Posições expressas pelo PAICV e pela UCID, na noite de segunda-feira, durante o “Plenário” da Rádio Morabeza, programa de debate político para o qual o MpD não enviou representante. Numa espécie de antevisão do debate sobre o Estado da Nação, que acontece no final deste mês, na Assembleia Nacional, Nilton Silva, em representação do maior partido da oposição, fez a radiografia do sector da saúde.
“A nossa saúde em Cabo Verde, neste momento, está doente. Falando concretamente de São Vicente, hoje, no Hospital Baptista de Sousa, quase que as análises e outras formas de resposta na questão da saúde são quase inoperantes. Neste momento, quase toda a gente, tendo condições financeiras ou não, está a recorrer ao privado pela questão da celeridade, fiabilidade, mas também porque, muitas vezes, não há como fazer no Hospital Baptista de Sousa. Mas também há falta de médicos e enfermeiros. Por exemplo, São Vicente, neste momento, não tem um oftalmologista a trabalhar no Hospital Baptista de Sousa. Na pediatria, os médicos já vieram para a comunicação social pedir socorro porque o trabalho é demasiado, não há descanso. A radiografia é a mesma em todo o país”, refere.
A nível das infra-estruturas, Nilton Silva entende que a maternidade e a unidade de pediatria em construção em São Vicente são fundamentais para a ilha, mas é preciso avançar com as obras do centro ambulatório, com a construção do novo centro de saúde de Monte Sossego e um centro de cuidados para doentes mentais. O PAICV defende que são necessárias políticas para que a maior parte dos doentes seja tratada nas suas ilhas.
“Para que a saúde tenha um upgrade em Cabo Verde é preciso investir nas pessoas, nos recursos humanos, mas nas máquinas de diagnóstico. Mas é preciso investir também em métodos de diagnóstico e tratamento. Estou a pensar na questão renal, dos diabéticos, nas questões oncológicas, mas também para podermos diminuir as evacuações. Para isso também é preciso investir nos recursos humanos. Nas outras ilhas, é preciso levar os cuidados primários, cada vez mais especialidades e especialistas a essas ilhas, para que também possam diminuir a pressão, por exemplo, nas evacuações para São Vicente e para a cidade da Praia”, defende.
Do lado da UCID, Zilda Oliveira entende que não obstante os investimentos propalados e promessas, o sistema de saúde padece de inúmeros desafios. Para além da questão das infra-estruturas, a responsável partidária alerta para um défice de capacidade de diagnóstico e de médicos especialistas.
“As queixas são muitas, isso acaba por gerar uma sobrecarga e que pode trazer ou pode condicionar a qualidade de resposta no nosso sistema de saúde. Além disso, questões como equipamentos, materiais e consumíveis ainda são um problema na nossa realidade. Nós temos, por exemplo, tido déficit de medicamentos nas nossas farmácias, muitos medicamentos essenciais para doentes crónicos. Portanto, o nosso sistema ainda tem problemas que nós consideramos que são graves e que nós temos que criar capacidade de resolver”, aponta.
Zilda Oliveira aponta alguns projectos, já prometidos pelo Governo, que devem ser efectivados para melhorar as respostas em termos do sistema nacional de saúde.
“Posso referir, por exemplo, a criação do Instituto de Emergência Pré-Hospitalar - é algo que é extremamente necessário -, o Instituto de Sangue e Transplante, um sistema de informação sanitária, um corpo ativo de investigadores em saúde. Não é hábito, não é prática nós investigarmos. Nós, por exemplo, quando nós olharmos para a situação da diálise, a hemodiálise, aquilo que nós verificamos é que ao longo dos anos o número de pacientes tem vindo a aumentar, principalmente jovens. E quando falamos com o pessoal que faz esse serviço no HBS, dizem que muitos doentes são de Santo Antão. Há necessidade de nós investigarmos para perceber o que é que poderá estar por detrás”, defende.
A construção do Hospital Nacional de Cabo Verde, cujo projecto, orçado em 7,2 mil milhões de escudos, apresentado pelo Governo há cerca de três anos, é uma das infra-estruturas que a UCID considera prioritária para o país.