Fronteiras e o Balcão Único. Foram investidos 80 mil contos.
“Um edifício multifunções, [com] valências próprias, específicas de uma unidade policial. Acreditamos ganhar em termos de eficiência, ganhar também em termos da qualidade do serviço”, disse na altura o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha.
Renováveis
Também em Abril foi lançada a primeira pedra do futuro parque fotovoltaico de Norte Baía. A unidade de cinco megawatts permitirá um aumento significativo de injecção de renováveis na rede, superior a 15% do consumo total. A capacidade instalada em São Vicente para produção de energia limpa ascenderá a 12 megawatts.
“Este projecto irá representar uma poupança de mais de 2.500 toneladas de combustíveis importados, uma poupança num valor superior a 250 mil contos anuais”, estimou o Ministro da Indústria, Comércio e Energia, Alexandre Monteiro.
M_EIA + UTA
Julho estava praticamente no fim quando finalmente aconteceu o há muito anunciado casamento entre o Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura (M_EIA) e a Universidade Técnica do Atlântico (UTA).
Ao comentar a integração, o reitor da UTA referiu a materialização de mais uma etapa prevista no processo de instalação da jovem universidade pública.
“Trata-se de um processo de integração que já leva algum tempo a ser trabalhado em cooperação. Todo o projecto científico, pedagógico, infra-estrutural, os orçamentos, [tudo] já foi entregue ao governo”, indicou João do Monte.
O M_EIA nasceu em 2004, resultado de 25 anos de trabalho da cooperativa Atelier Mar.
Novo ministro
Com Abrãao Vicente a arriscar outros voos políticos (a candidatura à Câmara da Praia), o Ministério do Mar passou a ter nova liderança. Em Agosto, Jorge Santos tornou-se o quarto titular da pasta, acumulando-a com as Comunidades.
Depois de tomar posse, o governante perspectivou um mandato de continuidade.
“Dar continuidade a toda uma política que tem sido evolutiva. Portanto, houve uma evolução da economia marítima para o Ministério do Mar e agora é dar continuidade, sempre crescendo e sempre fazendo o upgrade necessário para pôr o mar cada vez mais no centro das actividades e da vida económica nacional”, comentou.
Em jeito de adenda: um novo ministro foi pretexto para mexidas na orgânica do governo. A pasta dos transportes marítimos mudou-se da Av. Marginal para o Sal, passando a ser tutelada pelo ministério do Turismo… e Transportes.
40 anos de Baía
Nos quarenta anos (nascido a 1984), quatro dias de festival. A 15, 16, 17 e 18 de Agosto, o Baía das Gatas demonstrou por A+B a razão de ser considerado o maior da sua classe em Cabo Verde, sem sinais de qualquer crise de meia-idade. Gente, gente e mais gente, poeira, poeira e poeira para assinalar quatro décadas de evento.
Ivete Sangalo (I de II) foi figura de destaque, cabendo-lhe honras de abertura, numa pouco habitual quinta-feira. “Senti-me amada, que lugar tão lindo, mas o melhor daqui é o povo”, declarou. Ivete ama Soncent. Soncent ama Ivete.
Cães de rua
Antes que o festival acontecesse, outro tema havia dado que falar. Um problema de quatro patas. Um grupo de cidadãos denunciou a recolha arbitrária de cães de rua (alguns, aparentemente, com dono), transportados para um não-muito-adequado canil municipal. Em resposta, a Câmara Municipal disse que ‘sim senhor’, prometeu melhorar as condições do canil (na medida do possível), lembrou o problema existente na ilha e apelou a que cada um cuide dos seus patudos.
O envolvimento público de Ivete Sangalo (II de II) terá travado a medida.
Sem um plano a sério, a situação dos animais errantes (em tudo quanto é rua), essa, continua por resolver.
“Batalha naval” (alerta ironia)
O novo comandante da Esquadrilha Naval tomou posse em Outubro, no Comando da Guarda Costeira, em São Pedro. A mudança de protagonista deste ramo das Forças Armadas tem direito a dois parágrafos nesta retrospectiva pela simples razão de Kahbi Batista ter, na ocasião, sublinhado a necessidade de manutenção dos meios operacionais – uma daquelas constatações com a qual todos concordamos.
Destaque para a prometida “grande reparação” do navio Guardião, que desde há muito tempo a única coisa que guarda é o cais onde está parado.
30 edições de Mindelact
De 1 a 9 de Novembro decorreu a 30ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo. Mais de três dezenas de espectáculos pisaram os diferentes palcos do Mindelact, incluído o palco do Festival OFF, que regressou à programação. Cabo Verde, Portugal, Espanha, Brasil e Noruega foram os países representados. Esteve prevista a participação de um grupo de Moçambique, mas esta acabou por ser cancelada, que já na altura as coisas não andavam famosas por aquelas bandas.
“Dinamizar o teatro, não só aqui no Centro Cultural do Mindelo, mas também um pouco por toda a cidade, e dar acesso ao teatro a outras pessoas” foi o mote do Mindelact, conforme Yannick Fortes, novo presidente da Associação com o mesmo nome.
Falência e desespero
Não foi um ano fácil para os mais de 200 de trabalhadores da Atunlo, empresa de conservação e transformação de pescado instalada no Porto Grande. Em Fevereiro, perante as dificuldades da casa-mãe, em Espanha, foram colocados em lay-off e nunca mais regressaram ao activo, com muitas denúncias de incumprimento.
Em Novembro, os lesados saíram às ruas. Diana Lima falou em nome de muitos. “Sinto-me indignada. Não nos dão nenhuma satisfação, nem por consideração a todos os anos de serviço que temos aqui. Que nos digam o que vão fazer, para que nós também possamos saber o que fazer”.
Na sequência, o actual ministro do Mar garantiu ser do interesse do Governo a resolução da situação. “É algo urgente, porque estão em causa quase três centenas de empregos, de chefes de família que precisam de ver a sua situação regularizada”, concordou.
Antes, Jorge Santos já havia revelado que o executivo e a ENAPOR procuravam uma solução para a unidade industrial, que classificou de “útil e necessária”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1205 de 31 de Dezembro de 2024.