“O balanço dos 50 anos da independência é inequivocamente positivo e evidência um percurso de grandes conquistas. No entanto, a realidade de hoje é muito complexa e a conjuntura internacional é desafiadora, sendo a imprevisibilidade uma constante”, afirmou o Chefe de Estado, José Maria Neves.
Segundo o PR, é fundamental que o país se inspire na ousadia e visão dos antecessores para responder às exigências do presente e preparar o futuro.
Nesse sentido, indicou várias áreas prioritárias, entre as quais a diversificação económica, a transição energética, a coesão territorial, a transformação digital e a inclusão social.
“O futuro acena com novos desafios e oportunidades. A fragilidade estrutural da economia face a choques externos continua a representar um risco significativo”, alertou. Assim, sublinhou a elevada dependência do turismo e a necessidade de aposta em sectores de valor acrescentado, como a economia azul, as indústrias criativas e as tecnologias de informação.
Com a juventude a representar mais de 60% da população, o PR apontou o capital humano como um trunfo essencial para o desenvolvimento sustentável do país.
“O futuro de uma nação constrói-se com os seus jovens. Impõe-se a responsabilidade de gerar emprego digno, fomentar o espírito empreendedor e garantir uma formação profissional alinhada com as exigências de um mercado global em constante mutação”, defendeu.
José Maria Neves reafirmou que o progresso alcançado desde 1975 é fruto do esforço colectivo dos cabo-verdianos, tanto no país como na diáspora. Recordou de dificuldades extremas, com secas, fome e pobreza extrema, para evidenciar a transformação profunda vivida ao longo das últimas cinco décadas.
“São 50 anos de um percurso resiliente e inspirador. De ganhos incomensuráveis que nos trouxeram até aqui. Este Cabo Verde inteiro, as ilhas e a diáspora, tem contado sempre com o comprometimento cívico das suas filhas e dos seus filhos”, assinalou.
José Maria Neves apelou à sabedoria, à honestidade e à solidariedade como fundamentos para os próximos 50 anos de construção nacional.
PAN
Já o Presidente da Assembleia Nacional (PAN) disse que são indiscutíveis os ganhos que o país independente e democrático alcançou ao longo dos 50 anos. “Apesar dos ganhos, temos enormes desafios pela frente”, reconheceu.
Austelino Correia referiu que, mesmo perante as múltiplas crises internacionais, o país registou, em 2024, um crescimento económico de 7,3%, e prepara-se para entrar, a partir de 2026, no grupo de países de rendimento médio alto. “Motivo de orgulho, mas também de responsabilidade”, observou.
Na saúde, destacou a redução da mortalidade infantil e materna, a melhoria da esperança média de vida, que passou de menos de 60 anos, em 1975, para mais de 73 anos, em 2023, e a cobertura vacinal que se mantém acima dos 95%. Já no sector educativo, sublinhou a quase eliminação do analfabetismo, o acesso generalizado ao ensino básico e a expansão do ensino técnico e superior.
Contudo, Austelino Correia chamou a atenção para os problemas que persistem e carecem de intervenção estruturada e continuada.
Mencionou, entre outros, o défice habitacional, a qualidade do ensino superior, a questão da conectividade aérea e marítima entre as ilhas e os impactos da transição demográfica e epidemiológica.
“O país enfrenta uma dupla transição: o envelhecimento gradual da população e o crescimento da carga de doenças crónicas não transmissíveis”, advertiu.
Dessa forma, reforçou a necessidade de um Serviço Nacional de Saúde mais capacitado, com enfoque na prevenção, nos cuidados continuados e na sustentabilidade do sistema.
O PAN defendeu também que o combate à pobreza e ao desemprego, em particular entre os jovens, deve continuar a ser uma prioridade nacional. E apelou para que os transportes interilhas sejam encarados como “um desígnio nacional, e não como arma de ameaça política”.
MpD
Por sua vez, o líder parlamentar do MpD, Celso Ribeiro, reforçou que passados 50 anos da independência, ainda se justifica um pedido de desculpas por parte do Estado ao povo cabo-verdiano pelo regime autoritário instituído pelo PAIGC/CV.
“Em termos globais, é inegável que os resultados são francamente positivos em diversos domínios da nossa vida coletiva. No entanto, é legítimo reconhecer que poderíamos ter feito muito melhor, ter ido bem mais longe, não fossem os quinze anos de ditadura de partido único, mais centrada e preocupada com questões político-ideológicas do que com os imperativos de desenvolvimento humano, social e económico”, apontou.
Referiu, como exemplos, a proibição de manifestações, o assalto à Rádio Barlavento e a detenção arbitrária de dezenas de cidadãos cabo-verdianos em Dezembro de 1974, razão pela qual considerou que o país só começou a corrigir esse caminho em 1990, com a transição para o regime democrático.
“Ao contrário do processo de independência, que dividiu os cabo-verdianos, a democracia aproximou-nos e permitiu avanços duradouros”, considerou.
No plano económico, Celso Ribeiro salientou conquistas recentes, como a classificação de Cabo Verde como país de rendimento médio-alto pelo Banco Mundial, o crescimento económico de 7,3% em 2024, a inflação controlada em 1,7% e a taxa de desemprego mais baixa desde a independência, fixada em 8%.
Alertou, no entanto, para a persistência de desafios, nomeadamente as desigualdades sociais e a pobreza, e apelou ao Governo para continuar a apostar na inclusão, na coesão social e no desenvolvimento sustentável.
O deputado reconheceu que o sistema democrático cabo-verdiano é funcional, mas imperfeito, apontando a falta de diálogo político como uma das fragilidades. Nesse sentido, propôs a celebração de um acordo político global com as forças da oposição, nomeadamente o PAICV, para desbloquear a eleição de órgãos externos da Assembleia Nacional e outras matérias que exigem maioria qualificada.
PAICV
No seu discurso, o líder parlamentar do PAICV salientou que passados 50 anos da proclamação de independência nacional, o país venceu muitos desafios e que hoje é reconhecido como um país democrático, estável e comprometido com o progresso humano.
João Batista Pereira salientou que a paz, a coesão social e a estabilidade política têm sido os “pilares inabaláveis” do percurso cabo-verdiano e sustentam os avanços já registados, bem como os que continuam por concretizar.
“Estes três pilares são, quanto a nós, o fundamento indispensável do progresso, sobretudo em nações pequenas, com território disperso e vulneráveis às mudanças climáticas, como o caso de Cabo Verde”, disse.
Referindo-se ao legado das gerações anteriores, João Batista Pereira lembrou que a independência nacional foi o culminar de uma longa luta por justiça e dignidade e que hoje é tempo de olhar para o futuro com ambição.
“Confiamos que Cabo Verde tem tudo para dar um salto qualitativo nas próximas décadas”, declarou, acrescentando que “esse salto exige que a nova geração, cada vez mais informada e exigente, olhe para o presente com os olhos dos combatentes da independência”, discursou.
Para o deputado, a juventude cabo-verdiana tem um papel decisivo na construção de um país mais desenvolvido, próspero e justo.
“Só assim poderá ser ambiciosa, solidária e determinada na tarefa histórica de construir um Cabo Verde verdadeiramente desenvolvido”, apontou.
UCID
Por seu turno, o presidente da UCID, João Santos Luís, defendeu que o país precisa de uma reforma estrutural do Estado.
“Uma reforma corajosa, transformadora e realista. Descentralizar é respeitar. Um país que descentraliza é um país que confia no seu povo. Em pleno século XXI, não faz sentido que decisões que afectam Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista, Maio, Fogo, Brava e os municípios de Santiago sejam tomadas centralizadamente a partir da Praia”, discursou.
Segundo João Santos Luís, essa reforma deve ser acompanhada por uma aposta firme na eficácia das instituições de segurança e justiça, lembrando os novos desafios que o país enfrenta, desde o tráfico de droga até ao terrorismo.
No domínio da justiça, apontou a urgência de garantir “rapidez, imparcialidade e transparência”, colocando como prioridade o combate à impunidade, sobretudo nos crimes de corrupção e abuso de poder e chamou a atenção para as barreiras enfrentadas pelas populações mais vulneráveis no acesso à justiça.
Outro ponto central da sua intervenção foi a juventude, a quem, segundo disse, deve ser devolvida a confiança.
“A juventude não quer apenas oportunidades, quer confiança. Confiança para inovar, para errar e recomeçar. Para viver com liberdade e responsabilidade”, declarou. “É nosso dever garantir que nenhum jovem seja forçado a emigrar por falta de horizontes”, defendeu.
Também apelou à união nacional em torno das grandes questões do país, independentemente das diferenças partidárias, e defendeu um modelo de desenvolvimento centrado nas pessoas e no planeta, com investimento nas energias renováveis, economia azul, gestão sustentável da água e alimentação, indústrias criativas e serviços digitais.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1232 de 9 de Julho de 2025.