A sessão solene, no Salão Nobre da Assembleia Nacional, estava quase para começar quando do exterior se começaram a ouvir gritos e palavras de ordem. Lá fora, controlado de perto pela Polícia, um grupo de cidadãos manifestava-se contra o Governo.
No interior, António Monteiro, presidente da UCID, foi o primeiro a discursar e apontou o 5 de Julho como a "data maior" da história cabo-verdiana, para de seguida enaltecer e agradecer à comunidade internacional pela cooperação com Cabo Verde, ao longo destes 43 anos de história. No entanto, alertou o presidente da UCID, apesar das ajudas externas, "tem sido gigantesco o sacrifício do cidadão cabo-verdiano".
A concluir, críticas à política do governo que, segundo Monteiro, continua a “construir castelos de loucura quando devíamos apostar na infraestruturação do país".
A Presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, subiu de seguida ao palco.
"Sabemos o quanto custou chegar a 5 de Julho de 1975", começou por referir para de seguida honrar os combatentes da liberdade da Pátria e Amilcar Cabral que "sem poder ver a independência, acreditou nela como ninguém".
De seguida, Janira Hopffer Almada alertou para "factos graves que acontecem no país" e defendeu que este é o momento de” lembrarmos alguns acontecimentos que preocupam a todos", como a perda de vidas humanas "porque às pessoas não são prestados socorros a tempo" e atacou o governo responsabilizando-o pelo que diz serem "violações de Direitos Humanos".
Segurança e tranquilidade públicas fizeram, também, parte do discurso da líder do maior partido da oposição que agradeceu às redes sociais por divulgar casos de criminalidade que, diz, “não passam na comunicação social pública”.
"Reafirmar a independência é valorizar os 43 anos como país independente e ter em conta que o caminho a percorrer ainda é muito mais longo, quiçá mais difícil para ser poder consolidar, definitivamente, os baluartes da Nação", concluiu a líder do PAICV.
Uma posição diferente teve Rui Figueiredo Soares. O líder parlamentar do MpD lembrou que "celebramos hoje com merecido orgulho os 43 anos da nossa independência", para de seguida apontar para o futuro: "Este é um tempo de novas oportunidades que não podem ser desperdiçadas".
"Temos de continuar a investir fortemente para conseguirmos levar a cabo os nossos programas", acrescentou ainda o presidente do grupo parlamentar do MpD.
De seguida, Figueiredo Soares, sem definir a quem era enviado o recado, criticou a oposição, que acusou de estar a ceder a demagogias e populismos.
A terminar, Figueiredo Soares apelou a uma maior proximidade entre políticos e sociedade civil e também para a necessidade de reformas que consolidem o regime democrático em Cabo Verde.
Seguiu-se o Presidente da Assembleia Nacional. Jorge Santos destacou que o "5 de Julho é, inegavelmente, um património de todos os cabo-verdianos, de todos os credos, partidos e proveniências sociais e regionais", defende o Presidente da Assembleia Nacional no seu discurso. "O 5 de Julho é uma construção permanente", reforçou apelando de seguida para que cada 5 de Julho se torne num momento de reflexão "sobre o percurso realizado".
Espaço ainda para um apelo do Presidente da Assembleia Nacional para uma maior integração regional na CEDEAO e na Macaronésia.
Por último, o Presidente da República, que começou o seu discurso recordando que "hoje honramos os que, em circunstâncias particularmente difíceis, deram tudo para que a utopia se tornasse realidade". 5 de Julho "motivo de festa, de muita alegria, que as atribulações e indagações de um mundo cada vez mais complexo e desafiador não podem obscurecer", acrescentou ainda.
Apontando que "não faltam, por esse mundo fora elogios à democracia cabo-verdiana", o Presidente da República, alertou igualmente para a percepção "crítica" que os cabo-verdianos, "os maiores críticos da sua democracia", tem do sistema político actual e dizendo que como Presidente da República tem "a obrigação moral e política de alertar os cabo-verdianos dizendo que a democracia é um modelo de regime que, por si só, não tem a virtualidade de assegurar o desenvolvimento do país e constituir solução para os problemas de um país pobre".
A cimeira da CPLP que se realiza este mês no Sal e onde Cabo Verde assumirá a presidência da comunidade para os próximos dois anos foi também referida por Jorge Carlos Fonseca que prometeu, como já o tinha feito anteriormente, lutar pela livre circulação de pessoas e bens dentro do espaço da comunidade lusófona. Em jeito de conclusão, o Presidente da República defendeu igualmente que Cabo Verde, no plano internacional, tem de ser um país capaz de intensificar as suas relações com outros países do mundo sem estar preso ao que designa como âncoras.