O PAICV conquistou 15 das 22 câmaras municipais invertendo o cenário que se tinha registado em 2020 quando o MpD conquistou 14 câmaras municipais.
Destaque para a vitória do PAICV em municípios como Santa Catarina (Santiago), Maio, Brava, Ribeira Brava, Santa Catarina do Fogo, Porto Novo e, com diferença de um voto, São Lourenço dos Órgãos, que até aqui eram dirigidos pelo MpD.
Na Praia, Francisco Carvalho foi reeleito com uma votação superior à que tinha conquistado em 2020.
No discurso de vitória, Francisco Carvalho avançou que é altura do seu partido “começar a preparar o futuro”. “Este resultado não se verifica só ao nível da Praia, mas é todo o quadro nacional que muda. Cabo Verde fica pintado de amarelo”, reforçou.
Do lado do MpD, Abraão Vicente, candidato derrotado à Câmara Municipal da Praia disse assumir “integralmente a responsabilidade pela derrota, não há mais comentários a fazer porque os resultados são eloquentes”.
Uma nova maioria autárquica
Ao todo foram oito os municípios que o PAICV conquistou e que antes eram dirigidos pelo MpD transformando assim o partido liderado por Rui Semedo no maior partido autárquico do país.
“Além das oito onde já estávamos, ganhámos mais seis”, destacou Rui Semedo que lembrou que os sinais de mudança a nível autárquico já se tinham começado a sentir em 2020, quando o PAICV passou de apenas duas câmaras municipais (Santa Cruz e Mosteiros) para oito.
Rui Semedo referiu que em termos de representatividade de votos, o principal partido da oposição parlamentar prepara-se para saltar “de 38% dos eleitores (…) para 68%”.
A vitória do PAICV nestas eleições vai traduzir-se, também, em mudança na liderança da Associação Nacional de Municípios.
O caso de São Vicente
São Vicente era um dos municípios onde as expectativas eram mais altas. A instabilidade constante vivida nos últimos quatro anos levantava a expectativa de que desta vez houvesse uma solução.
No entanto, tal acabou por não acontecer.
Augusto Neves venceu as eleições, mas novamente sem maioria. Na Câmara o MpD elegeu quatro vereadores contra os três do PAICV e dois da UCID. Já na Assembleia Municipal o MpD conquistou 9 mandatos enquanto PAICV e UCID conquistaram 6 mandatos cada o que volta a levantar o ‘fantasma’ da instabilidade na governação em São Vicente.
Maiorias qualificadas
Boa Vista, São Filipe, Mosteiros, Tarrafal, Santa Cruz, Praia e Sal são autarquias onde foram conquistadas maiorias qualificadas de dois terços.
Em todas as maiorias qualificadas registaram-se tanto na Câmara como na Assembleia Municipal. A excepção é a Praia onde Francisco Carvalho conquistou uma maioria qualificada para a Câmara Municipal, mas não na Assembleia Municipal uma vez que o MpD conquistou 34,2% dos votos para este órgão impedindo assim essa conquista por parte do PAICV.
Cenário idêntico no Sal, onde Júlio Lopes venceu a Câmara Municipal com maioria qualificada de dois terços (67,3% dos votos contra 21,8% do PAICV e 7% da UCID), mas não na Assembleia Municipal onde conquistou a maioria absoluta.
Em São Filipe, no Fogo, a lista liderada por Nuías Silva, do PAICV, venceu em 56 das 58 assembleias de voto.
Ao final da noite Nuías Silva declarava que os resultados são “sinal de que São Filipe está em boas mãos e que os sanfilipenses querem que continuemos São Filipe e hoje prometemos que vamos cumprir São Filipe com muito mais realizações”.
Na Boa Vista, Cláudio Mendonça também conseguiu uma maioria qualificada de dois terços na Câmara Municipal.
“O nosso é um projecto ganhador, retumbante, confiável que é capaz de satisfazer o povo da Boa Vista, por isso hoje temos todo esse povo connosco para mostrar aos que têm uma narrativa de ideias na nuvem, que Boa Vista é pé no chão”, afirmou Cláudio Mendonça.
Na Assembleia Municipal o PAICV conquistou a maioria absoluta.
Queda de bastiões
Numa noite que alterou o cenário político a nível autárquico, há a destacar a conquista, por parte do PAICV, de algumas autarquias que estavam em mão do MpD e que eram consideradas verdadeiros bastiões do partido que sustenta o governo.
Desde logo salta à vista a Câmara Municipal do Maio que, desde sempre governada pelo MpD, passa agora para as mãos do PAICV.
Miguel Rosa, autarca do Maio que em 2020 tinha ganho as eleições com maioria qualificada foi derrotado por Rely Brito, do PAICV.
“Na democracia, o povo é quem decide. Na escolha deste domingo, livre e democrática, entre a nossa proposta de continuar a transformação da nossa ilha e a da candidatura adversária, os maienses fizeram a sua escolha. Temos de respeitar. Não há subterfúgios face a uma decisão soberana do povo. Quero, assim, nesta ocasião felicitar o novo presidente e sua equipa, e desejar sucesso na missão de liderar a ilha nos próximos 4 anos”, declarou Miguel Rosa, candidato do MpD após a derrota na eleição de domingo.
Também na Brava, dirigida pelo MpD há vários mandatos, houve mudança. O PAICV conquistou a Câmara Municipal, mas não a Assembleia Municipal onde o MpD foi o mais votado e conquistou 7 dos 13 mandatos para deputados municipais.
Abstenção sobe
Último destaque para o crescimento continuado da abstenção.
Segundo dados divulgados na noite eleitoral, a abstenção nestas autárquicas terá atingido os 50%, um crescimento relativamente a 2020 quando, a nível nacional, 41,6% dos eleitores optou por não ir às urnas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1201 de 04 de Dezembro de 2024.