Em conversa com o Expresso das Ilhas, Paulino Dias explicou que são três as grandes motivações que o movem para avançar com esta candidatura a uma autarquia que está, há vários anos, nas mãos do MpD.
“A primeira é compreender que o modelo de gestão do município da Ribeira Grande, que se vem prolongando por mais ou menos 30 anos, já não está a dar resposta aos desafios que o município tem e que exigem novas abordagens de gestão, novas políticas, uma nova visão, uma nova forma de trabalhar as coisas”. Depois, prossegue Paulino Dias, está o facto de a sua candidatura acreditar que “é possível mobilizar uma equipa técnica, uma equipa de pessoas que efectivamente estejam mais comprometidas como município e não com agendas políticas partidárias. Pessoas que estejam dispostas até a fazer sacrifícios em nome do desenvolvimento do município”.
Por último, uma motivação pessoal. “A terceira é, também, um pouco pessoal. Eu estive sempre ligado a Ribeira Grande, venho cá com muita frequência apesar de estar há alguns anos a viver na Praia. Eu trabalhei aqui, tenho acompanhado, tenho feito muitas propostas em termos de medidas, iniciativas, projectos. Tanto ao governo como à autarquia. Entendemos que, não tendo havido um ambiente favorável para avançar com esses projectos, eu tenho uma certa responsabilidade pessoal de, pelo menos, submeter essas ideias ao escrutínio dos eleitores e ver se me dão essa confiança para implementar os projectos e essas ideias pessoalmente”.
Mudar é possível
Paulino Dias sabe que ganhar as eleições para a Câmara da Ribeira Grande de Santo Antão não se afigura “uma tarefa fácil. Naturalmente”.
“Não é fácil introduzir mudanças na forma de gestão de um município desta natureza. Esta estrutura já está consolidada e os processos de ajustamento exigem sempre um certo esforço, uma certa criatividade. Enfim, consome sempre alguma energia”.
Mas há aspectos positivos, assegura o candidato, que “tornam possível essa mudança”. “Um dos aspectos é que a autarquia tem uma equipa técnica que nós consideramos que é boa. Tem um corpo de colaboradores competente, mas que a nosso ver não tem tido a oportunidade de materializar toda essa competência e criatividade para resolver a maior parte dos problemas” que, no entender de Paulino Dias, afectam o município de Ribeira Grande.
“Daí que já ter um núcleo com as competências que consideramos adequadas já é uma condição favorável e que pode ajudar neste processo de mudança”, reforça.
Máquinas partidárias
Para Paulino Dias a reacção das pessoas “nas redes sociais ao anúncio da candidatura” tem sido de entusiasmo “tanto de pessoas da Ribeira Grande quer de outras pessoas que percebem que há uma grande probabilidade desta candidatura trazer resultados favoráveis para a população”.
“Há já um ano que estamos a trabalhar neste projecto”, explica Paulino Dias ao Expresso das Ilhas, “e neste primeiro ano passamos muito tempo a conversar com as pessoas de cá, aqui na Ribeira Grande mas também Praia, em São Vicente no Sal e também fora de Cabo Verde” e uma mensagem que foi quase comum a quase todas elas, garante, “é de uma certa vontade de mudança”.
Paulino Dias vai enfrentar nas autárquicas deste ano duas máquinas partidárias – MpD e PAICV – que já estão estabelecidas e ‘bem oleadas’ o que pode dificultar a vitória da sua candidatura. “Um primeiro ponto a sublinhar”, diz, é que “nós não desmerecemos nem minimizamos a importância dos partidos políticos. Eu tenho dito sempre isto. Os partidos políticos são importantes nas democracias representativas, mas o Código Eleitoral e a Constituição da República permitem que surjam grupos de cidadãos independentes a candidatar-se às eleições autárquicas. E eu entendo que sendo a Câmara Municipal a entidade do Estado que está mais próxima do cidadão e que por isso, é mais importante haver mais canais de aceitação de grupos independentes às eleições autárquicas”.
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Colocar “necessidades, interesses e expectativas acima das agendas partidárias”
No sábado, na conferência de imprensa em que apresentou a candidatura, Paulino Dias defendeu que o seu objectivo é conseguir um município “mais desenvolvido, sustentável e com melhor qualidade de vida para todos, independentemente da sua filiação ou simpatia partidária, idade, local de residência, condição social, credo religioso ou outro” é o que defende o grupo liderado por Paulino Dias.
É que, no entender de Paulino Dias “os cidadãos organizados em grupos independentes têm mais probabilidade de colocar as necessidades, interesses e expectativas dos munícipes efectivamente acima das agendas partidárias e de interesses pessoais garantindo maior eficiência, eficácia e qualidade na gestão dos municípios”.
Por isso, não quer o suporte de nenhum partido político e apenas pretende ter o suporte dos munícipes da Ribeira Grande porque, conforme disse, “a democracia não se realiza apenas através dos partidos políticos”, daí a opção de avançar para as eleições com uma candidatura “absolutamente independente”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 947 de 22 de Janeiro de 2020.