Na abertura do debate com o primeiro-ministro, sobre os desafios de Cabo Verde face às mudanças climáticas e aos choques externos, o PAICV acusou o governo de falhar na estratégia de minimização dos efeitos da seca e alertou que os impactos negativos já afectam as populações mais vulneráveis.
Posição defendida pela deputada e líder partidária, Janira Hopffer Almada, que recordou que o país é ecologicamente frágil mas que os efeitos das mudanças climáticas podem ser atenuados.
“É que o país está a enfrentar o terceiro ano de seca consecutiva e desde de 2018 enfrenta o risco de segurança alimentar, em particular no mundo rural, sem que o governo tenha conseguido acudir às famílias cabo-verdianas. As Nações Unidas já disseram que, em 2018, 13% da população cabo-verdiana foi afectada pela fome”, aponta.
A parlamentar questiona o que classifica de “falhado plano mitigação dos efeitos das secas”, e reafirma a necessidade de revisão do programa.
“É preciso rever as políticas nacionais em matéria de luta contra a seca e que claramente não têm dado os resultados pretendidos. É chegado o momento de passarmos da gestão de crise à preparação para as secas, introduzindo mudanças que reforçam a capacidade de resiliência e adaptação das populações às situações futuras", diz.
Por seu lado, o MpD afirma que o governo reconhece a vulnerabilidade da economia a choques externos.
Rui Figueiredo Soares, líder da bancada, assegura que o governo tem dado atenção especial ao problema, exemplificando com os recentes dados do INE que apontam para o crescimento económico.
“Não obstante, a economia cabo-verdiana permanece grandemente vulnerável a choques externos devido a factores conhecidos. O governo não está à espera que a situação se degrade, pelo contrário, tem dado uma particular atenção ao problema, colocando-o no centro da sua atenção”, indica.
O deputado destaca a necessidade de Cabo Verde “vencer as vulnerabilidades, a dependência externa, combater a pobreza e a desigualdade na defesa do presente e do futuro do país”.
As projecções climáticas da ONU para Cabo Verde apontam para um futuro mais quente e seco. Os modelos do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (PIAC) prevêem um aumento nas temperaturas médias de até 2,5°C para a região do Atlântico tropical oriental e uma diminuição da humidade e precipitação de 5 a 10% por ano.
A previsão é que as secas generalizadas condicionem o desenvolvimento.
Neste sentido, a UCID, através do deputado António Monteiro, lembra que as mudanças climáticas exigem uma nova forma de pensar o desenvolvimento.
“Cabo verde não tem nenhum impacto a nível dos três mil gigatons de dióxido de carbono que são lançados na atmosfera todos os anos. O nosso impacto é reduzido mas não é por causa disso que vamos amarrar os braços. Achamos que Cabo Verde deve ter uma atitude pro-activa para poder influenciar pela positiva”, alerta.
Cabo Verde está incluído numa lista de 41 países que, segundo a FAO, precisam de ajuda alimentar.Segundo a agência da ONU, no arquipélago 2% da população está em situação de crise alimentar.
Ulisses garante estratégia para aumentar resiliência do país
O Governo reafirma que tem uma agenda e uma estratégia de médio e longo prazo para aumentar a resiliência do país, adaptação aos choques externos e às mudanças climáticas. Segundo o primeiro-ministro, as medidas estão alinhadas com os compromissos internacionais, disse hoje o chefe do Governo, no Parlamento.